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CAPOEIRA REGIONAL

Paraibano João Pitoco vence Berimbau de Ouro 2025 com pesquisa inédita sobre Mestre Bimba e defesa do Quilombo de Paratibe

Obra inclui gravações inéditas de Mestre Bimba e genealogia usada em defesa judicial do Quilombo de Paratibe

02.jul.2025 às 18h17
João Pessoa (PB)
Redação
Paraibano João Pitoco vence Berimbau de Ouro 2025 com pesquisa inédita sobre Mestre Bimba e defesa do Quilombo de Paratibe

Gravações inéditas de Mestre Bimba, feitas nos anos 1940 e esquecidas por décadas, foram redescobertas por João Pitoco em sua pesquisa - Foto: Fernanda Silva do Nascimento

O capoeirista e pesquisador João Pitoco, da Paraíba, foi um dos homenageados com o Berimbau de Ouro 2025 — principal prêmio dedicado à capoeira no Brasil e no exterior. Ele é o único paraibano premiado este ano e foi reconhecido por seu trabalho pioneiro de resgate histórico da capoeira regional e sua atuação em defesa do Quilombo de Paratibe, em João Pessoa.

Card | Divulgação

Com um livro (Mestre Bimba – o sonho de Salomão – por João Paulo de Araújo Pereira – João Pitoco) baseado em fontes primárias raras, Pitoco revelou gravações inéditas de Mestre Bimba e produziu uma genealogia documentada das famílias quilombolas de sua região, usada atualmente em processos judiciais de regularização fundiária. Além disso, coordena um projeto social que integra capoeira, reforço escolar, música e empreendedorismo cultural com jovens do quilombo urbano.

Nesta entrevista, ele fala sobre o significado do prêmio, os desafios da capoeira nas escolas, o preconceito ainda enfrentado por praticantes da arte e os próximos passos de sua missão: fortalecer a memória e o futuro da capoeira paraibana. Confira.

Brasil de Fato PB: Você acaba de ser premiado com o Berimbau de Ouro 2025, um dos maiores reconhecimentos da capoeira no Brasil e no mundo. Como foi receber essa homenagem e o que esse prêmio representa para você pessoalmente?

João Pitoco: Receber esse prêmio foi uma grande felicidade. É sempre bom, pra quem trabalha com cultura, ser valorizado e ter seu trabalho reconhecido em vida. A gente costuma ver muita homenagem acontecer só depois que a pessoa falece, aí tem repercussão, reportagens, homenagens… Mas quando aquela pessoa tava viva, não foi tão reconhecida assim. Então, ser valorizado em vida tem um gosto muito especial. Fico muito grato por isso.

É bonito (refrão)
Olha Seu Bimba dizia
Mas dizia com um grito
Quando a charanga gemia
Depois soprava o apito
Olha que eu disse que lá na Bahia
Mas Seu Bimba dizia bonito
Êh, Mestre Bimba dizia
Mas Seu Bimba dizia com um grito
Quando a mandinga corria
Logo a charanga gemia
E depois já soprava o apito
Olha que eu disse que lá na Bahia
Pois Seu Bimba dizia bonito
Êh bonito
(Mestre Careca (Gilmar Caldas )

Brasil de Fato PB: Sendo o único paraibano premiado este ano, qual é o significado desse reconhecimento para a capoeira da Paraíba e para os movimentos culturais do estado?

João Pitoco: Olha, historicamente, os três maiores centros de capoeira sempre foram Salvador, Recife e Rio de Janeiro, que foram os locais que mais receberam pessoas escravizadas. Eu, sendo paraibano, já fujo desse eixo tradicional. Além disso, ainda não sou mestre, e escrevi sobre Mestre Bimba sem ter sido aluno direto dele — o que também é um diferencial.

A maioria dos livros sobre Bimba são escritos por ex-alunos, baseados na memória, que a gente sabe que pode ser falha. O meu trabalho teve um enfoque historiográfico, com base em fontes primárias: jornais de época, documentos e tudo mais. Foi um grande desafio, porque além de não ser conhecido, meu livro trouxe informações inéditas que nem a família e nem os próprios alunos do Mestre Bimba conheciam.

Card | Divulgação – Imagem:Ítalo Monteiro

Brasil de Fato PB: Na sua visão, qual a importância de uma premiação como o Berimbau de Ouro para a valorização da capoeira e das culturas afro-brasileiras?

João Pitoco: O Berimbau de Ouro é um prêmio muito especial, porque não vem do poder público — ele é organizado pelos próprios capoeiristas. Tem um colegiado com mestres renomados e experientes, e quem está mais à frente é o Mestre Máximo, lá de Salvador. Isso dá ainda mais valor ao prêmio, porque são pessoas que entendem profundamente de capoeira reconhecendo o seu trabalho.

Além disso, é uma premiação que já tem vários anos, é consistente, acontece todo ano e mantém uma seriedade muito grande. Isso mostra o quanto a capoeira e a cultura afro-brasileira têm força e merecem esse tipo de reconhecimento.

