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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, membro co...ver mais

Cada povo tem o novo que merece (Nei Lisboa)

Trump nos ameaça porque temos relevância internacional e porque ele sabe que, com Lula, o Brasil se orienta para um projeto de autonomia

Parece que algumas máscaras caíram de vez.

Mas isso não significa que podemos relaxar. Ao contrário, precisamos entender os desafios que se agigantam com as vitórias desta semana. E elas não foram pequenas – mas tampouco são definitivas.

Afinal, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que, respeitada a constituição federal, o ajuste no IOF é atribuição do executivo, e isso esvaziou aquele boicote à governabilidade que vinha sendo liderado pela dupla Hugo Motta e Davi Alcolumbre.

Arthur Lira fez parecer aprovando (inclusive com pequena e inesperada melhoria) a recuperação de despesas decorrentes da proposta de isenção de Imposto de Renda (IR), para quem ganha menos de R$ 5 mil/mês.

Com isso, aquela redução nas receitas do governo, que colocará mais dinheiro na mão do povo, tende a ser compensada por arrecadação obtida junto à minoria que não pagava IR, que realiza operações financeiras de vulto e/ou que vai continuar se deliciando com rendas superiores a R$50 mil/mês. Agora a minoria vai pagar até 10% de IR, quando para quem ganha R$ 10 mil/mês o desconto é de 27,5%. São avanços tão importantes no caminho da justiça social, nesta época de penúria, que Lula até se atreveu a vetar a criação de novos cargos de deputados, coisa que além de reforçar as bancadas corporativistas, ampliaria as despesas nacionais em mais de 64 milhões por ano.

Ao mesmo tempo, o Procurador Geral da República encaminhou suas alegações finais, na denúncia que criminaliza o chefão golpista e seus capangas mais graduados. Todos serão presos, restando esperar a tramitação para saber quem vai para onde e por quanto tempo. Bolsonaro e Augusto Heleno, pela idade e decrepitude lamentáveis, devem ganhar tornozeleiras para morrer em casa. De lá, terão oportunidade de ver o ressurgimento do Brasil e o apagamento de suas imagens midiáticas fraudulentas, enquanto escorregam para aquele buraco reservado aos piores lixos de nossa história.

Para completar, a postura digna e altiva do governo brasileiro, em relação ao choque tarifário imposto por Trump, além de desmascarar os falsos patriotas também serviu para unir o país. Os sistemas de comunicações midiáticas foram ajustados e as organizações sociais se empoderaram, ampliando a popularidade e aceitação de Lula e seu governo.

Enfim, o momento é tão bom que até os negacionistas mais obtusos já entenderam que o Trump, para nos submeter e controlar, faz uso da família Bolsonaro e outros oportunistas similares. Aquelas pretensas e ilusórias defesas de um ser intragável até como Bode, se explicam exatamente por sua pusilanimidade.

Nada de novo neste tipo de acordo entre sacanas e pulhas. Funciona assim: quem se submete pode até ser bajulado, receber migalhas, menções e tapinhas nas costas enquanto isso se fizer conveniente. Mas nunca será respeitado. E respeito, para nós que entendemos o valor disso, é algo muito importante. Respeito é algo que qualifica quem possui. Algo que não se compra, não se vende, não se troca. Só se dá. E se dá apenas para quem faz por merecer. Algo impossível naquela relação em que Bolsonaro ama a Trump, que não o inclui sequer entre falsos amigos protocolares. Em outras palavras, Trump só cita o inominável, só dá nome ao bode, porque sabe a utilidade dos capachos. E porque tem um projeto onde os golpistas são uteis.

De fato, Trump nos ameaça porque temos relevância internacional e porque ele sabe que, com Lula, o Brasil se orienta para um projeto de autonomia em alianças multilaterais que envolvem o Brics.

E é contra isso que os capitalistas mais poderosos do mundo, aqueles vampiros capazes de tudo para manter os EUA na condição de império de exploração global, sugando a vida do planeta, se movimentam. Para enfraquecer o Brics, atacam Rússia, o Iran, e agora o Brasil. Eles querem enfrentar os avanços da China, sem bater de frente com ela. Para isso, não nos querem com autonomia, e ao mesmo tempo se esforçam para esconder ou pelo menos disfarçar o enorme medo que – justificadamente- têm, do Brics.

E neste enredo, com seu estilo destrambelhado, o Trump está tentando cumprir o papel que lhe toca. E ele tem pressa porque sabe que depende de outros, que está ali por delegação, e que seu mandato tem prazo de validade.

Olhar as coisas desta perspectiva nos ajuda a entender tanto aquela forma de espernear, como as caretas, os olhos apertados, as tarifas e as ameaças de sacar da bazuca. Ele quer que os norte-americanos acreditem que está operando em defesa de seu país e da liberdade, contra criminosos internacionais que se opõem ao esforço MAGA de fazer a América grande de novo.

E o que o Lula fará? Vai usar da reciprocidade e facilitar a escalada norte-americana para níveis maiores de risco e violência?  

Ou Trump vai voltar atrás?

