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Ocupar a cidade

Street League em Brasília: skate vivo ou skate de vitrine?

Skate é celebrado em arenas internacionais e exaltado em propagandas institucionais, mas bases populares não

10.jul.2025 às 12h17
Atualizado em 11.jul.2025 às 13h49
Brasília (DF)
Antônio Tegethoff*
Street League em Brasília: skate vivo ou skate de vitrine?

"É impossível não refletir sobre o que está realmente sendo celebrado com a chegada da Street League a Brasília" - Pedro Ventura/Agência Brasília

Nos dias 12 e 13 de julho, Brasília será palco de um dos maiores eventos internacionais do skate: a Street League Skateboarding (SLS). A capital federal entra no calendário oficial do circuito mundial do skate street, colocando o Brasil – e especialmente Brasília, cidade nunca prestigiada pelo evento – no centro das atenções midiáticas e esportivas. O evento ocorrerá na Esplanada dos Ministérios com entrada franca e aberto ao público.

É notável que eventos como esse, tradicionais para o skate, promovam divulgação, reconhecimento e momentos de confraternização para nós skatistas que queremos prestigiar o torneio. 

Contudo, o crescimento da popularidade do skate — impulsionado pela grande mídia e pela institucionalização da prática, especialmente após sua consagração como modalidade olímpica — produz uma sensação de “reconhecimento” e “prestígio” por parte da sociedade ao mesmo tempo em que provoca e encobre tensões e contradições no universo do skate enquanto movimento de contracultura.

Nesse sentido, fica uma questão a se refletir: quais tensões emergem quando um símbolo de resistência e apropriação dissidente da cidade, como o skate, se torna palco de interesses econômicos, políticos e publicitários?

Desde sua criação na Califórnia nos anos 1960, quando surfistas buscavam uma alternativa à sazonalidade das ondas e criaram uma forma de “surfar no asfalto”, o skate construiu uma relação intrínseca com o urbano, transformando calçadas, escadas, corrimãos e piscinas vazias em espaços de criação, liberdade e expressão.  Desde então, a prática evoluiu para muito além de uma simples atividade física, tornando-se um movimento cultural, um estilo de vida, de sociabilidade, e interação do corpo com espaço marcado por uma prática transgressiva, criativa e organizada por jovens em busca de diversão.

Nesse contexto, o skate street – posteriormente como modalidade fundada no uso criativo da arquitetura urbana – representa uma prática que subverte a lógica normativa dos espaços cidade. Não só as estruturas como bancos, corrimões e escadas, mas a própria forma como a cidade é planejada para o trabalho, o consumo e a correria, a forma como é pensada para que as pessoas ocupem o espaço urbano é desviada pelo skate ao ressignificar esses espaços como locais de encontro, lazer e diversão.

Skate transforma a cidade em território de criação

O skate sempre foi mais do que um esporte: é um modo de ocupar a cidade de maneira dissidente, subversiva e estética. Na busca por “picos”, obstáculos que surgem em meio a arquitetura urbana e servem para a realização de manobras, skatistas transformam a cidade em território de criação e desafio. Traçam novas formas de ler, ressignificar e de se apropriar dos espaços públicos.

Como skatista, sei bem como é esse processo de se inserir e começar a fazer parte dessa cultura. Estudava em uma escola próxima a um half [rampa em formato de “U”] e com 14 anos pude me conectar com o skate a partir de amigos que estavam começando a andar, nem tinha skate, mas ficava pedindo para andar. Logo me apaixonei e não demorou para eu comprar um skate. Assim, passei minha adolescência entre idas e vindas da casa para escola, da escola saia para andar de skate e depois voltava para casa.

