O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não agiu com real interesse na proteção dos moradores da Favela do Moinho, no centro da capital paulista, ao fechar com o governo federal o novo acordo de habitação para o local, segundo o cientista político Paulo Niccoli Ramirez. Para ele, o gestor apenas “surfou na onda” da intervenção da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu o controle do caso e passou a oferecer um auxílio considerado mais justo às famílias após violência policial contra a comunidade.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Ramirez destaca que a ação truculenta da Polícia Militar do estado faz parte de uma estratégia de gentrificação para expulsar moradores pobres do centro da cidade, beneficiando grupos imobiliários. O terreno é da União, que concordou em cedê-lo ao governo estadual após a garantia de moradia digna a todas as 800 famílias do local, que estão sendo desalojadas. No entanto, a gestão paulista vinha descumprindo o acordo e reprimindo a população à força para “desvalorizar a região e permitir empreendimentos superfaturados”.
“O governador surfou na onda. Se ele realmente tivesse algum interesse em preservar a dignidade humana dos moradores da Favela do Moinho, a polícia sequer teria entrado ali da maneira que entrou”, afirma Ramirez. “Tarcísio apenas agiu conforme a pressão pública porque vários meios de comunicação, inclusive grandes, como a emissora Globo, estavam transmitindo ou fazendo inúmeras referências a este acontecimento. […] A polícia só não agiu hoje de forma repressiva porque estava ao vivo”, observa.
O professor alerta que a situação no Moinho é um exemplo do que acontece em várias comunidades vulneráveis de São Paulo, onde o estado atua para proteger interesses econômicos, e não a população pobre. “A polícia do estado de São Paulo não passa de um escudo burguês que serve aos interesses das classes economicamente dominantes”, denuncia.
Ele ressalta que tanto Tarcísio quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado, seguem uma agenda neoliberal, que recusa a intervenção estatal em políticas sociais. “São políticos que foram eleitos a partir de um discurso neoliberal, e o que caracteriza o neoliberalismo é a recusa da ação do Estado numa intervenção de qualidade de vida da população, ou seja, na saúde, educação, moradia, direitos trabalhistas…”, explica.
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