Ouça a Rádio BdF
Bruno Pedralva é médico do SUS e vereador em Belo Horizonte pelo PT.  

Cuidar do povo é garantir transporte gratuito na cidade

10% da população de BH gasta um terço de sua renda com o transporte

O custo de vida em Belo Horizonte é um dos mais caros de toda a América do Sul e o transporte público é um dos principais vilões do orçamento do trabalhador de BH. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que os 10% da população mais pobre da nossa cidade gastam até um terço de sua renda com o transporte.

Um gasto que nunca se converte em qualidade e nem em acesso. As tarifas aumentam todo ano, mesmo com a prefeitura desembolsando R$750 milhões de subsídio, valor previsto para 2025. A tarifa do metrô também aumenta e as promessas de ampliação vão ficando para trás. No Japão, Romeu Zema faz propaganda do metrô privatizado. No Barreiro, os moradores lutam para que a linha prometida para a região não seja de mão única, uma “via singela”.

:: Acompanhe o podcast Visões Populares e fique por dentro da política, cultura e lutas populares de MG e do Brasil ::

Os usuários se aglomeram em veículos sucateados, enfrentando ônibus sem ventilação e com goteiras, oferta reduzida de frota e tarifas exorbitantes. É fato que da forma como está, a mobilidade urbana na nossa capital não tem futuro.

Enquanto BH caminha na contramão da garantia digna de transporte público, outras cidades mineiras avançam.

Em Juiz de Fora, a Câmara Municipal começou a discutir a implementação da tarifa zero, proposta no Projeto de Lei 4.692 de autoria da prefeita Margarida Salomão (PT). Com a notícia, o município pode se tornar a primeira cidade mineira com mais de 500 mil habitantes a adotar a gratuidade no transporte coletivo.

Em São João Del Rei, o transporte gratuito se tornou realidade neste mês, assim como já acontece há anos em outras cidades do estado, como Mariana, Caeté, Itatiaiuçu, entre outras.

Podemos avançar e cuidar de BH!

Na Câmara Municipal de BH, estamos em luta para que a nossa cidade se torne a primeira capital do país a adotar a Tarifa Zero! Nosso Projeto de Lei 60/2025, cria o Programa Municipal de Incentivo ao Uso do Transporte Público Coletivo por ônibus, construindo condições para que o transporte gratuito não seja apenas uma utopia, mas uma conquista concreta do povo.

A proposta é viável e só traz benefícios para o povo e para a cidade.

Como médico de família e comunidade, que atua há 15 anos no SUS da periferia de BH, presenciei inúmeras situações em que o custo da tarifa de transporte foi um entrave para que os usuários acessassem serviços gratuitos de saúde.

Para se ter uma ideia, BH hoje tem uma fila de espera de 600 mil pessoas que aguardam exames e consultas especializadas em BH e mesmo assim, o absenteísmo é de 40%. Um reflexo do peso que o custo de deslocamento traz à saúde. Além disso, existem outros efeitos secundários da tarifa zero que podem melhorar a saúde da população.

Se hoje um trabalhador gasta cerca de um terço da sua renda com transporte, com a Tarifa Zero esse valor poderá ser investido em alimentação, educação, moradia, lazer e em qualidade de vida. Queremos que em BH as pessoas se desloquem não apenas para ir trabalhar, mas para conhecer e viver a cidade. Sem o custo do transporte, o lazer se torna algo muito mais palpável, principalmente para quem mora nas periferias.

A atual política de mobilidade urbana da capital mineira, baseada no alto custo das tarifas e na precariedade e má qualidade do transporte, faz com que muitos optem pelo uso de veículos particulares para se locomover. O resultado é um trânsito caótico, que deixa a vida das pessoas cada vez mais difícil.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Hoje, o setor de transporte é responsável por 57% da emissão total de gases de efeito estufa em BH. E essa também é uma das nossas grandes preocupações com a proposta da Tarifa Zero. A gratuidade estimula o uso do transporte coletivo em detrimento do particular, desafogando o trânsito na nossa cidade e reduzindo significativamente a emissão de gases de efeito estufa.

Realocação de recursos

Para tornar tudo isso possível, construímos uma política de mobilidade fundamentada na realocação de recursos que hoje já são investidos pela prefeitura. Atualmente, o subsídio do executivo municipal para o transporte público é de cerca de R$750 milhões. Um recurso que hoje é utilizado para garantir a margem de lucro das concessionárias de transporte público.

Além disso, também propomos – assim como está sendo feito em Juiz de Fora – a Taxa de Transporte Público. A medida desafogará os custos do setor empresarial com o deslocamento de seus funcionários, eliminando o pagamento do vale transporte. Em contrapartida, as empresas deverão contribuir, simbólica e proporcionalmente, com o Fundo Municipal de Melhoria da Qualidade e Subsídio ao Transporte Coletivo. Já os pequenos empresários, com menos de dez funcionários, serão totalmente isentos do custo com o transporte.

A tarifa zero só traz vantagens para a cidade. O Projeto de Lei foi assinado por 22 vereadores, mas precisa de 28 votos para ser aprovado, portanto precisamos de mobilização popular para garantir essa vitória para BH.

Ter uma cidade melhor para viver é possível. Ter tarifa zero em BH também!

Bruno Pedralva é médico do SUS e vereador em Belo Horizonte pelo PT  

Leia outros artigos de Bruno Pedralva em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Veja mais