O ciclo se repetia, inúmeras vezes, passava tardes, e quando podia, noites andando com meu amigo Lucas. A programação de maior motivo de animação e ansiedade era andar de skate, principalmente no “solo sagrado” do Setor Bancário Sul como dizíamos. Já me perdi inúmeras vezes na minha imaginação pensando o que poderia fazer com meu skate, era costume olhar para um corrimão ou escada e pensar “não é que dá para pular isso aqui”. Olhar para um “pico” e pensar em quantos profissionais e referências para a cultura já andaram ali e fizeram história. 

Desde essa época nunca mais fui o mesmo, e sinto que minha relação com a cidade se transformou. Espaços que para muitos são transitórios, indiferentes, corriqueiros, convencionais, para nós skatistas são lugares de afeto, memória e diversão. Desenvolvemos uma relação estética, corporal, política e existencial com o espaço urbano que é única. Sob o olhar de um skatista se encontram inúmeras possibilidades no cenário urbano. O que para muitos é apenas um banco, uma borda ou uma escada, para quem anda de skate se torna um espaço de experimentação e pertencimento. 

O skate altera a leitura da cidade e confronta o uso normativo do espaço público e expõe contradições. Em meio a uma cidade fria, onde o concreto expressa a hostilidade do urbano e a rigidez do cotidiano, com horários, trabalho, compromissos e responsabilidades, a reivindicação do skate enquanto uma linguagem urbana, busca não apenas legitimar a ressignificação lúdica do espaço, mas reivindicar o seu direito de ocupar, resistir e pertencer a ele. O skate afirma uma luta coletiva pelo direito à cidade.

“O skate altera a leitura da cidade e confronta o uso normativo do espaço público e expõe contradições.” | Andre Borges/Agência Brasília

Espaço público x institucionalização

Contudo, essa potência do skate como prática contracultural se vê em permanente embate com o uso do espaço público e agora também com a sua crescente institucionalização. A entrada do skate nas Olimpíadas e o investimento público em pistas oficiais, representam avanços e conquistas importantes.

Mas também revelam um dilema: ao mesmo tempo em que há mais visibilidade, recursos e reconhecimento, crescem as tentativas de controle, regulação e apropriação simbólica por parte do Estado e de empresas. Eventos como a Street League, enquanto projetam a imagem do skate para o mundo, expõem um conflito: quais vozes e práticas são valorizadas? E quais são silenciadas?

Brasília é palco exemplar dessas contradições. O Setor Bancário Sul (SBS), um dos berços do skate street na cidade desde os anos 1980, consolidou-se como espaço simbólico e comunitário, frequentado diariamente por skatistas locais e visitantes de todo o país.

A ocupação do SBS por skatistas é marcada por uma longa trajetória de resistência. Em uma conversa que tive com Cezar Bulcão, skatista local do bancário desde a década de 80, contou como historicamente skatistas resistem a repressões e tentativas de remoção do local.

O skatista presenciou e relatou ações de higienização como a constante presença policial na tentativa de intimidar e até deter skatistas, a utilização de táticas de arquitetura hostil, como os ferros fixados em bancos e até o uso de caminhões-pipa para encharcar o chão e inviabilizar a prática do skate.

Exemplo de arquitetura hostil no Setor Bancário Sul | Antonio Tegethoff

Ainda assim, os skatistas permaneceram. Reformaram o pico retirando os ferros pontiagudos fixados nos bancos, construíram obstáculos com recursos próprios e mantiveram viva uma cultura enraizada no afeto e na coletividade.

Hoje em dia a situação é diferente, esse espaço foi conquistado e cultivado pela comunidade do skate, podemos nos encontrar para andar de skate e se divertir. Porém, assim como em sua origem, o embate no uso do espaço público permanece na essência do skate até hoje, fazendo do Setor Bancário Sul, como já citado, e outros locais um palco constante de tensões, conflitos, resistência e negociações que podem ou não se transformar em novas dinâmicas. 

Recentemente o Banco BRB – Ed. Brasília, localizado no SBS, reformou uma de suas estruturas, e as bordas desgastadas pelo uso do skate foram restauradas. Foram instalados canos de ferro que facilitam o deslize das manobras e protegem as bordas, evitando novos danos ao local. A resolução de um problema que poderia ser guiada por ação repressiva acabou se desdobrando em um gesto de conciliação, respeito aos skatistas e as necessidades de todos que frequentam o local.