Brasil de Fato PB: Você é autor de uma das mais completas obras sobre Mestre Bimba já escritas, com base em fontes primárias raras. O que te motivou a escrever esse livro e qual foi o maior desafio durante a pesquisa?

João Pitoco: Sempre que pratico algo, gosto de entender profundamente. Então, fui atrás da história do jogo, dos detalhes, dos bastidores… Sempre fui curioso. Desde jovem tive uma inclinação para as ciências humanas, principalmente a história. Comecei a estudar por conta própria, sem intenção de escrever um livro. Era mais um estudo pessoal mesmo.

Com o tempo, fui reunindo muito material: revistas das décadas de 40 e 50, discos, livros originais… Encontrei até uma publicação feita por um alemão que veio ao Brasil nos anos 60, tirou fotos e publicou uma revista que virou livro na Alemanha.

Eu usava esse material pra montar uma apostila pros meus alunos. Chegou um momento em que essa apostila já tinha mais de 300 páginas. Aí pensei: “Isso aqui precisa virar um livro”. No processo de escrita, acabei encontrando gravações que o Mestre Bimba fez nos anos 40 para o professor Lorenzo Turner. Um material raríssimo, um verdadeiro tesouro. E eu entendi que isso precisava ser registrado e compartilhado com a comunidade.

Brasil de Fato PB: Uma das descobertas mais impactantes do seu livro foi a gravação do toque “Sonho de Salomão”, feita entre 1940 e 1941. Qual a importância desse achado para a história da capoeira?

João Pitoco: Essa gravação é um marco. É um registro sonoro raro de Mestre Bimba tocando o berimbau, e o toque “Sonho de Salomão” nunca tinha sido documentado dessa forma antes. Descobrir esse material foi muito significativo, porque traz um dado histórico concreto, algo palpável, que reforça a autenticidade e a riqueza da capoeira regional.

Além disso, esse achado também se conecta com minha outra pesquisa sobre o Quilombo de Paratibe. Paratibe já era reconhecido como quilombo pela Fundação Palmares, com base num laudo da antropóloga Ronízia Gonçalves, que fez um levantamento primário sobre o local. Ela identificou, por exemplo, registros da época da Lei de Terras com pessoas da família Ramos dos Santos se declarando donas de partes de Paratibe — e até hoje tem núcleos familiares com esse sobrenome por lá.

Card | Divulgação

Eu sou casado com Fernanda Silva do Nascimento, que também é quilombola, e temos um filho. Fizemos uma genealogia completa, documentada, provando que os moradores atuais de Paratibe são descendentes diretos desses quilombolas, com registros de batismo, óbito e casamento. Isso foi essencial especialmente depois que, no governo Bolsonaro, surgiu um contra-laudo tentando negar a existência do quilombo. Junto a isso, empresas tentaram reivindicar a posse das terras.

O nosso livro de genealogia assegura esse vínculo histórico, fortalece o direito à terra e, principalmente, o direito à memória. No Brasil, pra pessoas negras e indígenas, fazer uma árvore genealógica é quase impossível por falta de documentação. Eu mesmo, do lado negro da minha família, só consegui chegar até o avô do meu bisavô. Isso mostra como esse tipo de trabalho é valioso.

Brasil de Fato PB: Você também é autor de uma genealogia do Quilombo de Paratibe que remonta ao século 19. Como esse trabalho contribui para a preservação da memória quilombola e a valorização da identidade afrodescendente?

João Pitoco: Esse trabalho é uma forma de devolver a história para quem teve a história apagada. Ele contribui diretamente para fortalecer a identidade dos moradores, reconhecendo oficialmente sua ancestralidade quilombola. A partir dessa documentação, conseguimos reforçar a luta pelo território, pelos direitos e, principalmente, pela valorização cultural.

Quando você prova que aquelas famílias vivem ali desde o século 19 — e provavelmente desde o final do século 18 —, você está dizendo que elas têm raiz, têm história, têm direito de existir e resistir naquele lugar. Isso é uma ferramenta poderosa tanto no campo jurídico quanto no campo simbólico.

Brasil de Fato PB: Ao longo da sua trajetória, você articulou capoeira com educação, música, reforço escolar e atividades como xadrez, judô e percussão. Como essas práticas integradas transformaram a vida das crianças e jovens do projeto em Paratibe?

João Pitoco: No projeto Paratibe em Ação, a gente vem transformando não só a rotina, mas principalmente a consciência dos jovens. Desde o começo, nossa missão é fortalecer a identidade deles como quilombolas. Quando eu cheguei, era muito comum apelidos pejorativos, comentários sobre cabelo “ruim”… A autoestima tava bem abalada.

A primeira oficina de penteados afros, por exemplo, foi com uma africana chamada Eveline, graças a um projeto que elaboramos. Hoje, minha esposa Fernanda aprendeu a fazer tranças e continua ensinando. Já temos adolescentes de 14 a 17 anos ganhando dinheiro com penteados. Ou seja, estamos abrindo portas, profissionalizando com arte, cultura e educação. A transformação é visível.

