Por Mabel Dias*
Ao divulgar apenas o release da Defesa Civil da Prefeitura Municipal de João Pessoa, o portal g1 Paraíba deixou de informar para a sua leitora e leitor as reais causas dos transtornos causados à população no mês de maio. E a culpa não é da chuva, como sugere o release da Defesa Civil, publicado pelo g1 em 6 de junho de 2025, retirando assim a responsabilidade da gestão municipal em evitar os problemas que aconteceram na cidade, afetando a vida dos e das pessoenses, e causando a morte de um motociclista, que caiu em uma galeria, localizada entre os bairros de Paratibe e Valentina Figueiredo.
Para entender os transtornos que afetaram João Pessoa no período citado pelo portal g1 Paraíba, conversei com a geógrafa Andréa Porto Sales, que me explicou os motivos dos recorrentes alagamentos nos bairros da cidade, inviabilizando o ir e vir da população, além da queda de árvores e a retirada, às pressas, das pessoas de suas casas, por morarem em áreas consideradas de risco.
“Quando a capacidade de infiltração do solo é drasticamente reduzida pela urbanização (asfalto, concreto, impermeabilização total dos lotes) e os sistemas de macro e microdrenagem (galerias, canais, bueiros) são insuficientes, mal mantidos ou inexistentes em pontos críticos, o resultado é o acúmulo de água e os problemas que vemos”, explicou a geógrafa.
Sobre os 37 chamados, registrados pela Defesa Civil da prefeitura de João Pessoa no mês de maio e os imóveis interditados, Andréa Porto Sales alerta para a gravidade do problema de infraestrutura pelo qual a cidade passa. “A morte por queda em galeria pluvial é uma tragédia que escancara falhas de segurança e manutenção por parte da gestão. A adaptação da cidade a eventos climáticos, que tendem a se intensificar, passa urgentemente por revisitar o plano diretor, investir em infraestrutura verde e garantir a funcionalidade da drenagem existente”, indica.
Segundo a geógrafa, que também é professora na Universidade Federal da Paraíba e integra o Observatório das Metrópoles, o volume pluviométrico registrado em João Pessoa (588mm, 108% acima da média) evidencia a intensidade das chuvas, que é um evento natural e cíclico, vital para o meio ambiente. “Contudo, os impactos severos – alagamentos, vistorias, interdições e a lamentável perda de uma vida – são sintomas de uma desconexão entre o ciclo hidrológico e o planejamento urbano”, alerta Andréa.
As colocações feitas pela geógrafa evidenciam os problemas que a cidade de João Pessoa enfrenta e que a gestão municipal parece não estar preparada – ou não quer – lidar com as mudanças climáticas que afetam a capital. Nesse sentido, Ao fazer jornalismo declaratório, publicando apenas a nota oficial da Defesa Civil municipal, o portal g1 Paraíba perdeu a oportunidade em contextualizar o problema e cobrar da atual gestão onde estão sendo aplicados os valores recebidos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no valor de US$ 159,4 milhões de dólares, conforme informa matéria publicada no site da prefeitura.
O projeto João Pessoa Sustentável teve início na gestão do prefeito Luciano Cartaxo, mas ao que parece, não tem sido implementado adequadamente, pois a cidade enfrenta problemas frequentes nos períodos chuvosos, causando até a morte de pessoas.
Mais uma vez, a mídia paraibana preferiu culpar a chuva, como fez em fevereiro deste ano, e que também analisamos nesta coluna.
Enquanto isso, a população fica sem a informação completa para poder cobrar da gestão o seu dever e saber onde estão sendo aplicados os recursos vultosos que o governo municipal recebeu do BID, e que deveriam ser revertidos em benefício da cidade e de suas moradoras e moradores, cumprindo com o que diz o projeto, João Pessoa Sustentável.
**Mabel Dias é jornalista, associada ao Coletivo Intervozes, observadora credenciada do Observatório Paraibano de Jornalismo, mestra em Comunicação pela UFPB e doutoranda em Comunicação pela UFPE. Autora do livro A Desinformação e a Violação aos Direitos Humanos das Mulheres: um estudo de caso do programa Alerta Nacional (editora Arribaçã).
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.
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