É inacreditável que em 2025 estejamos assistindo ao vivo ao genocídio do povo palestino e ao avanço da guerra imperialista travada por Israel no Oriente Médio, com o total apoio de Donald Trump e dos EUA. Uma guerra travada por homens, motivada pelo mesmo projeto colonial, capitalista, racista e patriarcal que historicamente destrói vidas e territórios por todo o planeta. Uma guerra que, em Gaza, mata cerca de 50 palestinos por dia, que mira em pessoas nas filas de distribuição de comida, nos campos de refugiados, nos hospitais e nas escolas.
Os bombardeios israelenses em Gaza, no Líbano, no Iêmen, na Síria e no Irã não são sobre religião ou rivalidades culturais e étnicas, mas sobre, fundamentalmente, o controle da produção energética e a disputa por petróleo. É uma questão econômica. O projeto colonial sempre serviu à manutenção das desigualdades sociais que mantêm o poder das elites dominantes, garantindo a subordinação e a dependência dos países do sul global.
Com o ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, no último fim de semana, fica mais nítida essa movimentação imperialista. O mundo todo está em perigo e a economia mundial deve ser afetada, já que o Irã está entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo e ainda controla o estreito de Ormuz, região marítima localizada entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, por onde é transportado entre 20% e 30% de todo o petróleo produzido no mundo.
Um eventual fechamento desse estreito, como já foi indicado pelo parlamento do Irã, vai impactar imediatamente a economia do mundo todo, aumentando o preço do petróleo. O resultado disso é aumento da inflação global e do preço de tudo, como transporte, alimentos e energia, intensificando ainda mais a carestia, a fome e a desigualdade social, inclusive no Brasil. A guerra de Trump e de Netanyahu é, antes de tudo, uma operação ideológica, um recado para a China e para os Brics, que, de certa maneira, questiona a supremacia estadunidense.
Não há tempo nem espaço para a neutralidade
Diante dessa realidade que coloca o planeta em risco, não há tempo nem espaço para a neutralidade, muito menos para qualquer apoio a Israel. A nossa luta deve ser pela paz, pelo cessar-fogo em Gaza e em todo o Oriente Médio, e pelo fim de todas as relações econômicas e diplomáticas com Israel. Somente a solidariedade e discursos duros contra o genocídio palestino não são suficientes, como tem feito o presidente Lula e o Itamaraty. Medidas concretas, como o fim do acordo de livre comércio Brasil-Israel, a suspensão de cooperação militar e o embargo energético são fundamentais e necessários.
É nesse sentido que nós, da bancada de esquerda da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), nos posicionamos em repúdio logo quando soubemos da viagem do prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, a Israel. A viagem custeada por Israel, a princípio para participar do um evento sobre segurança, continha um lobby para divulgar a versão israelense sobre o genocídio de palestinos na Faixa de Gaza. Damião e a comitiva brasileira, composta por prefeitos e políticos majoritariamente de direita, caíram em uma armadilha e acabaram escondidos em bunkers.
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Aqui no Brasil, mal falamos dos atos que ocorreram no mundo todo em repúdio à Israel e pela abertura dos corredores humanitários na Faixa de Gaza. Mal falamos da Marcha Global para Gaza, que reuniu milhares de pessoas de diversas nacionalidades em Rafah. As notícias sobre os prefeitos presos nos bunker, pareciam muito mais interessantes.
Romeu Zema fez tão feio quanto Álvaro Damião. Em sua conta no X, se solidarizou com Israel e ainda classificou as respostas do Irã como “covardes”. Cada vez mais, Zema se associa à extrema direita, dessa vez, se filiando ao sionismo e à prática cretina de manipulação da informação que coloca Israel como a grande vítima da guerra. É o mesmo discurso dos parlamentares do PL, como presenciamos em audiência pública, na terça-feira (17), na Câmara Municipal de Belo Horizonte. A atividade foi convocada pela minha companheira de partido Juhlia Santos (Psol), junto do Comitê Mineiro de Solidariedade ao Povo Palestino.
A política de Israel e dos Estados Unidos é de morte, disposta a colocar o planeta inteiro em risco, pela guerra ou pelo aprofundamento da crise climática
Na ocasião, vimos uma tentativa fajuta e desesperada dos vereadores da extrema direita de defender Israel, recorrendo, inclusive, ao argumento de que em Tel Aviv existe uma “parada gay”, portanto seria um país que defenderia o direito das LGBTQIAPN+ e das mulheres. Um show de horrores e de desrespeito com os palestinos presentes na audiência. O esforço que fazem é de defender o indefensável, defender um Estado que tem como premissa uma política de extermínio de povos em nome de Deus, assim como foi o genocídio dos indígenas nas Américas e dos povos e culturas de África.
Isso tudo em nome do lucro, do poder. Tudo isso por petróleo. A política de Israel, financiada pelos Estados Unidos de Trump, é uma política de morte, disposta a colocar o planeta inteiro em risco, seja pela guerra ou pelo aprofundamento da crise climática. Por isso tudo, qualquer tentativa de passar pano ou estreitar laços com esse Estado, é repugnante.
Da nossa parte, sigamos atentas e disputando as narrativas, colocando Israel em seu devido lugar de genocida, imperialista e capacho dos Estados Unidos. Não deixaremos que essa história seja contada apenas por aqueles que matam, destroem e colocam nossos corpos, vidas e territórios em risco. Contaremos, sempre, a história a partir da resistência. Pela Palestina livre, do rio ao mar. Pela paz e pelo cessar-fogo imediato no Oriente Médio.
Iza Lourença é vereadora em BH pelo Psol.
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Leia outros artigos de Iza Lourença em sua coluna no Brasil de Fato MG.
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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.