Esperamos que sim. Até porque os nacionalistas conscientes, que assim como os vendilhões da pátria, existem em todas as pátrias, também lá estarão em busca de momentos de paz e previsibilidade. Eles já devem estar cientes do tamanho da loucura que fizeram, ao dar tanto poder àquele doido, e como nós, também preferirão uma saída negociada.

Ademais, ninguém ignora que -entre os nossos traidores- o tarifaço funcionou às avessas. A tentativa de terceirizar para os EUA aquele movimento de resistência à punição dos criminosos se esvaziou e afunda de vez, diante da inevitável prisão de lideranças golpistas.

Tarcísio, depois de colocar o boné da MAGA entendeu o impacto daquilo sobre a economia paulista. Ao tentar minimizar aquela pisada na bola, passou a ser acusado, por Eduardo, de “subserviência servil às elites”. Eduardo, que talvez conheça muitas formas de subserviência, sabendo que também está ameaçado,  também entrou no modo desespero.  E nisso pode se tornar particularmente útil para Trump, posto que ambos operam com base naquele conceito particular de liberdade: a liberdade dos fortes, de usar a força para intimidar submeter e oprimir.

Os mais recentes argumentos de Trump, sugerindo que o desmatamento irregular na Amazônia gera vantagens para o agronegócio do Brasil, que nosso pix gratuito ameaça a sustentabilidade das grandes empresas de cartão de crédito, que a venda de quinquilharias e contrabandos na rua 25 de Março comprometem a estabilidade de indústrias norte americanas, são desculpas tão esfarrapadas como aquelas do lobo, que matou o cordeiro porque ele ou algum outro, muito parecido, supostamente teria sujado a água que ele queria beber.

E isso de fato, é assustador.

Afinal o maior poluidor do mundo, o país que mais crimes cometeu e acobertou, agora, presidido por Trump dá a entender que está perdendo a paciência conosco. E parece que o Tio Sam já se mostra disposto (porque acredita que pode) a tomar na mão grande, na porrada, e com auxílio de golpistas locais, o futuro de todos nós e esperamos que Lula entenda o recado e coloque o Itamaraty em busca disso.

Claramente, precisamos nos antecipar. Ou ao menos reagir.

Se trata, essencialmente, de imaginar o pior cenário e tomar o destino nas mãos. Com algum planejamento, agir preventivamente em relação ao que quer que seja.

 E o pior cenário, aquele onde sempre mais vale prevenir do que tentar remediar, envolverá a confluência de ameaças internas e externas. E elas exigirão ações independentes e simultâneas, de forma a unir o povo e o governo com vistas a um projeto de pais.

No plano internacional, conforme avalia o professor João Cezar de Castro Rocha, precisaremos de articulação com vistas à defesa comum daqueles países que se pretendam autônomos e independentes do Império. Alianças que cumpram de alguma maneira o papel esvaziado da ONU, em defesa da paz global. Neste caminho ele (o professor João Cezar de Castro Rocha) sugere que se faria indispensável a construção urgente, no interior dos Brics, de algo assemelhado ao que já existe na Otan, onde o ataque injustificado a um dos países membros implica em ofensa a todos, a ser respondida por todos.

No plano interno, uma outra ameaça se desenha.

Se trata da captura absoluta do legislativo por alianças golpistas que parecem intencionadas (e que poderiam levar) a mudanças constitucionais facilitadoras da capitulação do país aos interesses de grupos internacionais.

Este caminho para degradação da República, que precisa ser bloqueado, exigirá que mais do que 50% dos senadores, e tantos deputados quanto possível (além dos principais governadores, prefeitos e vereadores), eleitos em 2016 se comprometam com a soberania nacional.

Sem isso, com apoio dos vendilhões da pátria, que avançam sobre aquele espaço da vida republicana, o Império e suas transnacionais podem, através das regras da democracia representativa, se apropriar do que resta de nossas riquezas. Basta ver a aprovação do PL da Devastação (na madrugada do dia 17/7), para entender o que está em jogo.

O dinheiro, que constrói e vende produtos de todo tipo, que direciona as ilusões dos desinformados, que compra consciências, está montando grandes bancadas de parlamentares entreguistas. Por isso, e olhando pelo nosso lado, se faz evidente que as disputas pelo futuro não começaram agora, e estão avançando de nossa parte. E elas exigirão muito empenho, muita dedicação, muito trabalho voluntario.

Portanto, e concluindo: as vitórias desta semana não podem nos iludir. Precisamos ampliar todos os esforços para colaborar com as iniciativas do PLEBISCITO POPULAR, da VIDA ALÉM DO TRABALHO, do 99PORCENTO, da Reforma Agrária Popular, e ir além, assumindo o fato de que as eleições de 2026 já começaram e que ali se dará o embate mais relevante de todos que já vivemos. Aquele momento crucial onde cada um de nós pode fazer a diferença.

Cada povo tem o novo que merece?

Então, vamos à luta.

De Nei Lisboa – Carecas da Jamaica.

Precisamos de senadores dignos de nosso respeito. Sem Anistia, Fora Golpistas!

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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