“Sou uma pessoa que respeita e acredita nesse movimento, que na minha opinião está conseguindo mais até do que se imaginava”, disse o cantor e compositor Xangai ao Brasil de Fato, minutos depois de descer do palco no primeiro dia da Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo. Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o evento começou nesta quinta-feira (8) no Parque da Água Branca, em São Paulo, e segue até domingo (11).
“É o povo querendo sair dos lugares onde os escravagistas, os arquimilionários – que às vezes não batem um prego numa barra de sabão – querem que estejam. E perseguem. Claro, não querem largar o osso nunca. Então fiquei encantado, a feira linda. Aqui está o que produz o nosso povo, que merece respeito”, defendeu Xangai, que se apresentou antes do também violeiro Almir Sater.

Em sua quinta edição, a Feira reúne agricultores de 23 estados e do Distrito Federal, com o intuito de mostrar e oferecer, na prática, aquilo que pode ser produzido a partir da reforma agrária. São 500 toneladas de alimentos saudáveis e 1,8 mil tipos de produtos. De acordo com o MST, a ideia é apresentar à população “os frutos da luta pela terra e a viabilidade do projeto de reforma agrária popular para enfrentar a fome, o alto preço dos alimentos, além da crise ambiental e o modelo de morte do agronegócio”.
“Para ter feira, é preciso ter assentamento. E para ter assentamento, é preciso ter ocupação”, ressaltou Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, no ato político que abriu o evento.
“O MST se fez porque estabeleceu com muita clareza desde os seus primórdios que devia lutar pela terra, pela reforma agrária e por transformação social. Se quiser, pelo socialismo”, descreveu Gilmar Mauro.
“De que nós faríamos luta e luta de massas. Não porque a gente acha bonito fazer ocupação, embora tenha beleza e ludicidade nas nossas lutas”, seguiu o porta-voz do movimento: “Mas é porque é a única linguagem que a classe dominante escravocrata entende nesse país”.
Entre o repertório apresentado, Xangai cantou “Matança”, gravada em 1984, ano de fundação do MST. Já naquela época, a canção denunciava o desmatamento. “Quem hoje é vivo corre perigo / E os inimigos do verde dá sombra ao ar / Que se respira e a clorofila / Das matas virgens destruídas vão lembrar”, diz a composição de Augusto Jatobá. Passados cerca de 40 anos, o artista considera a música ainda mais atual.
“Metem os tratores e o correntão, vão destruindo. Os sem-terra não precisam fazer isso. É pequena produção e sobra, tem para todo mundo. Os mega miliardários metem o correntão, não respeitam. Acabou. Vai ver se acha um lobo guará. Pequi é uma raridade. Andiroba. Um amigo que foi lá em [Vitória da] Conquista me ver, falou ‘Xangai, é só soja e milho’. Isso aí é uma coisa altamente escandalosa e danosa para a realidade da natureza. É o que eu sempre cantei e gosto de fazer”, declarou Xangai.
“Sou uma pessoa que procuro compreender não só a minha necessidade. A necessidade do nosso povo todo. Que é muito fácil artistas que usam chapéu de caubói e que não dizem nada, que só falam porcaria. Mas existem os artistas verdadeiros. Estou com um aqui no peito”, sorriu Xangai, mostrando a camiseta de Gilberto Gil.
“No meu repertório eu não tenho o direito de cantar porcaria. É meu dever mostrar o que de melhor têm dentro da poesia, da musicalidade, da novidade. A mesmice não me interessa”, salientou. Eu quero ver quem respeita o povo, quem gosta do povo, que faz pelo povo que o povo merece”, afirmou Xangai.
Na sexta (9), a programação segue cheia, confira aqui. Além de oficinas, seminários e saraus, haverá shows de Teresa Cristina e de Djonga.