Instagram, Facebook e X (antigo Twitter) reúnem a maioria dos conteúdos de desinformação e discurso de ódio contra pessoas LGBTI+. É o que aponta a pesquisa Explana 2.0, realizada pelo data_labe em parceria com o Intervozes. A iniciativa consultou moradores dos bairros Maré e Ilha do Governador, e dos municípios de Belford Roxo, Japeri e Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. Além das discussões realizadas nesses territórios, a pesquisa também recebeu 129 contribuições através de um questionário.
Os dados demonstram um equilíbrio entre as três redes sociais na percepção dos participantes: 25,3% para Instagram, 24,5% para o Facebook e 20,7% para o X.
“Esse equilíbrio entre as diferentes plataformas pode ser um sintoma de que, independentemente das regras de moderação que cada rede social adota, as violências contra a população LGBTI+ ocorrem de forma sistemática, são constantes, a despeito da empresa que as controlam”, explica a cientista de dados Samantha Reis, que analisou e sistematizou os dados da pesquisa.
Pouco mais da metade das pessoas que responderam a pesquisa (51,1%) informou que não vê consequências para as mensagens e conteúdos violentos que chegam até elas, e apenas 21,5% relataram que as publicações são apagadas. Ataques vêm de perfis de políticos ou de páginas de conteúdo e são ainda mais volumosos nos comentários das publicações.
Segundo o estudo, 37,1% dos ataques realizados nas redes sociais vêm de pessoas desconhecidas, e 35,4% são feitos por pessoas próximas, seja da localidade onde moram ou de familiares. “Meu pai pegou o post do homem que falou que os ‘viados’ querem dominar o mundo, aí botou no story dele. Pra mim, chega também pela família”, conta um dos participantes.
Para o público pesquisado, as páginas que mais compartilham os ataques são de perfis de políticos eleitos ou de candidatos (21,8%), seguidos de mensagens de grupos ou páginas de conteúdo (19,5%).
Em mais de um grupo focal realizado, os participantes mencionaram grupos temáticos do Facebook, sobre vendas ou sobre moda, que passaram a atuar como fontes de notícias sobre os bairros ou municípios. Nesses grupos, circulam vídeos, memes e conteúdos que lançam mão do humor para propagar discurso de ódio ou desinformação sobre a população LGBTI+.
Ao analisar exemplos de conteúdos nas páginas e grupos citados, a equipe da pesquisa observou como os comentários dos usuários concentram a maioria dos ataques. “Este ambiente online é extremamente segmentado por aspectos geracionais, que também influencia no letramento digital dos usuários das redes sociais ou seja, se na vida offline pessoas com diferentes faixas etárias já possuem um distanciamento de rotina e pautas, com os algoritmos das plataformas esse abismo se aprofunda e faz com que gerações e grupos diferentes não se entendam”, contextualiza Samantha.
Inteligência artificial potencializa violências
Para a cientista de dados, os algoritmos utilizados pelas plataformas favorecem ainda mais a ocorrência das violências. “Tanto a desinformação como o discurso de ódio têm fundamentos muito fortes na intenção de mentir e manipular, e algo novo, notado por quem participou da pesquisa, foi o aumento dessa violência com a distribuição automática, promovida por contas falsas e inteligência artificial nas redes sociais”, avalia Reis.
No dia 26 de junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou pela ampliação da responsabilidade das plataformas de redes sociais quanto aos conteúdos publicados por usuários. O magistrado decidiu que casos de discurso de ódio, racismo, pedofilia, incitação à violência ou a golpe de Estado devem ser removidos de forma proativa pelas plataformas, isto é, sem necessidade de notificação prévia da Justiça.
A decisão do Supremo se dá num momento de abrandamento das políticas de enfrentamento a crimes de ódio por parte das plataformas. Sob a gestão de Elon Musk, o X demitiu as equipes de moderação e checagem de conteúdo e passou a recomendar que os próprios usuários moderem as publicações a partir das notas de comunidade.
Já a Meta, responsável por Facebook, Instagram e Whatsapp, publicou, em janeiro deste ano, novas diretrizes que permitem publicações que reforcem estereótipos e preconceitos.
“O que esperamos, como sociedade civil, é que o posicionamento do STF abra caminhos para a retomada do debate sobre a regulação de plataformas, que foi prejudicado pelo lobby das plataformas no contexto do PL das Fake News. Saber o que se pode e o que não se pode fazer no ambiente digital protege não apenas a comunidade LGBTI+, mas toda a população brasileira”, salienta a pesquisadora.
A pesquisa Explana 2.0 foi realizada a partir de uma parceria entre data_labe e Intervozes, sob coordenação de Isadora Lira e Paulo Mota. O projeto contou com recursos de emenda parlamentar do deputado David Miranda voltada para a “implementação e fortalecimento de ações para o enfrentamento à violência lgbtfóbica no Rio de Janeiro.
*Elena Wesley é coordenadora de comunicação do data_labe
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.