Por Eugênia Lima*
A transparência não é mero adorno retórico da democracia, mas seu alicerce. É um princípio inegociável dentro de uma gestão pública que respeita sua população. Em Olinda, contudo, esse princípio tem sido reiteradamente desrespeitado, primeiro durante o governo Lupércio (2017-2024) e agora sob a gestão de Mirella Almeida (PSD), que assumiu não apenas o cargo, mas também, aparentemente, os vícios de um projeto político marcado pelo obscurantismo.
Os olindenses estão cansados de exigir o óbvio: acesso a informações básicas sobre contratos, gastos públicos e o estado real das contas municipais. O povo de Olinda parece refém de uma máquina administrativa que age como se devesse satisfações apenas a seus aliados, não aos cidadãos.
Os oito anos do governo Lupércio foram marcados por irregularidades flagrantes. Basta lembrar a licitação de R$ 6 milhões para merendas escolares, considerada irregular pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2021, com notas fiscais emitidas fora do prazo e valores questionáveis. Esse é apenas um dos muitos exemplos do legado nocivo deixado pelo ex-prefeito, hoje pré-candidato a deputado federal.
A atual gestão, entretanto, parece seguir os mesmos passos. Até agora, nosso mandato não obteve resposta a inúmeros requerimentos e pedidos de informação sobre contratos, serviços e emendas impositivas não pagas. A prestação de contas do Carnaval apresentadas ao poder legislativo não cumpre o que a lei determina. A prefeitura age como se a Lei de Acesso à Informação (LAI) não existisse e parece empenhada em transformar a Câmara Municipal em cúmplice desse silêncio, perpetuando o descaso com a cidade.

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Enquanto a prefeitura anuncia parcerias com institutos para “equilíbrio fiscal”, os serviços públicos entram em colapso: ruas esburacadas, postos de saúde com infraestrutura precária, medicamentos vencidos, servidores desvalorizados, contratos descumpridos e um caixa municipal cuja real situação permanece obscura até para os vereadores da base governista. A falta de transparência não é acidental: é estratégica e deliberada.
O grupo que governa Olinda desde 2017 oculta empenhos irregulares, fornecedores não pagos e acordos que beneficiam apenas seus aliados, às custas do dinheiro público. Diversas denúncias já foram encaminhadas ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), abrangendo desde o uso indevido da máquina pública nas eleições até fraudes em licitações. São sintomas de uma cultura política que enxerga o poder público como extensão de seus interesses privados.
Resta uma escolha à prefeita Mirella Almeida: continuar como herdeira de um projeto político que falhou em assegurar o mínimo de decência administrativa e qualidade de vida para Olinda ou romper publicamente com o legado de Lupércio, divulgando as contas e revelando em que estado recebeu a cidade. E a partir daí construir sua própria trajetória política e administrativa com autonomia política e independência em sua gestão.
Não há dignidade em manter lealdade a um grupo que deixou Olinda à deriva. Acredito na boa intenção da prefeita. Ela não precisa herdar esse ônus. Transparência não é favor, mas obrigação. E se a gestão insistir em governar nas sombras, que fique claro: a verdade virá à tona, seja pela força da lei ou seja pela mobilização popular. A Marim dos Caetés não aceitará menos.
*Eugênia Lima é advogada e vereadora de Olinda pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
**As opiniões contidas neste artigo não necessariamente representam a linha editorial do Brasil de Fato.