Brasil de Fato PB: Você fundou o Festival Capoeira de Quilombo e levou mestres de várias regiões do Brasil para a Paraíba. Como foi organizar esse evento e qual o impacto dele na cena local?

João Pitoco: A primeira edição do Festival Capoeira de Quilombo foi em 2014, organizado por mim e por Fernanda Moranguinho, com apoio dos nossos alunos. No começo, o evento era feito com integrantes do nosso antigo grupo, o Afronagô. Com o tempo, migramos para o Centro Cultural Capoeira Baiana (CCB), que tem direção do Mestre Careca, e é mais focado na capoeira regional, que sempre foi o meu foco de pesquisa.

O festival trouxe só mestres ligados à capoeira regional. Foi a primeira vez que nomes como Mestre Itapuã, Mestre Nenel (filho de Bimba), Mestra Preguiça, Mestre Pombo de Ouro, Mestre Careca e Mestre Cafuné vieram à Paraíba. Isso foi revolucionário. Até então, havia muita confusão sobre como os toques eram tocados, como os jogos se organizavam. Tinha muita informação deturpada.

Com a vinda desses mestres, a Paraíba pôde beber direto na fonte. Hoje, somos a única escola da região que pratica a capoeira regional da forma mais fiel possível à de Mestre Bimba. Igualzinho não dá pra fazer, porque só ele poderia fazer igual, mas buscamos chegar o mais próximo que conseguimos.

Brasil de Fato PB: Como você vê o cenário atual da capoeira no Brasil? Acredita que a prática está bem difundida ou ainda precisa de mais apoio e políticas públicas para se consolidar?

João Pitoco: A capoeira está espalhada, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. É uma arte reconhecida como patrimônio cultural tanto do Brasil quanto da humanidade. Mas, apesar dessa importância, ainda falta muito apoio. O poder público tem obrigação de criar políticas públicas pra manter essa arte viva. E não falo só de editais — que geralmente são pontuais, uma vez por ano —, mas de políticas recorrentes, que garantam estrutura contínua.

A gente precisa criar um mercado de trabalho sólido pra quem vive de capoeira. Vou te dar um exemplo: eu imprimi 40 currículos e tentei dar aula de capoeira em várias escolas. Nenhuma aceitou. A maioria já teve ou ainda tem judô ou jiu-jitsu, mas capoeira, nenhuma. Isso revela um preconceito enraizado. A capoeira ainda enfrenta resistência, mesmo sendo um patrimônio nacional.

Quando o governo entra nesse cenário, ele pode mudar isso. O poder de alcance do Estado é muito maior. Ele pode (e deve) abrir caminhos pra que a capoeira esteja presente nas escolas, nos projetos sociais, nos centros culturais. Só assim ela vai ocupar o lugar que merece.

Brasil de Fato PB: Você participou de eventos em Portugal e Itália apresentando seu trabalho com a capoeira regional. Como a capoeira brasileira é recebida fora do país e o que mais chamou sua atenção nesses intercâmbios culturais?

João Pitoco: Fui à Portugal e à Itália pra apresentar meu livro e fazer uma palestra sobre capoeira regional. Lá fora, a capoeira é muito respeitada. Os alunos pagam mensalidade, os professores são valorizados, é tudo muito profissional. A estrutura é séria.

Isso me fez pensar no quanto a gente precisa aprender com esse modelo — claro, sem esquecer a realidade do Brasil. Aqui, grande parte das pessoas que se interessam por capoeira vive em comunidades onde pagar uma mensalidade é impossível. É aí que entra, de novo, a importância do poder público: por que não colocar a capoeira dentro das escolas?

Se é um patrimônio brasileiro, por que as crianças brasileiras não têm o direito de ter acesso à sua própria cultura dentro do ambiente escolar?

Brasil de Fato PB: Quais são os seus próximos projetos? Podemos esperar novas publicações ou ações voltadas à formação de novos mestres e ao fortalecimento dos quilombos culturais na Paraíba?

João Pitoco: Meu próximo projeto é mais voltado para a Paraíba. Já venho divulgando no Instagram recortes de jornais que mostram as primeiras manifestações de capoeira no estado, ainda no século 19 e início do século 20. Quero organizar esse material e apresentar de forma mais ampla, com um olhar histórico sobre a chegada dos africanos à região e como a capoeira se desenvolveu por aqui.

Também quero discutir alguns mitos que circulam até hoje. Um deles é sobre a contribuição indígena na capoeira. Por exemplo: a palavra capoeira vem do tupi, e muita gente associa diretamente aos indígenas. Mas a verdade é que a palavra já existia antes da prática cultural — designava mato ralo, algumas aves… O nome provavelmente foi dado por pessoas brancas, porque os registros vêm de jornais da época, escritos por eles.

É importante lembrar que tanto indígenas quanto africanos tinham tradições em roda e também fora dela. E o Brasil, por muito tempo, usou uma “língua geral”, baseada no tupi, então muitos termos têm essa raiz linguística sem significar uma influência direta.

Quero derrubar esses mitos com pesquisa, com base em fontes sólidas, pra fortalecer o conhecimento e a valorização real da história da capoeira.

Editado por: Cida Alves
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