A China esteve entre os poucos países que responderam às tarifas impostas pelo governo de Donald Trump desde 1º de fevereiro, antes mesmo do “Dia da Liberação”, como chamou Trump ao dia 2 de abril deste ano, quando implementou tarifas às importações de produtos de dezenas de países.
Como resposta aos 10% de tarifas impostas à China no começo de fevereiro, Pequim retaliou com tarifas de 15% sobre o carvão e o gás natural liquefeito dos estadunidenses e outra de 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas, carros de grande potência e caminhonetes.
Já nessa primeira leva de retaliações em fevereiro está uma das chaves do poder de barganha chinês: controle das exportações de produtos que o país domina internacionalmente. Foram implementados controles sobre exportações de cinco metais: tungstênio, telúrio, bismuto, molibdênio e índio. Seus usos são muito diversos e vão desde a indústria tecnológica à metalúrgica, petrolífera, entre várias outras. A China domina entre 70 e 80% do total da produção mundial de alguns desses materiais.
Já em abril, dia do tarifaço geral, o governo Trump somou 34% de tarifas a todos os produtos chineses, o que totalizou 54% devido às taxas impostas anteriormente. A China respondeu com iguais 34% a todos os produtos dos EUA.
Ainda como resposta, o Ministério de Comércio chinês passou a exigir das empresas chinesas uma solicitação de licença para exportar sete tipos de terras raras e seus produtos derivados: samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio. Apenas uma semana depois do tarifaço geral, em 9 de abril, Trump decide pausar a implementação das tarifas a todos os países, menos à China.
A volta atrás como prática padrão e o fator “terras raras”
Essa tendência de recuo, que esteve presente também em seu primeiro mandato (inclusive com a China), foi apelidada no mês seguinte pela mídia estadunidense de Trump Always Chickens Out (TACO) (Trump Sempre se Acovarda, em tradução livre). De fato, o início do diálogo para começar a reduzir as tarifas em maio foi feito a pedido o governo estadunidense.
Quando anunciou o acordo com a China há um mês, o primeiro destaque de Trump foi para o acesso às terras raras. “A China fornecerá ímãs completos e quaisquer terras-raras necessárias”, disse o mandatário dos EUA em sua rede social Truth, se referindo aos ímãs de maior capacidade magnética feitos com ligas de terras raras, usados em indústrias de ponta.
No dia 9 de julho, dois dias antes da última negociação em Londres entre as duas delegações, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, confessou que “os controles de exportação chineses de terras raras foram um ponto de discórdia muito significativo”. Cerca de 70% das terras raras importadas entre 2020 e 2023 pelos Estados Unidos vieram da China, segundo o Serviço Geológico dos EUA.
Fica evidente que aí reside um dos principais trunfos da China, que em 2023 produziu quase 69% das terras raras no mundo (240 mil toneladas), de acordo com um levantamento feito pela instituição chinesa Beijing Gewu Ranking Information Technology.
Resiliência e estratégia de expansão comercial
Apesar do tarifaço de Trump, as exportações globais chinesas nos primeiros cinco meses do ano aumentaram 7,2% (somando 10,67 trilhões de yuans, R$ 8,2 tri), em comparação ao mesmo período de 2024. Os dados são da Administração Geral das Alfândegas da China.
Nesses primeiros cinco meses, como era de se esperar, o comércio entre EUA e China teve uma queda de 8,1% nos primeiros cinco meses do ano, com as exportações da China para os EUA caindo 8,7% (somando 1,27 trilhão de yuans, R$ 986 bi).
Os principais mercados que cresceram para a China este ano foram a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a União Europeia (UE). A Asean foi o principal parceiro comercial chinês no período, representou um aumento interanual no comércio de 9,1%, chegando a 16,8% do volume total do comércio exterior.
Já a UE foi a segunda maior parceira comercial, representando 12,8% do total, o que significou um aumento interanual de 2,9%.
Na próxima terça-feira (15), o Escritório Nacional de Estatísticas fará uma coletiva para apresentar os resultados da economia nacional no primeiro semestre.
Após a 58ª Reunião de Ministros das Relações Exteriores da Asean, na quarta-feira (9), o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, participou de diversas reuniões com os chanceleres.
Wang Yi disse que a Asean é uma “prioridade em sua diplomacia de vizinhança” e reiterou o compromisso de construir a versão 3.0 da Área de Livre Comércio China-ASEAN e de implementar o Acordo de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês).
O RCEP é conhecido como o maior acordo comercial do mundo. Inclui os dez países da Asean, mais China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Representa 30% do PIB mundial.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também foi convidado para participar da reunião da Asean, em uma situação mais delicada, já que seis das cartas tarifárias de Trump, foram para países do bloco: Laos, Mianmar, Camboja, Tailândia, Malásia e Filipinas.
As cartas ameaçam os países com taxas à importação se não oferecerem concessões aos Estados Unidos até o dia 1º de agosto. Após o Brasil, com 50%, Laos e Mianmar seriam os mais afetados com 40% de tarifas.