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‘Meu instrumento é meu corpo’, destaca a cantora Ná Ozzetti sobre sua relação com a música

Cantora paulistana reflete sobre performance, desafios e conquistas em mais de 50 anos de carreira artística

“A música tem que estar dançando dentro de mim”, afirma Ná Ozzetti ao falar de sua relação com a arte que atravessa sua vida há mais de cinco décadas. No episódio 71 do Sabe Som?, a cantora e compositora conversa com o apresentador Thiago França sobre o corpo como extensão da voz, as transformações no cenário musical e a persistência de quem vive da própria arte. “O meu instrumento é meu corpo […]. Com o tempo, fui entendendo que cantar não é só afinação, técnica. É corpo, é emoção, é presença. Cantar é se entregar. E eu me entrego mesmo”, declara a artista.

Com uma carreira iniciada ainda na juventude, com pouco mais de vinte anos, ao lado do Grupo Rumo, Ná Ozzetti relembra os primeiros passos e a efervescência cultural da capital paulista nos anos 1980. “Pra mim era glória”, diz, ao comentar o privilégio de explorar a própria musicalidade numa cidade onde “qualquer som que você faça tem público”.

Apesar das dificuldades enfrentadas por quem insiste em viver de música no Brasil, ela destaca que foi algo sempre prazeroso, especialmente por ter tido “uma infância musical”, como recorda.

Ao longo de sua trajetória, a artista lançou treze álbuns autorais. Ela rememora com carinho o papel que espaços culturais como o Lira Paulistana tiveram na sua formação. “Era meu quintal”, conta. Foi ali que aprendeu, “aos trancos e barrancos a produzir os próprios discos”, prática, que segundo ela, se tornou regra ao longo da carreira.

Figurando como uma das artistas mais experientes da MPB e com olhar atento para as transformações na indústria da música, a artista sublinha a importância de se manter inquieta. “Estar sempre propondo”, segundo ela, é essencial, já que as formas de consumir, compor e se relacionar com a arte mudam a todo instante.

Para além da inovação, Ná Ozzetti também preserva o encantamento pela simplicidade. Segundo ela, “a magia da canção está no casamento de letra com a música”, destacando que, apesar de todo e qualquer avanço tecnológico, composições à moda antiga seguem funcionando.

Nesse caminho entre o novo e o tradicional, Ná Ozzetti reforça que a potência da música é algo que vai além de uma construção rítmica, instrumental com letras e arranjos, organizados de maneira sequencial em um disco, e que, na realidade, “a força não está tanto no disco gravado e, sim, na apresentação ao vivo”.

É no palco, segundo a cantora, que tudo ganha corpo, literalmente. “A dança é fundamental para o meu cantar, e gosto de estar de corpo inteiro no palco. […] Eu fui fazer música porque era onde eu me reconhecia, onde eu conseguia existir. O palco é onde eu posso ser inteira, ser quem eu sou de verdade. Isso pra mim é fundamental”, completa.

No bate-papo com Thiago França, a artista compartilha ainda reflexões sobre os bastidores da carreira artística. Com humor e lucidez, brinca: “A gente ganha mal, mas a gente se diverte”. Mas também reconhece o valor da escolha que fez, ressaltando o “privilégio” que é ser artista.

O podcast Sabe Som? vai ao ar toda sexta-feira, às 10h da manhã,  e está disponível nas principais plataformas de podcast como Spotify e YouTube Music.

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