A Polícia Militar (PM) matou um jovem de 19 anos na noite deste domingo (18) na Vila Andrade, zona Sul de São Paulo (SP). Natanael Venâncio Almeida foi morto dentro de casa e na frente de sua mãe, Maria Bethânia Venâncio. Ele deixou uma filha pequena.
Segundo a família, ele teria fugido de uma abordagem da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) com medo de perder a moto, já que estava sem capacete e sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A moto foi comprada com a ajuda da mãe para trabalhar como entregador.
“Meu filho foi comprar um remédio para mim e eu não vi que ele saiu sem o capacete. Quando meu filho voltou, voltou com a Rocam correndo atrás dele. Ele entrou com tudo para dentro de casa. Eu fui encostar a porta, a Rocam bateu com tudo e tentou agarrar meu filho por trás, tentando puxar para o lado deles”, disse Maria Bethânia Venâncio.
“Eu entrei na frente, ele [PM] começou a me jogar com tudo na escada do lado, me empurrando, depois entraram e atiraram no meu filho. Gritei: ‘Não atira, não, não atira, não’. Atiram primeiro num canto, depois atiraram no peito do meu filho”, afirmou.
De acordo com o boletim de ocorrência, Almeida estaria armado com uma pistola 9mm, com numeração raspada e com os 12 cartuchos íntegros. Também teria ocorrido um confronto com os policiais. No entanto, Almeida não tinha passagem criminal e a família nega que ele estivesse armado.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que as circunstâncias dos fatos são investigadas pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa e pela Polícia Militar por meio de inquérito.
Também em nota, a Ouvidoria das Polícias de São Paulo afirmou que “a morte de Natanael Venâncio Almeida levanta sérias questões sobre a legalidade da atuação policial. A fuga do jovem, sem qualquer indício de crime grave ou flagrante, não justifica a violação de seu direito à inviolabilidade do domicílio”.
“No caso, a perseguição foi baseada em uma suspeita sem fundamento concreto e interrompida quando Natanael já estava em casa, sem justificativa para a ação policial. Portanto, a entrada foi ilegal e uma violação dos direitos fundamentais”, informou.
Outro caso de violência policial
No mesmo dia e também na zona Sul da capital paulista, um homem foi espancado por três policiais militares do 27º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, com chutes e golpes de cassetete, no bairro Jardim das Imbuias. No vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver um dos agentes dar pelo menos 20 golpes e um chute no homem que aparece deitado no chão.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), os três policiais foram afastados de suas funções e cumprem atividades administrativas na Corregedoria da PM. Eles também devem participar de aulas sobre direitos humanos e procedimentos operacionais.
Sobre a agressão, o ouvidor da Polícia de São Paulo, Mauro Caseri, classificou como um caso de tortura. “Acho que o indivíduo no exercício das suas funções, que tem o comportamento que aqueles policiais tiveram, merece uma avaliação clínica. É necessário que um médico se posicione a respeito disso, faça testes ou alguma avaliação, para depois devolver para corporação o real estado que essas pessoas se encontram”, avaliou o ouvidor ao g1.
“Não basta olhar para isso como o cometimento de um crime. Acho que tem que olhar para esse cidadão — que comete esse crime e que hoje é um PM —, o que está acontecendo na vida dessa pessoa, na sua vida profissional, que leva essa pessoa a cometer esse crime”, disse.