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violências

Garimpo feriu corpo e espírito das mulheres Yanomami, que temem novo ataque

Malária, traumas e ‘doença de útero’ são algumas das sequelas deixadas na Terra Yanomami por garimpeiros

04.jul.2025 às 15h54
Ariene Susui
|Repórter Brasil

Terra Indígena Yanomami sofre com estragos do garimpo ilegal desde a década de 1970; problema se agravou nos últimos anos - Fernando Frazão/Agência Brasil

A palavra garimpo, garimpeiro, é que nem um vírus de Covid. Nós sabemos quais as consequências de um garimpo”, me conta Carlinha Lins Santos, coordenadora e uma das fundadoras da AMYK, a Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma.

Criada em 2015, a AMYK é a primeira organização de mulheres Yanomami. “Nós fundamos a associação para defender os direitos da mulher Yanomami. Culturalmente, as mulheres não tinham espaço para nada — nem para ouvir, muito menos para opinar”, explica Carlinha, que mora em Maturacá, no Amazonas, dentro da Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil, que abrange também o estado de Roraima.

Passados dois anos após o governo Lula decretar emergência em saúde pública no território, por conta dos impactos do garimpo ilegal, busquei conversar com lideranças Yanomami para entender a situação desse povo — em especial das mulheres — mediante o cenário preocupante em que foi colocado. 

O território Yanomami foi totalmente desconfigurado por conta do garimpo, e isso afetou diretamente a organização social de muitas aldeias e mesmo sua alimentação. Para as mulheres a situação foi ainda pior, como conta a líder indígena, artista, escritora e pesquisadora Ehuana Yaira Yanomami.

Ehuana vem ecoando sua voz, seja por meio de sua arte ou sua fala, em defesa do seu povo. Em 2024 ela viajou para a Espanha, tornando-se a primeira mulher Yanomami a falar sobre a situação dos Yanomami na Europa.

Ela mora no Demini, em Roraima — no mesmo local onde mora o xamã e líder Davi Kopenawa. A conversa com Ehuana foi atravessada por inúmeras dificuldades, como falhas na internet para fazer contato, e também a língua, pelas dificuldades criadas pelo português. Mesmo com as barreiras encontradas, a importância de ouvi-la foi maior e persistimos.

“As mulheres são as mais afetadas pelo garimpo”, diz Ehuana Yaira Yanomami | Ariene Susui/Repórter Brasil

Era manhã de sábado quando Ehuana respondeu ao convite pelo WhatsApp. A conversa é direta com a líder, desta vez sem ajuda de sua amiga que sempre contribui na tradução — a antropóloga Ana Maria Machado, que estava em outras atividades. 

Mesmo com a dificuldade, ela conseguiu se comunicar na língua dos napëpë (branco, não indígena, na língua Yanomami). Com minha experiência de ser uma repórter indígena, consegui identificar mesmo as palavras que não estavam tão claras.

Não há muitas mulheres Yanomami que falem sobre seu povo para fora do território. A dificuldade linguística é um dos pontos. E ser liderança é ainda uma caminhada que se está construindo.

Ehuana relata que, após a ação do governo, a situação tem melhorado. Mas as mulheres ainda sentem muito medo caso os garimpeiros voltem. Chegam notícias de que algumas mulheres estão doentes, pois apesar de os garimpeiros terem sido retirados do território, eles ainda estão por perto, ocasionando muita tensão.

“Eu ouvi assim, elas estão preocupadas porque as mulheres são as mais afetadas pelo garimpo, porque a destruidora (os garimpeiros) pega (estupra) as mulheres, engravida e muitos filhos nascem doentes. E se eles voltam para o território, isso pode continuar acontecendo, e eles não estão longe. Eu ouvi isso e fiquei com muita raiva, raiva. Eu já contei tudo isso fora do país, porque isso pode voltar”, destacou Ehuana.

As meninas mais jovens são as mais cobiçadas pelos homens no garimpo. Ehuana conta que eles primeiro chegam perto das casas Yanomami, e aí oferecem bebidas alcoólicas e embebedam essas meninas. E quando elas já estão bêbadas, as violentam. 

“Os garimpeiros gostam das moças. Eles chegam perto para entregar bebida alcoólica, aí ela fica bêbada e aí já foi. É assim que funciona”, conta Ehuana Yaira Yanomami

Em fevereiro de 2023, o CIR (Conselho Indígena de Roraima) apresentou uma denúncia de que pelo menos 30 meninas Yanomami estariam grávidas, vítimas de estupros de garimpeiros. Ainda no mesmo ano, o caso foi encaminhado à Polícia Civil, à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal em Roraima. De acordo com o CIR, após dois anos, não houve retorno de nenhum dos órgãos.

Entrei em contato com o MPF e a PF e perguntei sobre o caso, mas também não tive resposta.

