O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), defendeu a conciliação entre produtividade econômica e preservação ambiental em projetos como a Ferrogrão e a exploração de petróleo na bacia da foz do rio Amazonas. Criticadas por movimentos em defesa do meio ambiente e de comunidades tradicionais, as obras têm impactos socioambientais previstos ao estado que sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) em novembro deste ano.
A fala do governador foi feita durante a sua participação no Global Agribusiness Festival (GAFFFF), que reúne ruralistas de todo o país, em São Paulo (SP), nesta sexta-feira (6). “Não há qualquer conflito da agenda ambiental com a agenda produtiva, particularmente no Brasil, sendo o maior detentor de floresta tropical do mundo e, ao mesmo tempo, um dos mais importantes produtores de alimento do planeta”, disse o governador em resposta a questionamento do Brasil de Fato.
Afirmou ainda que a conciliação deve ocorrer em fator da ampliação dos mercados interno e externo, posicionando o Brasil “como um país que tem responsabilidade produtiva com sustentabilidade e, consequentemente, nós possamos gerar empregos corretos desenvolvimento de forma que esteja conectado com a necessidade da conciliação”.
O projeto da Ferrogrão envolve a construção de uma via férrea de 933 quilômetros, que visa ligar o Porto de Miritituba, no Pará, ao município de Sinop, no Mato Grosso, para o escoamento de grãos. A questão está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), já que pode impactar diretamente comunidades indígenas e passar por cima de uma unidade de proteção integral.
Questionado sobre o impacto da via férrea às comunidades tradicionais no Pará, Barbalho afirmou que “esta é uma discussão que está no âmbito do poder judiciário, do Supremo Tribunal Federal, que deve avaliar quais os impactos de um grande projeto”. “O que nós não podemos é desconhecer de que o modal ferroviário é menos emissor de gases de efeito estufa se comparado, por exemplo, às rodovias”, disse o governador, ao defender modais que podem “fortalecer a logística e a competitividade da produção e dos preços operados no Brasil”.
Sobre a COP30, Barbalho falou que se trata de um “momento de mobilização nacional”. “A COP deve ser vista como uma oportunidade de mostrar ao mundo que temos a produção rural mais competitiva, ao mesmo tempo em que somos um país essencial para enfrentar os desafios globais. A conferência precisa ser um ponto de virada, uma chance de mostrar que o Brasil pode se apresentar com soluções de sucesso, com o comprometimento da sociedade brasileira para sermos a locomotiva desse processo”, disse o governador.
Por fim, Barbalho enfatizou novamente que a agenda ambiental deve se aliar às questões de produtividade para uma agenda sustentável. “Precisamos cobrar do mundo o financiamento ambiental necessário para preservar nossas florestas e viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono, uma economia que combine preservação ambiental com cuidado com as pessoas”, disse.
Indígenas criticam impactos da Ferrogrão
Se for implementada, a Ferrogrão pode provocar um desmatamento que ultrapassa os 48 mil quilômetros quadrados (km²), considerando uma zona de amortecimento de 10 quilômetros no entorno das unidades de conservação, segundo um levantamento feito pela InfoAmazônia em parceria com o Joio e o Trigo. O empreendimento afetaria pelo menos 6 terras indígenas, 17 unidades de conservação e 3 povos isolados.
O número representa uma área 1.210% maior do que o total desmatado na Amazônia em 2024 (3.739 km², segundo dados do Imazon) e é superior à área territorial da Holanda (41.865 km²).
Takakpe Tapayuna Metektire, secretário da Federação dos Povos Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), criticou o modelo de desenvolvimento centrado na exportação de commodities em entrevista ao Brasil de Fato, durante a segunda marcha da 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), em abril deste ano em Brasília.
“Muita gente não entende, mas o agronegócio não produz comida para alimentar as pessoas. O agronegócio quer soja e milho para exportar. Enquanto isso, o preço da comida de verdade fica cada vez mais caro para todo mundo. Mas se destruírem a floresta só para aumentar o lucro de alguns, isso não vai prejudicar apenas quem vive nos territórios. Quem vive na cidade também sente as consequências. Afinal, a comida está cara para todo mundo, para indígenas e não indígenas”, disse.
“Todos precisam entender que proteger a Amazônia e os territórios indígenas é proteger o futuro de todos nós. Portanto, não precisamos exportar mais soja, precisamos de uma alternativa econômica que nos garanta vida”, afirmou o representante da Fepoimt na ocasião.
Segundo um parecer técnico elaborado pelo Grupo de Trabalho Infraestrutura e Justiça Socioambiental (GT Infra), que reúne cerca de 40 organizações na defesa socioambiental, a construção da Ferrogrão pode agravar a degradação de biomas que mantêm os recursos hídricos da bacia do Tapajós.