No entanto, a poucos metros dali, surge novamente o temor de ser retirado do espaço. Com mais de 40 anos de ocupação de um dos lugares mais emblemáticos para o skate, o edifício do Banco do Brasil, agora sob gestão da construtora Paulo Octávio, iniciou uma série de mudanças na área externa do prédio no final do mês de março, limpando a parede tomada por pixos, lambes e representações artísticas. Obstáculos criados por skatistas foram jogados aos cantos como há muito tempo não se via, indicando uma possibilidade de retirar os skatistas do lugar que historicamente ocupam.

” O skate não cabe completamente nas grades da regulamentação, e é exatamente por isso que ele é tão importante.” | Andre Borges/Agência Brasília

Propagandas institucionais exaltam o skate, mas na prática…

Dentre esses acontecimentos, um outro exemplo recente desse embate entre a vivência comunitária e a lógica institucional, aconteceu na manhã do dia 19 de maio de 2025, quando a Administração Regional do Sudoeste e Octogonal, sob a liderança de Reginaldo Sardinha, demoliu uma pequena rampa construída por skatistas na pista de skate do “Sukata”.

O gesto, justificado pela ausência de projeto técnico e autorização formal, desconsiderou completamente a lógica da cultura DIY (Do It Yourself) – em português significa “Faça você mesmo” – praticada pelos frequentadores, o histórico de participação ativa dos skatistas na manutenção e melhoria da pista, que desde 1997 vem sendo cuidada pela comunidade. A rampa, voltada para iniciantes, atendia a uma necessidade real dos frequentadores e reforçava o caráter inclusivo do espaço. Sua demolição, às vésperas do Go Skate Day e da chegada da SLS à cidade, foi vista por muitos como um ato simbólico de desrespeito e desserviço à cultura que sustenta, na prática, o skate em Brasília.

Mais do que a destruição de uma rampa, esse episódio evidencia o distanciamento entre a valorização midiática do skate e as dinâmicas reais das comunidades que o constroem. Ao mesmo tempo em que o skate é celebrado em arenas internacionais e exaltado em propagandas institucionais, suas bases populares seguem sendo deslegitimadas. O mesmo poder público que investe “milhões” em infraestrutura para realizar eventos globais não hesita manter a precariedade das pistas locais e em desmantelar intervenções locais feitas por e para skatistas.

Nesse contexto, é impossível não refletir sobre o que está realmente sendo celebrado com a chegada da Street League a Brasília. Seria o skate como linguagem viva, orgânica, política e cultural? Ou o skate domesticado, esportivizado, limpo, pronto para o consumo e para a vitrine internacional?

Ainda que hoje o skate esteja nas Olimpíadas, nas propagandas de banco e nos discursos oficiais, sua essência continua sendo a mesma: transgressora, coletiva, imaginativa. A cada obstáculo improvisado, a cada tarde dividida entre amigos, a cada manobra realizada no SBS, no “Sukata” ou qualquer lugar que tenha skate, reafirma-se uma forma de ser e de ocupar o mundo que escapa às lógicas do controle. O skate, nesse sentido, não cabe completamente nas grades da regulamentação, e é exatamente por isso que ele é tão importante.

Que a chegada da Street League a Brasília sirva, então, não apenas como celebração de grandes nomes do skate mundial, mas como um lembrete da luta cotidiana dos skatistas locais. Que se olhe para o SBS, para o Sukata e para os inúmeros “picos” da cidade não apenas como vitrines de performance, mas como territórios vivos de resistência, pertencimento e criação, que devem ser percebidos e verdadeiramente valorizados.

*Antônio Tegethoff é skatista e estudante de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB).

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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Editado por: Flavia Quirino
Tags: distrito federal
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