O Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) realizou um ato político durante o sepultamento do agricultor Gideone Menezes, atropelado durante a Marcha em defesa da Democracia e da Reforma Agrária, do Abril Vermelho, no Recife (PE). O ato ocorreu neste sábado (24), em Goiana, na zona da Mata Norte de Pernambuco. Gideone estava internado no Hospital da Restauração há mais de um mês e morreu na última sexta-feira(23).
O MST promoveu uma marcha no centro de Goiana antes do velório do agricultor. O ato reuniu integrantes do movimento, assentados e acampados da região, além de parlamentares e autoridades locais. Durante a marcha, o movimento cobrou justiça por Gideone e defendeu a tese de que o trabalhador foi assassinado.
“Gideone não morreu. Ele foi assassinado pela violência do latifúndio, pelo ódio que a sociedade e que esse sistema ultraconservador espalha na sociedade. E isso não é só contra sem-terra, mas é contra pobre, contra negros, contra a camponeses, contra LGBT”, discursou Jaime Amorim, da direção nacional do MST, durante o velório do militante.
No ato, Amorim também apontou que a morte de Gideone é estrutural, e poderia ter sido evitada caso a reforma agrária tivesse avançado no país.
“Essa morte poderia ter sido evitada se o governo tivesse desapropriado a usina Santa Tereza, como diz a lei brasileira. A legislação é clara: toda terra improdutiva é passiva de desapropriação para fim da reforma agrária. A usina Maravilha e a usina Santa Tereza há mais de uma década estão totalmente falidas, dando prejuízo ao Estado, dando prejuízo às pessoas “.

Um sonho interrompido
Gideone Menezes tinha 67 anos e deixa três filhos. Há dois anos, ocupava um pedaço de terra na área onde antes funcionava a Usina Maravilha, na divisa com o estado da Paraíba.
O sem-terra se aposentou como operador de máquinas e trabalhou por décadas para as Usinas na região. Segundo a família, ele dizia que estava no melhor momento da vida por voltar às origens, plantando e vivendo da terra.
O dirigente nacional do MST, Fernando Silva, que mora na mesma região de Gideone, recorda do estilo de vida e da personalidade do companheiro de luta.
“Ele se identificava muito com o campo. Ele dizia que tinha muita esperança e que estava vivendo o melhor momento da vida dele, que era o acesso à terra para trabalhar, inclusive [a terra de] usinas falidas da região, onde ele teve todo um histórico de trabalho. Com a falência da usina, ele procurou uma melhora, e a melhora que encontrou foi acampar para ter acesso à terra. Então, ele tinha essa esperança”, recordou o dirigente.
“Nós não tivemos o direito de sonhar a vida inteira. E quando a gente começa a sonhar, o latifúndio inimigo tenta impedir de diversas formas que a gente possa levar o nosso sonho até o final”, apontou Jaime Amorim.
Ausência do Incra
Em nota, o MST repudiou a ausência de representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no velório do militante, em especial da Superintendência no Recife. Afirmou que é “praxe” nestes casos, resultado de tensão, o órgão estar presente nas cerimônias e atos de solidariedade.
“As ausências não diminuíram a importância do ato, mas as suas presenças sinalizariam uma unidade e compromisso com o fim do latifúndio e pelo desenvolvimento da agricultura camponesa e família no estado de Pernambuco”, apontou a nota.