O Senado Federal é um dos espaços mais blindados da política brasileira: bem pouco permeável às mudanças que a sociedade brasileira vem demandando há décadas. Um território desenhado para garantir que as decisões sobre o futuro do país, de impeachment de presidentes a mudanças constitucionais, continuem nas mãos de uma elite formada em sua imensa maioria por homens brancos, proprietários de grandes fortunas e terras, e distantes das periferias onde o povo brasileiro enfrenta as consequências das desigualdades estruturais.
A renovação política que vimos surgir em alguns estados, com novas lideranças populares e representativas alcançando cargos legislativos, ainda é insuficiente no Senado. Essa realidade custa caro à população do País.
O Congresso hoje é uma trincheira da agenda ultraliberal, onde projetos que atacam direitos sociais encontram respaldo e fluem com facilidade. Ao longo da última década, vimos tramitar projetos que atacam direitos trabalhistas, que desmontam políticas ambientais, que ameaçam a soberania alimentar e que fecham os olhos para a fome, o desemprego e o racismo, como a PEC do Teto de Gastos, para citar um exemplo. Não podemos permitir que esse Congresso siga sendo inimigo do povo.
Não é um detalhe que hoje, passados quase 200 anos da instalação do Senado, sejam raríssimas as mulheres que ocuparam uma cadeira naquela casa. Menos ainda pessoas negras, indígenas ou vindas de movimentos sociais. Essa exclusão se sustenta numa estrutura que criminaliza as periferias, embranquece os espaços institucionais e naturaliza que as decisões sejam tomadas por quem já concentra renda, poder e influência.
Esse cenário ajuda a entender porque medidas tão caras à vida da população sempre encontram obstáculos ali. Nos momentos em que o Brasil teve governos progressistas, ficou evidente que políticas públicas transformadoras sempre precisaram enfrentar a resistência de um Congresso hostil. Essa lição precisa ser aprendida e levada a sério.
Quando se debate, por exemplo, taxar grandes fortunas, regulamentar a mídia, fazer reforma agrária de verdade ou ampliar direitos trabalhistas, reduzir privilégios dos mais ricos e desenvolver políticas de redução da desigualdade, a reação costuma vir no Congresso. Quando se discutem políticas de igualdade racial, cotas de gênero, demarcação de terras indígenas e enfrentamento ao feminicídio, a resistência também brota de lá.
Um espaço que deveria servir ao povo é guardião de uma ordem desigual e injusta que beneficia poucos e sacrifica muitos. Um Congresso que faz de tudo para tornar governos progressistas reféns de suas manobras. Tudo para impedir que um projeto de país mais justo, escolhido nas urnas, seja implantado de fato.
O debate sobre cotas para mulheres no Congresso é um exemplo eloquente de como opera essa resistência conservadora. Recentemente, o senador Davi Alcolumbre afirmou que cotas “não são um caminho razoável” para ampliar a participação feminina. Não é à toa que figuras como ele se sentem tão à vontade para declarar isso sem constrangimento algum. Na prática, ele está afirmando que a sub-representação histórica de mulheres deve continuar. O que ele e tantos outros querem é manter tudo como sempre foi: a política como um clube fechado onde só entra quem se parece com eles.
Não há como construir um Congresso comprometido com a justiça social se essa mentalidade permanecer. Por isso, a disputa de 2026 precisa ser tratada com a importância estratégica que tem. Não se trata apenas de eleger indivíduos, mas de disputar um projeto de país. Um projeto que enfrente a desigualdade absurda, a precarização e a superexploração dos trabalhadores, o racismo institucional e o machismo estrutural como pilares de sustentação do atraso político.
Não é por acaso que a eleição de 2026 já movimenta a extrema-direita com tanta voracidade. Essa eleição será palco de uma tentativa agressiva de consolidar uma maioria de extrema-direita para sabotar avanços mínimos e bloquear alianças com o campo popular. O bolsonarismo e seus satélites parlamentares já preparam candidaturas, com recursos abundantes e forte estrutura midiática, justamente para manter o Congresso como esse território de retrocessos.
É preciso denunciar o caráter elitista das duas casas que compõem o Congresso e, ao mesmo tempo, construir uma agenda popular que apresente propostas concretas de transformação e enfrente o projeto político bolsonarista, que usa a desinformação como método e o moralismo seletivo como instrumento de guerra cultural.
O Senado pode seguir sendo o terreno onde elites se protegem ou pode se tornar um espaço de ampliação de direitos. Essa escolha não se fará sozinha. Ela depende de mobilização popular, coragem política e compromisso com quem mais precisa do Estado.
Em Pernambuco e em todo o país, a disputa será acirrada. Não podemos mais aceitar tão naturalmente a ideia de que herdeiros políticos, homens brancos e ricos, têm legitimidade automática para ocupar o Senado. A esquerda e os movimentos populares que lutam por justiça social devem expandir suas cadeiras nesse espaço. Ocupar e enegrecer o Congresso significa disputar todas as esferas do poder, sobretudo aquelas que historicamente nos foram negadas.
É essa ousadia que o momento exige. Porque a democracia não amadurece se o povo continuar fora das decisões centrais. Porque a justiça social não se constrói apenas por decretos, mas pelo enfrentamento corajoso de estruturas que vivem para proteger privilégios.
O Senado precisa ser arejado pela força das lutas populares, pela dignidade de quem trabalha, pela coragem das mulheres negras, pelo compromisso de quem quer um Brasil para todas as pessoas.
Quem acha que a política deve seguir sendo um feudo fechado precisa ser enfrentado com organização, porque do lado de cá tem gente organizada, com esperança e com pressa. Sabemos que quando o povo decide e se movimenta para ocupar espaços que sempre lhe foram negados, nada consegue conter essa força.
Em 2026, a história pode ser escrita de novo. Que sejamos parte dela, porque a gente não aceita menos do que democracia plena, justiça social de verdade e poder popular como bússola para o futuro.
Essa disputa é de todas e todos nós. Precisamos ocupar o poder.