Os trabalhadores da construção civil em João Pessoa encerraram a greve nesta quarta-feira (18), após quase dois dias de paralisação nos canteiros de obras da capital. O movimento, iniciado na segunda-feira (16), foi motivado pelo descumprimento de um acordo coletivo firmado entre o sindicato da categoria (Sintricom-JP) e o Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon-PB) em abril de 2025, após audiência no Centro Judiciário de Métodos Consensuais de Solução de Disputas (Cejusc).
De acordo com Francisco Demontier, presidente do Sintricom, o recuo das empresas quanto à jornada de trabalho e demais cláusulas do acordo levou o sindicato a ingressar com uma ação de cumprimento na Justiça do Trabalho. “Encerramos o movimento de greve e aguardamos agora o pronunciamento do Tribunal Regional do Trabalho. A Justiça já deu um prazo de cinco dias para o Sinduscon se pronunciar”, afirmou.
Greve mobilizou mais de 10 mil operários na capital
A paralisação foi marcada por grande adesão, com mais de 10 mil operários cruzando os braços em protesto contra o descumprimento do acordo que previa, entre outras cláusulas, um reajuste salarial de 7,51%, melhoria no café da manhã, complementos na cesta básica e participação do sindicato na definição da jornada de trabalho. Segundo Demontier, “quase todas as empresas descumpriram os termos pactuados com a Justiça, ignorando os compromissos assumidos diante de uma juíza e de um procurador do Ministério Público do Trabalho”.
Empresas tentaram descaracterizar retroativos como abono
Outro ponto de tensão foi a tentativa das empresas de repassar as diferenças salariais como “abono”, o que o sindicato considera inaceitável. “Reforçamos que não se trata de abono, e sim de pagamento retroativo sobre a remuneração total que o trabalhador deveria ter recebido desde janeiro”, pontuou Demontier. Ele também alertou para o risco de retirada do papel do sindicato das negociações, deixando todas as decisões a cargo exclusivo das empresas.
Acordo firmado previa avanços básicos para a categoria
O acordo judicial previa reajuste de 7,51% com pagamento retroativo desde janeiro, reforço no café da manhã — que passaria a incluir pão com manteiga, queijo, ovo e café —, acréscimo de itens na cesta básica como flocão e sardinha a partir de maio, e inclusão de rapadura a partir de 2026. Ainda estava previsto que a jornada de trabalho só poderia ser alterada mediante assembleia com os trabalhadores e homologação pelo Ministério do Trabalho.
Categoria denuncia exploração e pressão nos canteiros
Para os trabalhadores, a greve foi uma resposta à precarização e ao desrespeito. “A gente sai de casa às 5h30 da manhã e só volta à noite. Querem que a gente trabalhe até nos feriados, por pressão psicológica. Isso não é vida”, desabafou o pedreiro Ítalo Jones. O carpinteiro Roberto Pereira reforça: “Tentamos o diálogo, mas fomos ignorados. A greve foi o único caminho para exigir o cumprimento do acordo”.
Construção civil segue aquecida, mas trabalhadores denunciam abandono
O setor da construção civil vive um momento de crescimento. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o Brasil criou mais de 110 mil novos postos formais no setor em 2024. Só na Paraíba, foram mais de 52 mil trabalhadores empregados na construção civil, responsável por 10% dos empregos no estado. Ainda assim, os operários denunciam que não estão colhendo os frutos desse avanço.
Expectativa é que Justiça obrigue empresas a cumprir acordo
“O capital se recusa a valorizar quem ergue as cidades. A greve denuncia essa lógica. Só a pressão coletiva pode forçar o cumprimento de direitos mínimos”, afirmou Demontier. O Sintricom aguarda a decisão da Justiça do Trabalho sobre a ação de cumprimento.