A premiada cineasta Lúcia Murat é homenageada em uma mostra que reúne mais de 30 filmes da carreira dela, que debate memória, ditadura, feminismo e direito de povos originários do Brasil.
Intitulada Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível, o festival começa nesta quarta-feira (28) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro (RJ), se estendendo até 23 de junho. São Paulo (SP) também vai receber o evento, a partir do dia 6 de junho.
Murat tem 40 anos de atuação no cinema, com trabalho focados principalmente em denunciar o que foi a ditadura militar no Brasil (1964-1985), período que ela enfrentou como militante do Dissidência Estudantil da Guanabara, posteriormente, Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Ela chegou a ser presa e torturada no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) da rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro.
Em entrevista ao Conversa Bem Viver desta segunda-feira (26), a cineasta explica que essa experiência foi o que lhe deu força para enfrentar o machismo e misoginia no cinema brasileiro da década de 1980, quando começou a trabalhar.
“Eu às vezes brinco um pouco, falo assim, ‘isso é minha experiência de guerrilha’.”
“Uma vez, a minha filha, que também é cineasta, perguntaram pra ela no primeiro filme dela o que você aprendeu com a mãe, e a resposta dela foi magnífica, ‘eu aprendi a ouvir não’.”
“Então foi essa mistura: a capacidade de ouvir não com a experiência de guerrilha, no sentido de lutar mesmo, de enfrentar situações e seguir em frente. Foi por isso que eu me mantive.”
No início do ano, Murat teve seu mais recente filme Hora do Recreio (2025) laureado com a Menção Especial do Júri Jovem na Mostra Generation 14 Plus. O filme tem previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano e discute a educação brasileira a partir do ponto de vista dos próprios estudantes.
Confira a entrevista na íntegra
Como a senhora recebeu o convite para esta mostra?
Para mim é uma alegria imensa poder ver boa parte da minha produção de filmes exposta. É uma mostra que abarca quase 40 anos de trabalho, é muito grande.
A mostra tem quatro módulos, o primeiro, que é a abertura, tanto aqui quanto em São Paulo, é ditadura e memória, reúne os filmes que falam mais especificamente sobre a questão da ditadura, que é o Que bom te ver viva, o Memória que me Contam, o Quase dois irmãos e Uma Longa viagem.
E tem também o meu primeiro filme, que é um filme feito sobre Nicarágua, em 1978 e 1979, Durante a Derrubada do Somoza, que conta do ditador da época.
Depois disso você tem um segundo módulo que é povos originários que abarca todo o trabalho sobre os indígenas, que começou com Brava Gente Brasileira. Foi uma experiência incrível.
A senhora, assim como Eunice Paiva, enfrentaram a ditadura de frente e depois de, digamos, vencer esse período, se dedicaram a defender os direitos dos povos indígenas. Você enxerga essa relação entre vocês duas?
Eunice Paiva é uma figura maravilhosa, importante para a nossa história. Mas é uma geração um pouco diferente da minha. Recentemente nós estávamos conversando sobre, porque ela não chega a ser da geração da minha mãe, é intermediária.
Ela tem mais proximidade com a geração da minha mãe no sentido de mulheres que tiveram um contato com pessoas que estavam militando, no caso dela o marido, e nesse processo se modificaram.
Eu acho que o processo é muito bonito, é muito duro, é impressionante para quem conheceu essa geração, saber como é que uma mulher que tinha sido educada para ser dona de casa se transforma e não aceita ser sustentada e batalha para sustentar a família dela, esse é um grande exemplo.
É um fenômeno muito feminino isso, quer dizer, você faz qualquer coisa pelos seus filhos e nesse processo você se modifica, né?
Eu fui de outra geração, eu sou geração 68, geração que botou para quebrar. E não somente na luta contra a ditadura, mas comportamentalmente também, entendeu?
Na época, nas famílias de classe média as mulheres casavam virgem, na igreja e tudo, e essa minha geração rompe com isso.
Acho que existiam mulheres antes que tinham rompido, mas eram exceções, eram mulheres intelectualizadas que conseguiam romper com esse padrão. Mas como geração, é a geração 68 aqui no Brasil, que a gente é muito influenciada por Simone de Beauvoir, muito influenciado pelo movimento feminista.
Essa coincidência que você está falando em relação aos povos originários, eu acho que é uma questão também que a gente, enquanto país, descobriu, entendeu?
E ela, muito mais do que eu, porque ela se dedicou integralmente, foi uma pessoa totalmente dedicada a essa questão.
Até nem está tão abordado no filme [Ainda estou aqui]. Eu acho que o filme está mais preocupado realmente com a relação com a família, com o Rubens e com a família.
Como foi essa experiência de entrar no mercado do cinema em um período que o setor era quase que completamente dominado por homens. Hoje ainda há muita desigualdade, mas o cenário é outro, certo?
Eu às vezes brinco um pouco, falo assim, “isso é minha experiência de guerrilha”.
Uma vez, a minha filha, que também é cineasta, perguntaram pra ela no primeiro filme dela o que você aprendeu com a tua mãe, e a resposta dela foi magnífica, “eu aprendi a ouvir não”.
Então foi essa mistura: a capacidade de ouvir não com a experiência de guerrilha, no sentido de lutar mesmo, de enfrentar situações e seguir em frente. Foi por isso que eu me mantive.
Quando eu fiz o meu primeiro filme de longa metragem Que bom te ver viva, era uma equipe só de homens. Isso faz uma diferença imensa hoje em dia.
Porque quando eu fiz o Praça Paris, por exemplo, a gente estava na produtora, numa mesa de discussões do filme com as chefias do departamento e só tinha mulher. Isso é muito mais agradável, claro, porque você ficava à vontade, ri e tal. Você não precisava ficar fazendo cara feia para ninguém, para as pessoas poderem te respeitar, né?
Evidentemente que o fato, também, de eu ter sido uma ex-presa política as pessoas tinham um certo medo de mim, o que também facilitava a relação.
Como a senhora está vendo esse período da história do país que voltamos a ver um pedido de anistia, 40 anos após o fim da ditadura?
É uma tragédia. Isso só está existindo porque não se tem memória, porque houve uma anistia em 1979 que anistiou os torturadores, ou seja, eles não foram sequer levados a julgamento, diferentemente da Argentina, diferentemente de outros países, entendeu?
Então, acho que isso vem de lá, a falta de memória permite que as pessoas não tenham noção do horror que foi a ditadura.
Para romper com isso você tem que ter políticas públicas, você tem que ter centros de memória, você tem que ter museus, você tem que ter o estudo sobre que foi a ditadura nas escolas.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
O programa de rádio Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 7h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A versão em vídeo é semanal e vai ao ar aos sábados a partir das 13h30 no YouTube do Brasil de Fato e TVs retransmissoras.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído na nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.