O maior conflito geopolítico atual não se dá apenas entre países, mas entre eles e as chamadas big techs, conglomerados digitais com poder crescente sobre as comunicações, a economia e até as democracias. Essa é a avaliação do jornalista Luiz Carlos Azenha, convidado desta sexta-feira (23) do BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, o Brasil enfrenta grandes obstáculos para avançar na regulação dessas empresas.
“Não estamos mais na época do fenômeno das famílias que controlam a mídia. O fenômeno hoje é outro: o grande embate entre as nações e as big techs”, afirma Azenha. Para o jornalista, a resistência à regulação é evidenciada pela recente votação no Congresso que blindou o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliada à ofensiva de setores bolsonaristas nos Estados Unidos contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Azenha sustenta que o STF é atualmente a única instituição brasileira capaz de impor algum tipo de limite ao poder das plataformas digitais. “Do Congresso não sai [a regulação]. A não ser que em 2026 a gente tenha uma mudança extraordinária, o que não vai acontecer”, avalia.
Ele destaca que o lobby das gigantes tecnológicas, como Google, Meta, Amazon e X (ex-Twitter), atua com força tanto no Brasil quanto internacionalmente. “Essas empresas hoje não são mais só o que está no seu celular. O Google, por exemplo, controla cabos submarinos. A Amazon tem uma empresa de lançamento de foguetes. Elas deixaram de ser só empresas de mídia. Estão na infraestrutura da comunicação”, afirma.
Para o jornalista, qualquer tentativa de enfrentamento por parte de autoridades públicas, como o STF ou mesmo a primeira-dama Janja Lula da Silva, será duramente atacada. “Qualquer pessoa que se coloque nesse papel será demolida”, diz ele, ao comentar a repercussão negativa da fala de Janja sobre o TikTok.
Apesar das dificuldades, Azenha ressalta que o Brasil já foi visto como referência no combate à desinformação, ao lado da União Europeia. Mas, segundo ele, esse movimento sofre forte reação do “coração do capitalismo nos Estados Unidos”. “Não é por acaso que o governo [do presidente dos EUA, Donald] Trump se coloca hoje como o grande defensor das big techs”, conclui.
Com mais de 40 anos de experiência o jornalista Luiz Carlos Azenha passou por grandes veículos de mídia brasileiros e foi correspondente nos Estados Unidos por mais de duas décadas. No BdF Entrevista desta sexta-feira (23), ele falou sobre a concentração de mídia no Brasil, o governo Trump e as mudanças na geopolítica global.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.