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A ONG Pachamama é um coletivo de sonhadores que caminham semeando e despertando consciências às maravilhas deste lar, a la Madre Tierra, Pachamama....

Ecologia andina

A vida é sempre nova, intocada, simples, de alpargatas. A essência é uma onda deste oceano consciente e sensível

Cada dia é uma onda que nos convida a soltar-nos nos braços de água da Vida; o fazemos?

Não!

E por quê?

Porque moramos em uma prisão mental-emocional e de percepção. 

A vida vem a amar-nos em cada alento. Cada instante é um movimento da Vida convidando-nos a uma vida inspirada e de desfrute.

Vivemos mil vidas e toda uma vida para este instante!

Se sentimos com profundidade, só há o instante presente.

A essência está presa em um mundo de gestos mecânicos, sem inteligência nem graça, mas não estamos sozinhos, como vítimas do carcereiro. A essência canta, incomoda e nos faz ver os campos que nos foram dados para que deem frutos, seguindo a música do Plano de Pachamama, do renascer Planetário. Que está se dando Agora!

Aqui está nossa canção de liberdade e o primeiro que temos que saber é que há trabalho a fazer. Não há como negar isto. Começar o caminho de retorno à origem, à casa. Dentro e fora.

Quando reconhecemos que estamos presos na cela desta pulsão psíquica, começamos o caminho e deixamos de fugir através das urgências da mente e de esconder-nos do essencial.

Um dos trabalhos é: soltar e soltar, em cada instante, as memórias que nos imprimem sua cor no agora. Porque estas memórias, imagens interiores, impressões mal digeridas, guardadas dentro das camadas psíquicas, dão aspecto de velho ao original e único instante em que a Vida nos visita agora, neste presente.

Assim, se soltamos esta tensão íntima, o instante de “agora-aqui” é uma porta plena de possibilidades, e isto é a liberdade.

A vida é sempre nova, intocada, simples, de alpargatas. A essência é uma onda deste oceano consciente e sensível. É uma simplicidade vestida de alegria e graça.

O mundo é complexo, cheio de categorias e separatividade. Velho, julgador e injusto, o mundo é uma criação que está produzindo esta tremenda destruição de ecossistemas, de povos originários, de culturas espirituais ancestrais. Mas o mundo não nasce de fora, surge de dentro da mente egocêntrica e se nutre de bilhões de gestos individualistas e ignorantes.

Viver a vida na Vida, estar aberto ao sensível em nós é uma parte do trabalho. Voltar a viver desde um coração de trigo vigoroso, de pradarias verdes dourando-se ao sol e deleitando-se com a consciência livre e sensível, não deixando que se disperse a Chama pura da atenção.

O atrativo do mundo nunca foi tão forte e astuto. A lógica do mundo aperfeiçoou seu sistema, ajudada por tecnologias que quase levam a crer num estado de iluminação com aparelhos que imitam a telepatia, a clarividência e muito mais. E sugam nossa vitalidade, nos levam a atenção e nos privam da nutrição emocional do olho no olho e do gesto amigo e sensível de coração a coração.

Mas nossas ferramentas são orgânicas, biológicas, de caráter e intenção sustentada, contamos apenas com a chama da atenção e a sensibilidade da consciência. E quando o Ser volta ao caminho, sente algo que o mundo nunca poderá dar, sente Amor e Liberdade. E assim, tudo volta a florescer e frutificar.

Toda a Pachamama floresce, segue florescendo, somente a humanidade adormecida no mundo vive, primavera após primavera, sem florescer, e assim, vai morrendo a esperança, substituída por domínio e avareza.

Sair da distração e acender a Flama da Atenção é um árduo trabalho, mas se a cada dia fazemos um intento sincero, ela surgirá, em muito pouco tempo, clara e inocente, mostrando-nos as alegres flores do caminho.

Nada mais belo que o esforço de um ser humano, quando intenta despertar da ilusão de areia e cimento. A ecologia começa a surgir do rio fresco da descoberta da nossa genialidade de instante a instante, colocando raízes na terra sonora e transparente do coração, expandindo o Sentir pelo Infinito.

As virtudes obreiras do homem e da mulher digna não têm limites em seu poder benéfico no mundo. Esse mundo tão carente de amor, sinceridade e valentia para defender os pobres, os necessitados, os ecossistemas que, sem voz, vão sofrendo os infames atropelos do capitalismo selvagem que estamos vivendo nos últimos dias de Babilônia.

E como disse nosso grande companheiro, o fotógrafo da alma, Sebastião Salgado: “Nós nos tornamos puramente urbanos, e hoje afirmamos ser animais puramente racionais, e todo esse aspecto espiritual e instintivo que permitiu a preservação de nossa espécie até hoje está sendo negligenciado. Nós criamos esse desequilíbrio entre nós e a natureza que somos, nos consideramos algo separado, distinto.”

O tempo é de nos religarmos com a mãe terra. Isso é a ecologia andina.

*Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.

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