O ano de 2025 marca os 80 anos da vitória sobre o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas, para o militante comunista histórico e ex-senador italiano José Luiz Del Roio, parte importante dessa história vem sendo apagada. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele critica a tentativa de reduzir o papel da União Soviética e das resistências populares, lideradas em muitos países por comunistas, na derrota do regime de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista e ditador da Alemanha, responsável por iniciar a guerra.
Segundo Del Roio, essa distorção da história tem raízes antigas e foi impulsionada por interesses ideológicos após o fim do conflito. “Já em 1946, Winston Churchill [primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra] copia uma frase de [Joseph] Goebbels [ministro da Propaganda da Alemanha nazista, braço direito de Hitler] que dizia que existia uma ‘cortina de ferro’ que separava a Europa da União Soviética”, lembra. “Aí começou a campanha de tentar diminuir o peso da União Soviética e da resistência armada em mão da Europa Ocidental”
Durante a guerra, a União Soviética (URSS) perdeu cerca de 27 milhões de pessoas, entre civis e soldados. Foi o Exército Vermelho, forças armadas do antigo país socialista, que tomou Berlim, em 1945, o que levou ao suicídio de Hitler e à rendição da Alemanha nazista. Ainda assim, Del Roio aponta que a versão predominante no Ocidente dá destaque quase exclusivo às forças dos Estados Unidos, Reino Unido e França. “Depois a caída da União Soviética [1991], abriram as porteiras. Abrir as porteiras foi uma coisa verdadeiramente horrorosa”, diz ele, referindo-se à ofensiva anticomunista e revisionista.
Del Roio também chama atenção para a destruição de monumentos dedicados a soldados soviéticos em países como Letônia, Estônia e Lituânia, e critica o atual governo da Ucrânia, que, segundo ele, homenageia figuras históricas ligadas ao nazismo. “A ideologia dominante na Ucrânia é pró-nazista, não tem mediação”, critica, citando Stepan Bandera, nacionalista ucraniano que colaborou com os nazistas durante a ocupação alemã.
O militante lembra ainda a força da resistência comunista em diversos países europeus, como Iugoslávia, Grécia e Itália, onde os chamados “partisans”, combatentes populares, tiveram um papel central na luta armada contra os fascistas. “Em Milão, no quarteirão onde eu moro, temos vários monumentos de resistentes que caíram na luta contra o fascismo, ou foram presos e morreram nos campos de concentração, nos cárceres, ou em combate na rua. Grupos passam e põem suas flores, e no dia 25 de abril todos eles são visitados. É assim que se faz uma luta constante para a ideológica e política histórica”, conta, sobre as homenagens ao Dia da Libertação, que celebra o fim da ocupação nazista e da ditadura fascista na Itália.
Del Roio também destaca a importância da preservação da memória como ferramenta de resistência política. “Eles dizem: é melhor esquecer tudo, vamos recomeçar. Não, recomeçar não. Milhões e milhões morreram”, protesta. Ele indica que o mesmo tipo de apagamento aconteceu no Brasil, especialmente durante a ditadura militar (1964–1985), quando até mesmo a participação de brasileiros na luta contra o nazismo foi apresentada de forma distorcida. “Parecia que estavam lutando contra o comunismo. Você não sabia o que foram fazer esses brasileiros na Europa, lutar contra quem”, relembra.
O ex-senador reforça ainda o papel da China na derrota do Eixo, que inclui Alemanha, Itália e Japão. O país asiático enfrentou uma invasão japonesa brutal e perdeu cerca de 20 milhões de pessoas durante a guerra. Segundo Del Roio, diferentemente do Ocidente, a memória da resistência permanece viva entre o povo chinês. “Na China, o respeito à luta anti-japonesa, à luta de libertação, à luta revolucionária até 1949, faz parte da constituição do Estado, sim, mas é da cultura, é da população, senão não era possível avançar”, cita.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.