Após quatro semanas de escuta e mobilização por todo o estado, o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato) lançou, nesta segunda-feira (26), o dossiê da Caravana em Defesa da Escola Pública. Como salientou a presidenta do Cpers, Rosane Zan, o documento traz um retrato devastador das condições estruturais, pedagógicas e humanas enfrentadas por educadores e estudantes da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul.

De 11 de março a 4 de abril de 2025, a Caravana do Cpers percorreu 429 escolas em 153 municípios, cobrindo todas as regiões dos 42 núcleos da entidade. Foram mais de 30 mil quilômetros de estrada em busca do contato direto com a realidade das escolas públicas gaúchas.
Ao longo do percurso, a entidade colheu relatos, fotografou estruturas precárias, conversou com educadoraes, estudantes e funcionários e produziu um dossiê que sinaliza um colapso da educação no estado. “O que vimos não é apenas descaso. É um projeto de desmonte da escola pública”, denuncia Zan. Segundo ela, o governo estadual prefere investir em publicidade e terceirizações por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) do que garantir condições dignas de ensino e aprendizagem.

Em cada parada, a caravana relatou o mesmo cenário: escolas com prédios interditados, salas alagadas, estruturas de madeira improvisadas há décadas, redes elétricas incapazes de suportar ventiladores ou ar-condicionados e falta de itens básicos como água, banheiros em número adequado e segurança. Em Roca Sales, por exemplo, a Escola Estadual de Educação Básica Padre Fernando segue funcionando em espaço cedido por uma igreja desde as enchentes de 2023. Em Passo Fundo, estudantes indígenas assistem aula em barracos de lona. Em Pelotas, reformas se arrastam há anos. Em dezenas de cidades, obras foram iniciadas e abandonadas.

Realidade de abandono
Em Santa Maria, no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, parte do prédio está interditada há dois anos. Em Rio Grande, a Escola Estadual de Ensino Médio Dr. José Mariano de Freitas Beck não iniciou o ano letivo por falta de água. Em Tenente Portela, uma escola de madeira construída há 20 anos com estrutura temporária ainda abriga quase 200 alunos.

Esses são apenas alguns dos exemplos documentados. Há telhados prestes a desabar, fiações obsoletas que impedem o uso de ventiladores ou ar-condicionado, infiltrações, salas interditadas e reformas intermináveis. Muitas escolas só funcionam porque a própria comunidade escolar organiza rifas, doações e vaquinhas.
As PPPs e o desmonte
O dossiê também alerta para o avanço das Parcerias Público-Privadas (PPPs) no setor, apresentadas pelo governo de Eduardo Leite (PSD) como solução, mas vistas pelo Cpers como porta de entrada para a privatização. “A solução não está em entregar a educação ao capital privado, mas em fortalecer o Estado, com investimento público massivo, valorização profissional e gestão democrática”, pontua o dossiê do sindicato.
Próximos passos
“Eduardo Leite pode tentar maquiar a realidade, mas não pode esconder os muros rachados, os olhares cansados e os gritos por socorro que ecoam em nossas escolas”, afirma o sindicato no dossiê.

O documento está disponível para consulta popular. Para o Cpers, não há mais tempo a perder: “É preciso reconstruir a educação pública gaúcha com dignidade, financiamento e compromisso com o povo”.
“Vamos encaminhar esse dossiê para o governo do estado, para a Assembleia Legislativa, para a Comissão de Educação e para a Secretaria de Educação, onde já solicitamos uma audiência com a secretária. Mas a nossa pressão está acontecendo nas ruas. O ato público com a Frente dos Servidores já está tendo algum resultado, inclusive na questão do IPE Saúde”, explica Zan.
A educadora diz que espera que a sociedade compreenda que o Cpers tem esse papel de denúncia e mobilização. “Estamos reivindicando a valorização salarial com o reajuste de 12,14% para toda a categoria – tanto professores quanto funcionários. E também estamos cobrando melhores condições de infraestrutura nas escolas. Precisamos, sim, de uma estrutura adequada para receber nossos alunos e alunas, assim como os professores e funcionários de escola.”
O Governo do Estado do RS e a secretaria de Educação foram procurados para esclarecer as denúncias apontadas pelo Cpers. O conteúdo será atualizado, caso haja resposta.