Além da violência, Ehuana cita também as doenças como herança da relação do território com o garimpo. “Os garimpeiros são homens maus, eles deixaram as meninas doentes e aí elas têm que ir para a Casa de Saúde Indígena. Eu vi que muitas estão fraquinhas, estão com diarreia, malária e doença do útero” disse Ehuana.

A malária e a desnutrição são problemas conhecidos desde a retirada dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami. Mas a “doença de útero” me chamou a atenção e me levou a buscar mais informações. 

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Repórter Brasil solicitou dados ao Ministério da Saúde sobre câncer de colo de útero. Após seis anos sem qualquer registro, foi constatado um caso em 2018, e depois novos registros em 2021, 2022, 2023 e 2024. Ano passado foi recorde, com três notificações.

E é possível que haja mais doenças que não estão no radar das autoridades, e que os números sejam ainda mais alto do que os registrados, pois quando se trata dos povos indígenas, muitos dados são subnotificados — como ficou evidente durante a pandemia, quando as próprias organizações indígenas começaram a fazer as notificações dos infectados pela Covid-19.

As mulheres na defesa do território Yanomami

Os “destruidores”, como denomina Ehuana, não deixaram marcas apenas na terra, mas também nas mulheres, que estão carregando as cicatrizes em seus corpos. E a cura vai para além do físico. É também espiritual.

O alerta das mulheres Yanomami surge em meio a esse cenário. Ehuana é uma das poucas que leva os relatos das mulheres ao mundo, para que não esqueçam a violência cometida sobre as Yanomami.

“Toda vez que eu viajo, elas ficam muito felizes, porque eu também estou lutando com o meu povo”, diz Ehuana.

Ela pontua a importância de ter lideranças mulheres. Elas também querem estar junto dos líderes, como o seu tio Davi Kopenawa, para lutar em defesa do seu povo, mas relata as dificuldades enfrentadas por elas — especialmente a falta de documentos, como RG, CPF, além da barreira da língua portuguesa.

“As mulheres são muito importantes. Elas cuidam dos filhos, fazem a comida, tiram a mandioca da terra. Elas não param, mulheres trabalham muito. Somos fortes e somos lideranças no território, mas elas (outras mulheres Yanomami) não têm documento, nem falam português para sair do território. Elas não têm [documentos de] identidade, elas não sabem viajar [para fora]. Só sabem viajar a pé, dentro da terra Yanomami”, ressalta Ehuana.

Ela quer que os mais jovens estudem, aprendam a escrever e a falar o português para ser liderança junto com os outros líderes homens. E para lutar também pelo território, saúde e educação.

Apesar da distância, o desafio de Carlinha, no Amazonas, é o mesmo. Ela relata que a maior dificuldade das mulheres é ter o documento. No dia em que conversamos, ela estava no município de São Gabriel da Cachoeira (AM) para registrar a ata da associação. No entanto, o cartório não aceitou. 

Ela conta que os órgãos públicos ainda não sabem como tratar os povos indígenas — principalmente os de recente contato, como é o caso do povo Yanomami, que têm dificuldade com a fala e a escrita na língua portuguesa.

“Você sabe, muitas mulheres não sabem, não têm como assinar. E as pessoas não indígenas são muito ignorantes. As pessoas não sabem que somos povos de recente contato. Aí exigem tanta coisa. Eles falaram: ‘Não, tem que ter assinatura, o sistema não vai reconhecer que você está liderando esse grupo’. Então, eu respirei e saí”, disse Lins.

Carlinha Lins Santos afirma que a burocracia dos governos dificulta a atuação de organizações indígenas

“As mulheres estão preocupadas com o garimpo. Isso é um pavor para nós. Traz doenças, contamina nossos rios, nossos peixes, acaba com a nossa floresta. Para o nosso povo, para as mulheres, é um transtorno total”, afirma Carlinha Lins Santos

A luta junto às mulheres é diária. Ela menciona que existe um medo muito grande quando se fala em garimpo. 

Um dia antes da nossa conversa — que ocorreu em março —, chegou notícia, pelos caçadores Yanomami, de que garimpeiros estavam nas proximidades da região de Maturacá.

Carlinha, assim como Ehuana, se vê em um papel importante junto das mulheres, pois elas são essenciais na defesa do território. Mas destaca que precisam de apoio.

“A minha perspectiva como liderança é trazer para o território projetos de geração de renda e sustentabilidade, porque as mulheres trabalham na roça e estão envolvidas na cestaria. E a gente está buscando projetos que possam apoiar nós, mulheres”, disse Lins.

As mulheres Yanomami estão em um movimento para fortalecerem seu território, para que as marcas do garimpo e de outras violências não repassem para outras gerações — da mesma forma que foram repassadas por suas mães e avós. 

Ao ouvi-las, é notório o desejo de serem também lideranças. Uma voz que ecoa para que o mundo saiba de suas existências e reconheçam seus trabalhos como guardiãs da terra. E também para que os violadores dos corpos das mulheres Yanomami paguem por seus crimes.

Conteúdo originalmente publicado em Repórter Brasil
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