A bioética possui um compromisso fundamental na Odontologia, principalmente na atualidade, quando as mídias sociais têm desempenhado um papel crucial na disseminação de informações (e desinformações) e na construção de imagens dos profissionais e seus tratamentos oferecidos.
Em um mundo conectado, as redes sociais são plataformas utilizadas de maneira ampla e deliberada para divulgação profissional. A partir dessa realidade surgem dilemas bioéticos importantíssimos, que exigem debates qualificados sobre a responsabilidade profissional, a privacidade do paciente e a veracidade das informações compartilhadas.
Apesar da ética odontológica ser pautada no respeito à dignidade humana, no benefício da saúde, da coletividade e do meio ambiente, com o marco digital da Odontologia, uma linha tênue entre os limites do marketing e da ética foi estabelecida. Muitos profissionais utilizam – de maneira demasiada – as plataformas digitais para promoção dos seus serviços, sem se preocupar com os pilares da bioética, como a beneficência, não maleficência, autonomia e justiça.
Como as redes sociais estão sendo utilizadas como ferramentas de trabalho, é importante que o dentista reflita sobre a forma com que as informações são apresentadas e divulgadas. Na publicação de casos clínicos, por exemplo, o profissional deve ter o cuidado com expectativas irreais no paciente, evitando influenciá-lo na procura de tratamentos “populares” e desnecessários. Essa atitude contradiz os princípios da beneficência e não maleficência, em que o profissional deve realizar sempre o melhor para o seu paciente e não fazer tratamentos que possam vir a causar algum dano.
Outro aspecto a ser debatido se refere a privacidade do paciente e ao seu direito de imagem. Não basta a autorização oral do indivíduo: é necessário que ele assine um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), versando sobre como e onde sua imagem será divulgada. Além disso, esse documento deve resguardar o paciente a solicitar que a imagem seja apagada quando ele desejar.
O profissional também precisa ter cuidado na divulgação de fotografias que compartilhem o local de trabalho, estudo ou alguma outra informação pessoal do seu paciente, evitando prejuízos a sua segurança.
Em relação a veracidade das informações, é importante ter cautela na divulgação de novos tratamentos, visto que todo procedimento realizado deve estar de acordo com o estado atual da ciência e dignidade profissional. Os cirurgiões-dentistas não devem executar ou propor tratamentos desnecessários, assim como, devem realizar apenas aquilo que esteja plenamente capacitado.
Embora as mídias digitais ofereçam oportunidades valiosas para a promoção dos serviços odontológicos, é fundamental que os profissionais atuem com responsabilidade e de acordo com os princípios da bioética.
A linha entre o marketing e a ética deve ser cuidadosamente observada para que a busca por resultados profissionais não prejudique a confiança e a saúde dos pacientes.
É imprescindível que os dentistas adotem práticas que prezem pela transparência, pelo consentimento informado e pela atualização constante, visando sempre o bem-estar do paciente e a manutenção de sua integridade.
Maria Isabel Villalobos é Professora Assistente I (PUC Minas), Cirurgiã-dentista (PUC Minas), doutoranda em Odontologia (PUC Minas), mestre em Clínicas Odontológicas (PUC Minas), especialista em Odontologia Legal (FORP/USP), especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia (IES), pós graduada em Avaliação do Dano Corporal Pós-traumático (Universidade de Coimbra), pós graduada em Gestão de Operadoras Odontológicas (SINOG), Auditora Odontológica, Perita Judicial (TJMG), Assistente técnica judicial, integra a Diretoria Executiva Nacional da Associação Brasileira de Ética e Odontologia Legal (ABOL), co-fundadora do podcast Odonto éh Legal.
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Este é um artigo de opinião, a visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato