Resultado de uma parceria entre os dois países, o Brasil é o homenageado na edição deste ano do festival de Cannes, na França. A mostra que começou esta semana se encerra no dia 24, quando será entregue a principal premiação, a Palma de Ouro, em que o longa Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, concorre.
Até lá, durante a conferência Marché du Film, mesas de debates promovidas por organizações brasileiras propõem discussões sobre o mercado cinematográfico brasileiro e a relação com o exterior. Fernanda Lomba, da entidade Nicho 54, é a realizadora do encontro Vozes da maioria no cinema: os 54% negros do Brasil não podem esperar, que põe em pauta o racismo no setor das produções nacionais.
“Vamos trazer dados mais recentes que contradizem essa atmosfera de progresso e de evolução. Ela não se verifica nos números, ela não se verifica nas evidências”, comenta Lomba, diretamente de Cannes, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta quinta-feira (15).
“Eu não sou uma entusiasta desse discurso do progresso, do avanço, eu acho que tem uma absorção publicitária, uma absorção midiática do que se quer dizer com diversidade hoje.”
Na entrevista, Lomba defende que o país tem repetido políticas de administração do fomento ao cinema que acabam concentrando os recursos nas empresas de sempre, localizadas na região Sudeste.
No entanto, ela comenta com entusiasmo o sucesso de Ainda Estou Aqui e que o sucesso do filme pode ser capaz de mudar essa lógica.
Confira a entrevista na íntegra
Conta um pouco como tá o clima em Cannes?
É bastante excitante a presença brasileira. Num país como a França, com que a gente tem proximidades, mas também muitas distâncias, eu, pelo menos, percebo essa energia brasileira tomando conta do Palais [principal local onde ocorre o festival].
Nós estamos aqui esse ano com uma representação brasileira, em termos de profissionais da indústria, recorde. O número que escutei é de quase 500 brasileiros.
Eu participo do festival já há quatro anos, então eu tenho um bom comparativo em relação a outros países, outras edições que tiveram países também nesse destaque como país de honra, e o que eu posso observar é que, do ponto de vista de envelopamento do evento, do espaço em si, da marca Brasil, eu esperava um pouquinho mais.
Eu esperava a gente ter mais brasilidade, brincar um pouco até mesmo com as cores e com o símbolo da nossa bandeira, da nossa cultura. Por um lado, a presença dos brasileiro tem abrilhantado o evento, mas no visual do evento em si eu esperava mais.
Explica qual é a proposta da sua mesa?
O principal motivo é ampliar a discussão racial no cinema para além do que acontece dentro do Brasil e gerar uma conexão com a comunidade internacional. Compartilhar um retrato mais atual do que a gente visualiza, do que a gente vê quando fala-se de nós, pessoas pretas que trabalhamos com cinema, do que a gente enfrenta no nosso dia a dia.
Esse é primeiro desejo, de romper as fronteiras e ter uma conexão, uma proximidade com a diáspora africana no mundo como um todo.
E também buscar apoio, por exemplo, institucional de atividades de intercâmbio, de troca com outros territórios, com outras realidades, tendo em vista que o Brasil tem uma postura muito tacanha e muitas vezes conservadora em relação à promoção dos direitos para a comunidade negra que trabalha com o cinema.
O cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo defende que o audiovisual é o segmento mais racista da cultura brasileira, você concorda?
Concordo bastante , aliás, Joel é um amigo querido. Joel tem uma perspectiva muito rica, sobretudo por estar atuando já há algumas décadas, então tem uma perspectiva de um Brasil do passado e de um Brasil do presente.
Para endossar mesmo esse pensamento que ele trouxe, tem também as informações mais recentes que contradizem essa atmosfera de progresso e de evolução. Ela não se verifica nos números, ela não se verifica nas evidências. É muito nítido que esse progresso não se verifica num lugar muito vital para a produção de cinema, de audiovisual, que é o lugar financeiro, que é o lugar do investimento.
Então, nesse sentido, não há nenhum avanço, muito pelo contrário. O que nós estamos vivendo hoje, em um governo que se propõe a ser progressista, é uma perspectiva de retrocesso em relação a algumas conquistas ou até mesmo algumas pautas que foram levantadas pelos movimentos negros em diversas temáticas, não só na área de cinema.
Por exemplo, um dado que já é conhecido pelo campo, que é uma pesquisa da Ancine [Agência Nacional de Cinema], feita em 2018. Essa pesquisa foi a primeira racializada pela agência, quando se buscou saber qual era a representatividade nos filmes lançados.
É uma pesquisa que mensurou os filmes lançados em 2016 e nesse conjunto de filmes o que se tem é um número de 0% de cineastas negras, mulheres negras na posição de roteiro ou direção.
Isso para 2016 já é muito pornográfico, porque o Joel vem de um tempo anterior onde esses assuntos já eram debatidos, já deveria ter sido vista alguma transformação.
E aí tem uma questão curiosa, que é o fato de que essa pesquisa nunca voltou a ser atualizada. A gente está agora há dez anos praticamente sem novos dados e seria muito interessante a gente revisitar para entender para onde nós fomos. Na minha perspectiva, me faz saber que a gente avançou para, no máximo 0,5%.
Eu não sou uma entusiasta desse discurso do progresso, do avanço, eu acho que tem uma absorção publicitária, uma absorção midiática do que se quer dizer com diversidade hoje. Como se a gente tivesse avançado, mas isso para mim não passa de discurso.
Explique mais sobre por que você não vê progresso mesmo com a retoma de políticas de fomento ao setor.
O Brasil adota um sistema do investimento público, que não é o único modelo que existe, que é alvo de crítica por diversas organizações do campo. É um sistema que favorece grandes empresas produtoras e também a concentração de recursos, sobretudo na região Sudeste. O tema de descentralizar as tomadas de decisão de investimento é um assunto antigo, é um assunto que já poderia estar superado.
As corporações que concentram os recursos destinados são empresas de um grande capital e que permanecem tendo um lugar cativo no investimento público, tanto via os editais, mas sobretudo na própria Ancine por conta da alta pontuação que acumulam.
É um sistema que cria um vício de quais são as empresas que receberão esse investimento público e aí isso é um super problema para a comunidade, porque a gente vem de defasagens históricas.
A história da comunidade preta nesse país é de uma profunda tecnologia de sobrevivência, essa é a verdade. Sobrevivemos a toda tentativa de morte e continuamos a sobreviver a tentativas diárias.
E você acredita que o sucesso de Ainda Estou Aqui pode ser capaz de mudar esse cenário?
O que nós vivemos com Ainda Estou Aqui foi histórico e traz um eco nos próximos anos, sem dúvida.
Para mim, agora, em uma perspectiva mais criativa, eu vejo esse feito como uma chance, uma oportunidade de um renascimento do cinema brasileiro num contexto internacional.
Então, por exemplo, uma situação como a que eu estou vivendo aqui em Cannes já é um efeito imediato do Ainda Estou Aqui.
Ele traz uma atenção para o país, que ela é muito bem-vinda, para quem, sobretudo, estiver preparado para saber trabalhar com as oportunidades que se abrirão.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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