Nesta segunda-feira (21), os moradores de Praça Seca, na zona oeste carioca, foram surpreendidos por uma troca de tiros entre a Polícia Militar e membros do grupo armado Comando Vermelho (CV). Uma unidade de saúde foi fechada e a circulação de ônibus foi afetada. Já na semana anterior, no dia 15 de julho, uma operação policial no Morro da Serrinha, em Madureira, na zona norte, diante de uma denúncia de roubo de cargas, foi seguida do sequestro de pelo menos 15 ônibus na avenida Edgard Romero para serem usados como barricadas e conter a ação policial.
As duas situações envolvem operações policiais, principais responsáveis por disparos de armas de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, nesta segunda-feira (21). Com uma média de três registros por dia, o primeiro semestre de 2025 acumulou 1.233 disparos por armas de fogo entre janeiro e junho, um número inferior aos primeiros semestres de 2024 e 2023 com 1.346 e 1.778 registros respectivamente. Embora o número de disparos tenha diminuído ao longo dos anos, a participação policial saltou de 26% em 2019 para 41% no primeiro semestre de 2025.
O total de pessoas baleadas no período foi de 816, sendo que 406 morreram e 410 ficaram feridas. No mesmo período do ano passado o total de vítimas foi de 744, sendo 383 fatais. Nos dois períodos mais da metade das vítimas foram atingidas durante operações policiais. Em 2025, a zona norte carioca concentrou 44% dos tiroteios, enquanto a Baixada Fluminense registrou 142 vítimas. Na outra ponta, o centro do Rio registrou 30 tiroteios, 6 mortos e seis feridos.
“É sintomático que os tiroteios caiam, mas aumentem as disputas, aumente a proporção de tiros em ações policiais e com isso aumenta também o número de baleados no Grande Rio. Muitas vezes um indicador pode evidenciar melhora na situação, mas por que as pessoas continuam se sentindo tão inseguras? Ora, porque o domínio territorial, que é o que caracteriza o Rio de Janeiro, ainda gera conflitos em abundância, assim como a própria política de segurança”, avalia Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.
Já o número de conflitos entre grupos armados bateu o recorde da série histórica iniciada em 2017 e alcançou 154 registros, um crescimento de 48% em relação a 2024. Nesses conflitos, 72 pessoas foram baleadas, enquanto no mesmo período do ano passado foram 82. As principais regiões de conflito estão concentradas (57%) em quatro localidades: Morro dos Macacos, Complexo do Fubá, Catiri e Complexo do Juramento. Com 66 tiroteios, o bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, permanece entre os bairros mais afetados pela violência armada. Em 2024, o total foi de 88 registros e o bairro alcançou a primeira posição com o maior número de tiroteios na região metropolitana.
“A gente sabe muito pouco sobre a movimentação dos grupos armados e o real impacto que eles causam na vida das pessoas. Eles normalmente aparecem publicamente quando há apreensões de armas, operações policiais ou prisões. Saber que os tiroteios aumentaram é saber que mais famílias conviveram com eles, que mais jovens passaram por esse trauma. É preciso responder a isso, ter propostas em níveis estadual e federal para esse problema porque ele não é pequeno”, defende Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Instituto.