O cenário geopolítico do Oriente Médio foi drasticamente alterado a partir de 12 de junho, com o início de um confronto militar direto entre o Estado sionista de Israel e a República Islâmica do Irã. Segundo o jornalista, cientista político e professor de relações internacionais Bruno Beaklini, o Estado sionista atacou a República Islâmica do Irã em um gesto de agressão que constitui um crime, uma violação do direito internacional.
O início dos confrontos e a resposta imediata
Conforme a análise de Beaklini, o ataque inicial de Israel foi precedido pelo envio de “uma chuva de drones para tentar atingir e bloquear a defesa antiaérea do país”. Na sequência, houve um bombardeio massivo com 200 caças, uma parte deles de última geração, F35, mas não só. Os alvos incluíram “edifícios inteiros de apartamento para criar pânico na população”, além de supostos “comando militar, guarda revolucionária, exército de defesa interno, entre outros”. Inclusive o reitor de uma universidade, que é um físico nuclear reconhecido.

O Estado sionista alegou que a ação seria uma resposta a um relatório anti-iraniano da Agência Internacional de Energia Atômica, que afirmava que o Irã não estaria cooperando com visitas e poderia enriquecer urânio para construir armas nucleares. Beaklini, no entanto, ressaltou que “a República Islâmica do Irã já disse e afirmou em 2014 e assinou o acordo em 2015 com os Estados Unidos que não ia fazer arma nuclear alguma”. Ele também apontou a ironia de que o Estado sionista, ao contrário, “nunca assinou nenhum tratado e o número de ogivas que eles têm que sejam operacionais nesse momento não se sabe. Podem ser 70, podem ser 400”.
A resposta iraniana, conforme relatado por Beaklini, foi imediata e de grande impacto. Já na manhã do dia 13 de junho, “a sexta-feira 13 do estado colonial sionista”, o Irã lançou “cinco levas de resposta com mísseis contra os territórios ocupados de 1948”. Essa ação, que visou importantes núcleos habitacionais inimigos, incluindo Haifa – “a cidade histórica Palestina apelidada de Tela Viv” –, e até mesmo “centros militares e também centros de pesquisa nuclear”, demonstrou a ineficácia do sistema de defesa aérea israelense.
Segundo Beaklini, “ficou provado que o domo de ferro, que seria a proteção antiaérea, inexpugnável do Estado sionista não dá conta de conter as chuvas de mísseis”. Ele enfatizou que as “operações de artilharia integradas do Irã evitam a perda de caças, podem usar os caças para sua defesa do seu espaço aéreo e conseguem atingir importantes núcleos habitacionais do inimigo”.
Um ponto de destaque na avaliação de Beaklini foi o desempenho da defesa aérea iraniana. “A defesa antiaéreo iraniana agora funciona a pleno vapor, criou um precedente histórico”. O professor sublinhou que “foi a primeira vez que um F35 foi abatido”. Ele também destacou a capacidade de disposição de luta da população iraniana, que está nas ruas e celebra cada defesa antiaérea como se fosse um gol do seu time.
O cenário internacional e a escalada do conflito
No plano internacional, as posições foram “muito distintas”. Segundo Beaklini, o Paquistão, como nação de maioria islâmica, “suportou de forma perfeita, maravilhosa, muito solidário ao Irã, já de primeiro momento, com declarações fortes na Assembleia Geral das Nações Unidas e conclamou os países de maioria islâmica se aliarem ao Irã de uma forma direta ou solidária”. Em contraste, Beaklini lamentou que “houve cedência do espaço aéreo de alguns países de maioria islâmica, infelizmente monarquias árabes”.
Os países da Otan e europeus, por sua vez, declararam que “Israel tem o direito de se defender”, uma posição que Beaklini critica severamente, afirmando que essa defesa se dá “mesmo quando a sua defesa é atacar um país que não declarou guerra contra ele. E mesmo quando a sua defesa permanente é matar civis, mulheres, crianças, bombardear as escolas, hospitais, fazer da fila da comida uma linha de tiro, contratar mercenários do Centro de Inteligência Americano (CIA)”. Ele considerou a postura do presidente francês Emmanuel Macron um “papelão” por apoiar o direito à defesa de Israel.
Sobre a atuação dos Estados Unidos, Beaklini destacou um “jogo duplo”. Embora o secretário de Estado Marco Rubio tenha inicialmente “afirmado: nós não tivemos nada a ver com esse ataque, apenas fomos informados, não colaboramos, não participamos”, o professor apontou evidências do envolvimento estadunidense. Ele notou que o espaço aéreo iraquiano está sob controle dos EUA, que não deixaram o Iraque “apesar do acordo realizado há mais de 2 meses e meio”, e que navios de guerra foram deslocados para apoiar o Estado sionista. Além disso, “com certeza houve reabastecimento no ar” para os caças israelenses, e os Estados Unidos também teriam auxiliado na “inteligência de coleta de residências de autoridade chave do Irã”.
A Rússia, segundo Beaklini, manifestou apoio ao Irã. Após contatos entre os presidentes Putin e Raisi, e uma “conversa mais operacional entre a base de Bach e Sergei Lavrov”, a Rússia declarou: “Nós estamos em contato com o Irã e vamos garantir a sua defesa”. Embora isso não implique entrada direta em guerra, Beaklini interpretou que o apoio logístico pode ser mútuo, e a capacidade de defesa da Rússia é “fantástica”, complementando a frente aeroespacial iraniana.
A Organização de Cooperação de Xangai também emitiu uma “excelente declaração” de apoio ao Irã. Beaklini observou que o Irã “não ia esperar 3, 4, 7 dias como em 2024 para responder. O que leva a um ponto positivo: aprenderam que, diante da iniciativa do inimigo, a resposta tem que ser imediata, não pode ser protelada nem pode ser protocolar, tem que ser direta”.
Novos ataques
Desde o ataque inicial de Israel na quinta-feira (12) e a resposta iraniana no dia seguinte, novos ataques seguem acontecendo. As forças armadas iranianas executaram na madrugada do domingo (15) mais uma sequência de ataques com projéteis contra Israel, com alertas sonoros acionados em diversas regiões israelenses, incluindo Jerusalém.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu o Irã que o país enfrentará “consequências severas” pelas baixas civis registradas em território israelense, onde 14 pessoas perderam a vida durante a madrugada em decorrência dos ataques com mísseis iranianos. Em contrapartida, as forças armadas israelenses conduziram bombardeios contra instalações militares e nucleares iranianas, além de depósitos de combustível em múltiplas cidades neste domingo.
Relatórios indicam que “foram registradas 80 vítimas fatais pelo lado iraniano e 14 em território israelense”. A situação na Palestina também permanece crítica, com Israel continuando a atacar a população de Gaza. Equipes de resgate registraram 16 mortes neste domingo em operações israelenses, a maior parte de civis atingidos enquanto aguardavam ajuda humanitária em pontos de distribuição.
