O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), instalou, na noite desta segunda-feira (26), uma faixa onde uma passageira do serviço de mototáxi da empresa 99 veio a óbito após um acidente de trânsito.
“A CET registrou neste local a morte de uma passageira que usava o serviço de mototáxi da empresa 99. O serviço de mototáxi é proibido —preserve sua vida”, diz a faixa instalada em um trecho da Avenida Tiradentes.
No último sábado (24), Larissa Barros Maximo Torres, de 22 anos, estava na garupa de uma moto quando um veículo em movimento abriu a porta, atingindo a jovem e o motociclista. Com o choque, ambos foram arremessados contra outro veículo. Larissa Torres chegou a ser socorrida e encaminhada para a Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos. O motociclista, por sua vez, sofreu ferimentos na perna, braço e costela e já foi liberado.
“O que realmente aconteceu foi que o carro abriu a porta jogando a gente no outro carro que estava no trânsito. Não teve atropelamento, tudo foi culpa da ação de uma pessoa louca… abrir uma porta no meio da avenida. Eles estavam bêbados”, afirmou o motociclista ao g1.
Sobre a faixa instalada por Ricardo Nunes, a 99 informou, em nota, que “lamenta o desrespeito e o oportunismo com que a Prefeitura de São Paulo trata o luto de familiares e amigos da Larissa, mais uma vítima do trânsito paulistano”.
“É lamentável o comportamento de uma administração que abriu mão das metas de redução de mortes no trânsito da Cidade e se calou diante das mais de 3 mil vidas ceifadas pelo trânsito paulistano muito antes e sem qualquer relação com a operação de motoapps, mas já durante sua administração. A plataforma recebeu com pesar a notícia do acidente e esclarece que já está prestando o devido apoio e acompanhando de perto o caso e oferecendo suporte integral aos envolvidos”, declarou a empresa.
Também em nota, a Prefeitura de São Paulo ressaltou os riscos do serviço de mototáxi: “Somente em 2024, a cidade gastou cerca de R$ 35 milhões na linha de cuidado ao trauma com pacientes vítimas de acidentes de moto e foram 4.084 internações hospitalares na rede municipal de saúde em decorrência de motociclistas em acidentes de trânsito. Até março de 2025, são 1.026 internações”, diz o comunicado.
Serviço suspenso pela Justiça
Após o acidente fatal, a Justiça de São Paulo determinou, nesta segunda-feira (26), mais uma suspensão aos serviços de mototáxi prestados pelas plataformas de aplicativos 99 Tecnologia e Uber na capital paulista. Também foi estabelecida uma multa diária de R$ 30 mil em caso de descumprimento.
Não é a primeira vez que o serviço é suspenso no município por determinação judicial. A última decisão é mais um capítulo dessa disputa entre as empresas e o poder público. Nesta determinação, o desembargador e relator Eduardo Gouvêa, da 7ª Câmara de Direito Público, argumentou que as empresas agiram em “completo desrespeito” em relação à suspensão determinada anteriormente, em 16 de maio.
Em nota, a 99 informou que suspenderá temporariamente o serviço, mas que é necessário discutir a “inconstitucionalidade” do decreto municipal que proíbe a existência de mototáxi na cidade.
“A 99 ressalta a urgência do debate sobre a inconstitucionalidade do decreto de proibição que precisa ser definitivamente decidido pelo Tribunal de Justiça e segue adotando todas as medidas legais para assegurar os direitos da empresa, de seus usuários e motociclistas parceiros em São Paulo, mantendo o compromisso que já promoveu mais de 1 milhão de corridas à população paulistana”, diz o comunicado da empresa.
A Uber também informou que suspenderá temporariamente o funcionamento de Uber Moto. “A decisão atual abre caminho para que demais empresas continuem operando com serviços clandestinos e sem as camadas de segurança oferecidas pela Uber”, informou a empresa.
Serviço de mototáxi expõe fracasso do transporte público
Em entrevista ao Brasil de Fato em janeiro deste ano, Daniel Santini, mestre e doutorando pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador sobre mobilidade, afirmou que o serviço de locomoção rápida e a um preço relativamente acessível – como é o caso dos mototáxis – se tornou atrativo aos usuários num cenário em que as opções de transporte público não atendem à população de São Paulo com qualidade: malha da rede que não chega em todos os lugares, veículos, estações e terminais sucateados e tarifas altas, sem contar com a inexistência de opções sustentáveis para o meio ambiente.
Para os mototaxistas, o serviço atrai pela possibilidade de fazer uma renda extra. O pesquisador, no entanto, fala em “ilusão” diante não só dos riscos intrínsecos ao tipo de transporte, como bem mostram os dados, mas também perante a ideia de democratização do transporte.
“Tem um contexto social e econômico que não dá para ser ignorado, o que faz com que essa discussão não seja simples. Existem dois pontos a se considerar. Primeiro, trata-se de uma forma de transporte mais acessível, com a vantagem do preço. Depois, tem a possibilidade de vagas de trabalho. Seriam dois pontos positivos, mas que não se sustentam porque cria uma falsa democratização da mobilidade urbana e vagas de trabalho completamente precarizadas”, afirma Santini.