O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao fim da sua viagem a Moscou, criticou neste sábado (10) o plano de rearmamento da União Europeia (UE), afirmando que os gastos de defesa dos países europeus deveriam ser destinados ao combate da fome no mundo.
“A Europa está voltando a se armar por medo de guerra, o que é uma loucura. A Inglaterra está voltando a se armar. O Japão está voltando a se armar. Ou seja, estarmos gastando trilhões de dólares com armas quando o mundo está precisando que a gente gaste trilhões de dólares com educação, com saúde e com comida para o povo que está passando fome. É esse mundo que a gente quer construir”, afirmou Lula.
O presidente veio à Rússia para participar das comemorações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. A agenda do líder petista contou com um jantar oferecido pelo presidente russo, Vladimir Putin, aos chefes de Estado e governo; a participação no desfile militar do Dia da Vitória na Praça Vermelha e duas reuniões bilaterais: uma com Putin, outra com o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico. O Itamaraty já havia antecipado anteriormente que um dos objetivos da viagem seria reforçar a independência da política externa do Brasil.
Lula também reiterou a posição do Brasil em relação à guerra da Ucrânia, condenando a intervenção da Rússia e se colocando à disposição de participar da mediação do conflito.
“Nós dissemos ao presidente Putin o que a gente vem dizendo desde que começou esta guerra. A posição de que o Brasil é contra a ocupação territorial de outro país”, disse Lula em coletiva de imprensa antes de viajar para a China, onde cumpre agenda em 12 e 13 de maio.
“O Brasil faz parte de um grupo de países que, junto com a China, criou um grupo de amigos que são três países emergentes. E eu disse ao presidente Putin que nós estamos dispostos a ajudar na negociação desde que os dois países que se enfrentam queiram que a gente possa participar de negociação. O Brasil acha que é uma loucura ficar incentivando essa guerra, que é uma loucura”, declarou Lula neste sábado.
Ao falar sobre as motivações do Brasil em realizar a visita à Rússia durante as comemorações do Dia da Vitória, Lula foi categórico: defender o fortalecimento do multilateralismo.
“Fiz questão de vir aqui para dizer que o Brasil está defendendo o fortalecimento do multilateralismo. Não é possível que a gente não tenha aprendido a lição com a importância do que foi o multilateralismo depois da Segunda Guerra Mundial. Ou seja, humanizou o comércio dos países e das nações”, disse o presidente.
“A posição do Brasil é muito, muito sólida. Independente de eu ter vindo aqui, independente de eu ter vindo à China, independente de eu ter vindo a qualquer país, a nossa posição continua a mesma com aquilo que a gente pensa sobre a guerra da Ucrânia: ‘Nós queremos paz’. E discutimos ontem com o presidente Putin que nós queremos paz”, completou.
Lula destaca comemorações do Dia da Vitória
O presidente Lula também comentou sobre a comemoração dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial e sobre o peso histórico que a data tem no país.
“Esse é um país que, de todos que participaram com os aliados, foi o que mais perdeu gente. Esse país perdeu praticamente 26 milhões de pessoas. Esse país chegou num momento em que a população, a juventude, praticamente estava dizimada pela Segunda Guerra Mundial. E eu vim ver o que é uma festa muito importante”, disse.
O presidente brasileiro fez questão de ressaltar a importância desta data histórica para os russos, observando que a comemoração do Dia da Vitória vai muito além do desfile militar na Praça Vermelha.
“Tem gente que acha que a festa aqui na Rússia é só o desfile de ontem. Ontem foi um desfile para as autoridades, mas o dia da vitória é comemorado em todo o território russo. E foi uma grande festa. Eu acho que, sinceramente, todos nós precisamos ter consciência de que a gente não pode nunca mais permitir que coisas como o nazismo voltem a acontecer no planeta Terra. Nem na guerra e muito menos na política, que nós estamos vendo crescer em uma parte do mundo”, completou o presidente.
O líder brasileiro acompanhou a parada militar do 9 de Maio, ao lado da primeira-dama Janja. Membros da delegação brasileira como o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, o chanceler Mauro Vieira e a ministra Luciana Santos também assistiram ao desfile.