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Trump usa Forças Armadas como instrumento privado e aprofunda erosão da democracia nos EUA, avalia professora

Bárbara Motta aponta fragilidade democrática no país e alerta para avanço da repressão com apoio de base radicalizada

Os protestos contra as políticas migratórias repressivas do governo Trump, que tomaram as ruas de Los Angeles e se espalharam por outras cidades dos Estados Unidos nos últimos dias, refletem uma reação popular a medidas cada vez mais autoritárias da administração republicana. Para Bárbara Motta, professora de relações internacionais na Universidade Federal de Sergipe (UFS), as medidas violentas adotadas pelo presidente dos EUA evidenciam a “erosão contínua da democracia norte-americana”.

Entre as ações repressivas contra imigrantes, a especialista cita como preocupante o envio da Guarda Nacional e de fuzileiros navais à Califórnia sem o aval do governador local. A ação federal aconteceu após manifestações contra batidas migratórias que prenderam dezenas de pessoas, inclusive cidadãos dos EUA, e levou à detenção de um senador democrata.

“Vemos uma fragilização das relações civis-militares nos Estados Unidos, principalmente quando as Forças Armadas vêm sendo colocadas quase como uma força privada do governo Trump”, afirma Bárbara ao BdF entrevista, da Rádio Brasil de Fato. Ela lembra que o presidente já se referiu aos militares como “meus generais”.

Na análise de Motta, a simbologia militar também apareceu na promoção de uma parada das Forças Armadas em Washington no mesmo dia do aniversário de Trump. Segundo a especialista, o evento reforça a imagem de que “as Forças Armadas norte-americanas estão com a figura do governo Trump”, e não com o país como um todo.

Cresce insatisfação fora da base trumpista

Apesar da fidelidade de sua base mais radical, Motta acredita que há um setor da opinião pública que começa a se incomodar com os rumos do governo. “Existe um grupo intermediário que normalmente pendula entre democratas e republicanos, e que vem sendo, ainda de forma tímida, mobilizado contra certas medidas do governo Trump”, explica.

Ela destaca que o trumpismo se ancora em duas narrativas perigosas: a de que existem “verdadeiros estadunidenses” e o “resto”, mesmo que esse “resto” inclua cidadãos nacionais, e a de que o país estaria sofrendo uma “invasão de estrangeiros”. “Contra esse ‘resto’, pode-se usar a letalidade, pode-se até deportar nacionais”, alerta a professora.

Bárbara Motta também critica a postura dos democratas frente à escalada autoritária. Para ela, há uma “apatia” no campo progressista que pode comprometer as próximas eleições. “Se os democratas não começarem a construir uma oposição frutífera, as eleições de meio termo até podem ser favoráveis, mas sem força política para enfrentar as principais pautas do governo Trump”, analisa.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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