O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, respondeu à denúncia de que o seu ex-chanceler, Álvaro Leyva, buscou apoio dos Estados Unidos para tentar um golpe em Bogotá. Em publicação na rede social X, o mandatário afirmou ser “vítima de insultos” do ex-ministro e disse ter ajudado Leyva.
A denúncia de uma articulação entre Leyva e os EUA foi publicada pelo jornal espanhol El País. Segundo a publicação, o chanceler se reuniu há dois meses com assessores da Casa Branca para tentar apoio para um plano de derrubar Petro. O jornal afirma ter tido acesso a áudios que provam uma aproximação entre Leyva e o secretário de Estado, Marco Rubio, para intensificar uma “pressão internacional” contra Bogotá.
“Durante meses, fui alvo dos insultos do senhor Leyva. Eu apenas quis responder ao que considerei um ato bárbaro e covarde de vingança, vindo de alguém a quem ajudei de forma genuína, com o coração. Esse episódio me leva a refletir sobre o comportamento daquilo que chamo de oligarquia da qual Leyva, sem dúvida, faz parte. Trata-se de um grupo que enxerga o Estado como uma herança, como se tivesse o direito de negociar com o dinheiro público. É um grupo incapaz de estabelecer relações pautadas no respeito ao outro e aos seus argumentos. Seria ingênuo esperar esse tipo de atitude deles”, disse o mandatário.
Ainda de acordo com o El País, Leyva teria chamado Petro de um “homem errático, com sérios problemas com drogas e que guardava provas que o desqualificavam para o cargo”. Os supostos áudios teriam a voz de Leyva dizendo que deveria “se livrar” de Petro antes de um acordo nacional. O acordo a que ele se refere são os diálogos de paz que o presidente propõe desde o início de seu mandato com as guerrilhas. Para o ex-ministro, a “ordem pública saiu do controle”.
O ex-chanceler e seu filho, Jorge Leyva, têm um canal aberto de comunicação com integrantes do Partido Republicano. Por meio dessa interlocução, ele conversou com Mario Díaz-Balart, deputado pelo Estado da Flórida e um dos principais expoentes contra governos de esquerda latino-americanos no Congresso estadunidense.
Em sua publicação, Petro questiona também a “ajuda” que deu a Leyva ao colocá-lo no cargo de ministro das Relações Exteriores, “sem qualquer cálculo político”. O presidente lembrou do processo de paz entre o seu grupo armado político, Movimento 19 de Abril, e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ponderou sobre a participação de Leyva naquele momento.
“Achei que ele o merecia no fim da vida. Eu estava enganado, pensando que ele tinha uma vocação genuína para a paz. Leyva não ajudou de fato o processo de paz do M19, mas esteve comprometido com o processo das Farc por décadas. Eu pensava que ele havia sido perseguido por isso; agora, conhecendo-o pessoalmente, acredito que ele também buscava outras razões, menos sagradas, para a paz”, disse o presidente.
Leyva deixou o cargo de ministro após o Ministério Público abrir uma investigação contra ele por “exceder suas funções”. A investigação foi motivada por um cancelamento, em 13 de setembro de 2023, de licitação para escolher a empresa que emitiria os passaportes colombianos. Ele foi afastado por três meses antes de deixar a pasta.
Segundo o MP, o ministro das Relações Exteriores não tinha nenhuma fundamentação técnica para isso. A única empresa que restava no processo era a Thomas Greg & Sons de Colombia SA. À época, Petro defendeu o ministro, disse que essa é uma manobra do MP e que Leyva seguiu suas ordens.
Na publicação deste domingo, porém, Petro defendeu que o processo de licitação foi “marcado por corrupção desde o início” e que, por isso, pediu que o processo fosse interrompido.
“No Conselho de Ministros, ordenei que ele não o prosseguisse, pois os termos de referência já determinavam o vencedor. Ele deixou o processo ir longe demais, contrariando minhas instruções, e, ao suspendê-lo, cometeu irregularidades que lhe custaram a vida pública. A imprensa noticiou a presença de seu filho em um hotel no exterior, discutindo o assunto. Fiquei descontente ao ver que, em minhas viagens a eventos internacionais oficiais, seu filho sempre comparecia às refeições oferecidas por minha delegação. Ele não mencionou isso em suas cartas. Mas ele deveria ter dito a verdade, não suas suposições fofoqueiras”, disse Petro.