A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) encerrou, na quinta-feira (23), a jornada de celebrações dos 100 anos da passagem da Coluna Prestes por Foz do Iguaçu (PR). A atividade final reuniu centenas de pessoas no auditório Martina para assistir à palestra Nas trilhas da Marcha Invicta: 100 anos de luta pela terra no Brasil, ministrada por João Pedro Stedile, economista e dirigente histórico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A jornada teve início em abril e foi organizada pelo curso de Ciência Política e Sociologia da Unila, com o apoio do grupo de pesquisa Memória, Resistência e Verdade. A programação contou com debates, exposições e lançamento de publicações sobre o legado da Coluna Prestes — movimento de resistência que percorreu 25 mil quilômetros entre 1925 e 1927, combatendo as oligarquias da Primeira República. A passagem por Foz do Iguaçu teve papel estratégico no trajeto da Coluna e foi lembrada em diferentes frentes durante as atividades.
Para o professor José Renato Vieira Martins, um dos responsáveis pela organização, a jornada teve papel fundamental na reaproximação entre a universidade e a história popular. “Fizemos o que havíamos planejado em nossa proposta coletiva, protagonizada por estudantes e apoiada por trabalhadores técnico-administrativos. Com recursos esparsos, conseguimos produzir momentos significativos como estes”, avaliou. Segundo ele, o evento permitiu à Unila “reencontrar-se consigo mesma, resgatar sonhos e reviver utopias”.
Durante a palestra, Stedile traçou um panorama histórico das lutas pela terra no Brasil, mencionando a resistência indígena, Zumbi dos Palmares, Canudos, Guerra do Contestado e as Ligas Camponesas. Também destacou o projeto de Reforma Agrária apresentado por Luiz Carlos Prestes e retomado em diferentes momentos da história, como no governo João Goulart. O dirigente lembrou que o MST já realizou cerca de 8 mil ocupações em benefício de mais de 500 mil famílias.
Na visão do professor José Renato, a fala de Stedile foi uma verdadeira “aula de história transmitida por quem a conhece e a faz”. O economista também homenageou figuras como o papa Francisco, o presidente uruguaio José Mujica e o fotógrafo Sebastião Salgado, e defendeu que a reforma agrária do século 21 deve priorizar a agroecologia, a formação política da classe trabalhadora e o cuidado com a natureza.
A noite também foi marcada pela participação das estudantes Jaqueline Aranduhá, Bianca Ulysse, Valentina Gonzalez e Tarsila de Brito, que representaram o grupo de pesquisa idealizador do projeto. A estudante haitiana Bianca Ulysse foi convidada por Stedile a acompanhá-lo em um encontro com o presidente Lula, previsto para a semana seguinte, em Ortigueira (PR), onde será realizado o assentamento de 450 famílias.
Além das atividades no campus, a jornada promoveu uma audiência pública na Câmara Municipal, organizada em conjunto com o jornalista Aluízio Palmar e a vereadora Valentina (PT), que também é estudante da Unila. O objetivo foi apresentar um projeto de lei que institui o Dia Municipal da Coluna Prestes em Foz do Iguaçu. “Não será tarefa fácil aprová-lo sem alguma pressão, dado o perfil conservador da casa”, comentou o professor José Renato.
A programação incluiu ainda a cerimônia simbólica de rega de uma muda de resedá — árvore que se tornou símbolo da celebração — plantada no campus Integração. A promessa de retorno feita por Stedile, que se comprometeu a levar uma muda de Baobá em homenagem a Olga Benário, reforça o vínculo entre a universidade e as lutas populares. “Plantaremos um Baobá na Unila”, disse ele, ao se despedir da comunidade acadêmica.