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Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990); Participante da Ciranda pelo CEAAL Brasil, CAMP e Articula PNEPS-SUS.

Escola São Luiz de Santa Emília: 100 anos de transformação e inspiração

São Luiz, Schule von Santa Emília, hundert Jahre: transformation und inspiration

Entrei na Escola São Luiz de Santa Emília, em Venâncio Aires (RS), em 1958, há 67 anos, com 6 anos de idade e sabendo ler e escrever, mesmo não falando português, ou só algumas palavras  básicas. Falava só alemão com a avó Gertrudes, papai Léo, mamãe Lúcia, tia Leonida e os 9 irmãos e irmãs, agricultores familiares morando no interior do interior do Rio Grande do Sul.

E como aprendi a ler a escrever antes de chegar na Escola São Luiz? Tia Leonida, a tia Nida, sentada no chão enquanto sortia o fumo/folhas de tabaco no galpão de madeira, principal produção da família à época, escrevia, com carvão, letras, números e palavras nas paredes. E fazia eu ler tudo. Assim, com 6 anos, eu estava lendo e escrevendo.

A Escola São Luiz estava então no prédio onde hoje é o necrotério ao lado da igreja São Luiz. Só tinha uma sala, onde ficavam as cinco turmas, cerca de 100 alunos, parte de manhã, parte de tarde, com um único professor, Edgar José Fröhlich.

Cláudio Carlos Fröhlich, no livro Colônia de Santa Emília, Venâncio Aires – RS, publicado em 2005, escreve: “Conforme cópia de uma Ata da Assembleia da comunidade escolar de São Luís, realizada na casa do Sr. Hugo Reckziegel, em 10 de junho de 1925, foi ‘fundada uma aula católica no lugar denominado Santa Emília’, sendo eleito o seguinte ‘Conselho Diretor’: Fernando Weber, Hugo Reckziegel, Secretário, e João Weber, Tesoureiro.” A Escola, o salário do professor e tudo mais eram bancados totalmente pelas famílias da comunidade e pelos pais dos alunos e alunas.

Os 100 alunos só tinham um professor, conta Cláudio Carlos Fröhlich: “Ao professor Mathias Lenz seguiria outro professor, líder comunitário que atuou em todas as frentes: na escola, na juventude que o estimava, na igreja, onde sua atuação como ministro era de todos elogiada, no campo de futebol e na cancha de bolão. Refiro-me ao Prof. Edgar José Fröhlich, que recusou o convite para lecionar na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) por não querer deixar suas atividades junto à comunidade São Luís. Faleceu prematuramente em 1994.”

Os mais de 100 alunos e alunas dos anos 1950, mesmo nestas condições de uma única sala, aprendiam tudo que precisavam: português, matemática, fazer contas, ler e escrever. E conviver uns com os outros, reconhecer-se membros da comunidade.

Não havia cancha de esportes ou campo de futebol na escola. A diversão, e o esporte, além da convivência entre vizinhas (os), parentes e gurizada da comunidade, havia uma corrida para ver quem era o “HAAS” que corria mais, o coelho na tradução para o português. No pequeno morro que começava na frente do então morador Pedro Neis, cuja casa ainda existe hoje, 2025, e nela está escrito que foi construída em 1923, na frente do atual prédio da Escola São Luiz, os alunos de então postavam-se para correr até a estrada principal.

Na minha turma na escola, havia uma permanente disputa para ver quem seria o melhor aluno de cada ano, uma forma de estímulo criada pelo Prof. Edgar para todos estudarem mais. A disputa sempre se dava entre três alunos, e mais ninguém: José Wünsch, Elstor Wolschick e eu, Selvino. Ninguém chegava na nossa frente. Algumas vezes fiquei em primeiro, outras vezes em segundo ou ainda em terceiro.

Essa era a Escola São Luiz nos anos 1950. E assim continua até hoje, quando completa seus gloriosos 100 anos de história e formação. Sempre teve estreita ligação com a comunidade, com apoio dos pais e famílias aos seus filhos e filhas. Anos atrás, por exemplo, anos 1990, quando o diretor era o hoje professor aposentado Celso Piccinini, aconteceu um mutirão de aprendizado dos alunos, com o tema, bem atual: ‘O meio ambiente começa no meio da gente’. Compreendia: uma horta, um pomar com plantação de laranjas, bergamotas, e visitas e trabalhos dos alunos no Arroio Grande, que atravessa Santa Emília. Iam plantar árvores na sua beira, para preservar o arroio, aprender a cuidar da natureza e meio ambiente, nossa Casa Comum. Ou seja, uma escola preocupada não só com saber ler e escrever, fazer contas, estudar história e geografia. E sim uma escola cuidando do meio ambiente, ajudando a preservar a natureza e os alimentos saudáveis, com o aprendizado fora ou além da sala de aula, ontem, hoje, sempre.

Por tudo isso e muito mais, a atual direção da escola, o Círculo de Pais e Mestres, professoras (es) e os pais dos alunos escolheram como lema e tema dos 100 anos: 100 anos de transformação e inspiração.

Transformação: a Escola São Luiz sempre esteve aberta para a comunidade e o mundo. Sempre abriu os olhos para a vida, para o meio ambiente, para a agricultura familiar, para valores como a solidariedade, o cuidado uns com os outros, a garantia do futuro para todas e todos. O mundo e a sociedade precisam hoje, mais que nunca, de amor, paz, solidariedade, comunhão, união das famílias e comunidades. Uma escola, como sempre fez e foi a São Luiz, precisa ser espaço de transformação da realidade.

Inspiração: Cuidar da Casa Comum, cuidar do futuro das crianças e das juventudes construir esperança numa sociedade do Bem Viver. Esta é a inspiração ontem, 1925, e hoje, 2025, para que a vida seja vivida com fé e coragem.

Viva a Escola São Luiz de Santa Emília nos seus 100 anos! Und kommen noch Hundert Jahre, bis 2125! E virão mais 100 anos, até 2125!

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato.

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