No último domingo, 6 de julho, aconteceu o Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores (PT) em nível nacional, estadual e local. Embora os números ainda não sejam finais ou definitivos, mais de 400 mil filiadas e filiados votaram em nível nacional. No Estado do Rio Grande do Sul, participaram mais de 20 mil filiadas(os) e na capital, 3 mil filiadas(os).
O que é possível dizer, que análise fazer com estes números e resultados?
Há uma crise política e partidária no Brasil, entre outras muitas crises, como a climática e os crescente problemas de violência de todos os tipos no cotidiano das pessoas, famílias e comunidades.
Uma pergunta simples faz-se necessária. Alguém sabe quantos partidos políticos existem hoje no Brasil? Eu não. Sei que são dezenas. E estou na militância partidária há quase 50 anos.
E o que cada um destes partidos defende? Como saber? No máximo, é possível saber que são, ou de ultradireita, ou de direita, ou de centro, ou de centro-esquerda, ou de esquerda. Mesmo assim, com muitas dúvidas e imprecisões sobre seu programa e suas propostas concretas para a sociedade brasileira, brasileiras e brasileiros.
A ditadura militar acabou com os partidos então existentes, nos anos 1960, além de acabar com as eleições diretas. Entre os partidos relevantes de então, estava o Partido Trabalhista Brasileira (PTB), assumindo um programa a favor da classe trabalhadora, da reforma agrária e assim por diante. Em tempos de ditadura havia apenas dois partidos legalizados e permitidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), pró ditadura. E Movimento Democrático Brasileiro (MDB), pró democracia.
No final dos anos 1970, início dos anos 1980, no meio de greves históricas, da mobilização social das ocupações urbanas e rurais, das oposições sindicais, das pastorais sociais e da Teologia da Libertação, na luta pela redemocratização, por Diretas Já, por uma Constituinte Livre e Soberana, houve, finalmente, a permissão de novos partidos e liberdade partidária. Surgiram então o PT, o PDT, depois de disputas com o PDT, o PSDB, ressurgiu o PSB, manteve-se o MDB com o nome PMDB, mais os partidos de direita, como o PP.
Como estão hoje todos estes partidos? Em geral, estão muito enfraquecidos, em crise, ou distantes de sua visão história. É o caso do PDT, PSB, MDB, PSDB. O PTB praticamente acabou.
Há ainda os partido de direita, como o PP, o Republicanos, o PSD, entre outros. Surgiram os de ultradireita, para abrigar o bolsonarismo, como o PL. E outros tantos que não se sabe muito bem o que são, o que defendem, ou que existem apenas para abrigar eleitoral e pragmaticamente.
E o que dizer do PT, realizando o primeiro turno do PED, Processo de Eleições Diretas para suas direções? E que ainda não está concluído, pois vai haver um segundo turno no dia 27 de julho em muitos estados, como no caso do Rio Grande do Sul, e em municípios e capitais, como Porto Alegre.
É cedo para uma análise mais definitiva. De qualquer maneira, aconteceu o debate, o que é alentador, e houve uma participação razoável de filiados, em meio à crise politica e partidária destes tempos.
Há muito por fazer, com certeza, no caso do PT. Fazer do partido de novo a ser mais movimento, e menos instituição. Voltar a ter e construir os Núcleos de Base, como os propostos pelo Projeto de Formação Nova Primavera, chamados de Núcleos de Vivência, Estudo e Lutas, discutir um projeto estratégico sobre o futuro proposto pelo partido para a sociedade brasileira.
As palavras e reflexão de Lula continuam muito válidas e atuais, ditas na primeira Convenção Oficial do PT, em 26 e 27 de setembro de 1981. ”O Partido dos Trabalhadores é uma inovação história neste país. É uma inovação na vida política e na história da esquerda brasileira também. É um partido que nasce do impulso dos movimentos de massa, que nasce das greves e das lutas populares em todo Brasil. É um partido que nasce da consciência que os trabalhadores conquistaram após muitas décadas de servirem de massa de manobra dos políticos da burguesia e de terem ouvido cantilenas de pretensos partidos de vanguarda da classe operária. Só os trabalhadores podem conquistar aquilo a que têm direto. Nunca ninguém nos deu, nunca ninguém nos dará nada de graça.”
O PT está vivo, sim. Ainda mais com os acontecimentos dos últimos dias, com os pronunciamentos e posições do presidente Donald Trump e tudo mais. Os desafios são muitos. Afinal, qual partido de esquerda e do campo democrático-popular sobreviveu 45 anos no Brasil? E ainda consegue realizar, 45 anos depois de sua fundação em 10 de fevereiro de 1980, um processo interno de eleições diretas de suas direções com centenas de milhares de filiados?
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.