O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, rechaçou as afirmações de líderes europeus que acusam o país de ter deixado a mesa de negociações por uma acordo sobre o uso de energia nuclear.
Araqchi ressaltou que foram os ataques, primeiro de Israel e agora dos Estados Unidos que arruinaram a diplomacia e as negociações. “Na semana passada, estávamos em negociações com os EUA quando Israel decidiu destruir essa diplomacia”, publicou Araqchi em sua conta no X, neste domingo (22).
“Os EUA decidiram acabar com essa diplomacia. Que conclusão você tiraria? Para o Reino Unido e o Alto Representante da UE, é o Irã que deve ‘retornar’ à mesa. Mas como o Irã pode retornar a algo que nunca deixou, muito menos explodiu?”, questionou.
O conflito entre Irã e Israel chega ao 10º dia. Neste sábado (21), um ataque dos EUA a três instalações nucleares no país: Fordow, Natanz e Esfahan provocou uma nova escalada no conflito.
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o ataque em sua rede Truth Social e depois fez um pronunciamento televisionado. “Trabalhamos para apagar, eliminar. Essa foi a defesa de milhares de pessoas que estão no Oriente Médio e no mundo todo. Ou haverá paz, ou haverá tragédia para o Irã”.
A assessoria de assuntos estratégicos do Parlamento do país persa afirmou que o ataque era esperado. “Do ponto de vista do Irã, nada de extraordinário aconteceu. O Irã já esperava um ataque a Fordow há várias noites. O local já foi evacuado há muito tempo e não sofreu danos irreparáveis no ataque”, afirmou a nota.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que não há registros de aumento em níveis de radiação após os ataques, o que indica que não houve vazamento nos locais atacados.
Repercussão
O premiê britânico, Keir Starmer, defendeu a ação dos EUA e acusou o Irã de abandonar às negociações. “O Irã jamais poderá desenvolver uma arma nuclear, e os EUA tomaram medidas para mitigar essa ameaça. A situação no Oriente Médio permanece volátil e a estabilidade na região é uma prioridade. Apelamos ao Irã para que retorne à mesa de negociações”, afirmou.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, ignorou a ação dos EUA e afirmou que uma solução duradoura “requer uma solução negociada no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parabenizou Trump e disse que ação “mudará a história”.
Já o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que os ataques dos Estados Unidos contra o Irã representam uma “escalada perigosa em uma região que já está no limite e uma ameaça direta à paz e à segurança internacional”.
América Latina
Os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da Venezuela, Nicolás Maduro, condenaram o ataque dos Estados Unidos.
“Este ato incendeia o Oriente Médio. Temos que exigir, como seres humanos, cara a cara e sem abaixar a cabeça, exigimos a paz mundial”, afirmou Petro. A chancelaria colombiana também emitiu nota ressaltando que o ataque desrespeita normas internacionais.
“Condeno de maneira categórica e firme o ataque vil perpetrado pelos EUA contra a República Islâmica do Irã. Isto foi uma ação criminosa que viola as normas do Direito Internacional, a Carta das Nações Unidas e até mesmo ignorando as leis estadunidenses, colocando em perigo a vida e a paz”, declarou Maduro.
Em publicação na rede social X, Díaz-Canel condenou “energicamente o bombardeio dos EUA contra instalações nucleares do Irã”. “A agressão constitui uma grave violação da Carta da ONU e do direito internacional e mergulha a humanidade em uma crise de consequências irreversíveis”, completou.