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Israel usa agência atômica como arma política e fabrica ameaça nuclear iraniana, diz pesquisador

Para Arturo Hartmann, Netanyahu usa retórica inflada para atacar Irã, que ainda está distante de obter bomba atômica

A retórica do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sobre uma suposta ameaça nuclear iminente por parte do Irã não se sustenta nos dados atuais, segundo análise do pesquisador Arturo Hartmann, do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos (CEAI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato. Segundo Hartmann, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem sido usada como “uma arma ou um ator no conflito” por Israel, que ignorou os alertas da instituição ao usar relatórios técnicos como justificativa para atacar o Irã.

Hartmann afirma que, apesar de o Irã possuir urânio enriquecido, ainda é necessário um salto tecnológico significativo para produzir um armamento nuclear. Ele lembra que até 2019, segundo a AIEA, o Irã não tinha urânio enriquecido a mais de 3,9%, por conta de um acordo do país firmado com os Estados Unidos durante o governo do ex-presidente Barack Obama. Em 2018, o presidente Donald Trump saiu do acordo, o que deu margem para o Irã ultrapassar esse limite.

“Não encontraríamos [bombas atômicas] se o governo do Irã caísse hoje. […] Segundo a última medição da agência atômica, nesse ano, o Irã tem um estoque de urânio a 60%, que já é muito mais enriquecido, mas ainda não é possível chegar na bomba porque não é simplesmente ter o urânio, tem que ter a tecnologia”, diz. Hartmann menciona que a diretora de inteligência dos EUA também declarou que Teerã não tem um programa ativo de armas nucleares. “Trump foi perguntado sobre isso e respondeu que não interessa”, aponta.

Israel depende dos EUA para sustentar guerra

Para o correspondente do Brasil de Fato Serguei Monin, que também participou da conversa, o objetivo central de Israel é minar a influência iraniana no Oriente Médio, mas esse movimento só é viável com apoio direto dos EUA. “Benjamin Netanyahu, pelo menos na retórica, quer destruir o programa nuclear iraniano, ou pelo menos minimizar completamente em termos de ameaça. Tem um projeto hegemônico na região, militar, econômico, político. Mas é muito difícil Israel conseguir manter essa guerra a longo prazo e conseguir minar, de fato, esse programa nuclear sem uma ajuda robusta dos Estados Unidos”, indica.

O jornalista acrescenta que, enquanto a Rússia busca se posicionar como mediadora, o real poder de decisão está nas mãos dos estadunidenses. “A Rússia quer mediar, tem uma relação forte com o Irã e uma relação ambígua, cautelosa com Israel. Mas é muito difícil ter as cartas na mesa agora, até porque a Rússia está enfurnada na guerra da Ucrânia e não vai ter uma proatividade maior do que um apoio diplomático, reforçando o direito internacional, uma condenação diplomática. Acho que o que vai determinar os próximos passos são os Estados Unidos”, avalia.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11 horas no Spotify e YouTube.

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