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‘Eu sou uma artista da experiência e do experimento’, diz Luiza Lian sobre processo criativo

A cantora e compositora paulistana, referência da cena independente, conta sobre os bastidores do seu álbum mais recente

“Eu acho que eu sou uma pessoa que pensa muito imageticamente, mas eu não fico muito presa nisso. Acho que sou uma artista da experiência e do experimento.” É com essa definição que Luiza Lian abre o episódio 67 do podcast Sabe Som?. Em conversa com Thiago França, ela resume o território simbólico por onde transita em sua produção musical, um campo onde a arte não busca resposta, mas se rende ao mistério.

A cantora e compositora paulistana, referência da cena independente brasileira, conta sobre os bastidores do seu álbum mais recente, que ela descreve como um chamado interior. “Esse disco tem algo de recolhimento, de caverna. E eu senti que ele ia me demandar uma transformação, um recolhimento mesmo.”

Lançado em julho de 2023, 7 Estrelas | quem arrancou o céu?, o disco de Luiza Lian, produzido em parceria com Charles Tixier, conta com dez músicas inéditas. A faixa que dá nome ao álbum teve a participação de Maria do Céu Whitaker Poças. O trabalho representa, segundo a própria cantora, “um caminho espiritual de desvelar a realidade.”

O mergulho, diz ela, foi longo e muitas vezes confuso. “É muito difícil falar de um processo criativo que não tem racionalidade. Ele tem sentimento, mas não tem racionalidade.” Ainda assim, Luiza explica que há uma força no que não se nomeia. “Essa foi a sensação que eu tive: ‘Tá acontecendo alguma coisa e eu preciso confiar que tá acontecendo’.”

Bloqueio criativo

Luiza também compartilha os desafios de lidar com o silêncio e a pausa. Depois de um período de muita exposição e criação intensa, veio o bloqueio criativo. “Fiquei dois anos meio com medo, sem conseguir escrever, sem conseguir criar. Pensando: ‘Putz, será que acabou? Será que foi só isso?’”

Além de todas as barreiras que englobam a produção e o lançamento de um disco, a cantora reforça que teve obstáculos adicionais fora “os desafios nas minhas próprias canções”, visto que, a criação de 7 estrelas iniciou-se às vésperas da pandemia, enquanto o Brasil vivia sob um governo conservador. Luiza relembra as dificuldades impostas pelo “momento do Bolsonaro e das suas fake news”, recordando sobre o mandato do ex-presidente.

Apesar dos obstáculos resultantes da gestão reacionária e do momento que o mundo vivia, a cantora exalta a forma como retomou sua inspiração e descreve o processo de retorno à criação como algo sutil e exigente. “Era algo que estava se manifestando ali e eu não sabia exatamente o que era. E eu acho que essa é uma sensação muito comum dos processos criativos.”

A artista também afirma que “a arte que faço é como uma matéria muito viva”, e ao descrever sua relação com a performance também exalta que “tem uma força que entra em mim quando eu canto, que eu não sei o que é, mas eu sinto.”

“Tem coisa que só acontece no silêncio”

A travessia criativa que resultou no disco 7 estrelas também foi uma jornada de escuta. “O tempo inteiro a gente está performando entendimento, a gente quer entender. Só que tem coisas que a gente só sente. Não entende”, explica a cantora.

Luiza conta que, durante o processo do disco, se permitiu não saber. “Tem uma força que me move e que eu acho que não é racional. E eu fui confiando nela, eu fui me deixando levar por ela.” O resultado é um trabalho que mistura o sagrado com o sensorial, e que deixa espaço para que cada ouvinte também “atravesse sua própria experiência”.

Mesmo trabalhando com imagem e estética, ela afirma que prefere não controlar demais o significado das obras. “Eu não quero dar uma resposta para o que é. Porque eu acho que tem coisa que é pra ser vivida”. Luiza reafirma ainda sua escolha de continuar criando a partir do que é verdadeiro, mesmo que isso exija tempo, silêncio e desapego. “Acho que tem alguma coisa que se manifesta no silêncio que é muito difícil de acessar com barulho. E que a gente precisa aprender a escutar.”

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