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Jovem, negra e feminista, Moara Saboia é vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade de Contagem (MG) e integra a direção nacional do partido.

Vitória dos estudantes de Contagem: Parque Fernão Dias vira Parque Cataguás

Mudança mostra que a juventude está disposta a transformar o mundo

Agora é oficial: o nome antigo do Parque Fernão Dias mudou. A Área de Proteção Ambiental (APA) que homenageava o bandeirante paulista passa a se chamar Parque Cataguás, graças à mobilização corajosa e consciente de estudantes do Colégio Santo Agostinho de Contagem.

A Lei nº 25.366, sancionada no dia 21 de julho de 2025, marca uma conquista histórica por memória, verdade e justiça, e revela o poder de transformação quando a mobilização coletiva se organiza e vai à luta por reparação histórica. Foi um movimento muito bonito dos estudantes e fiquei muito honrada de poder acompanhar de perto cada passo que levou a essa vitória do movimento estudantil de Contagem.

Essa vitória tem nome, rosto e escola. Foram os próprios estudantes, provocados pelas aulas de história e pela reflexão sobre a função dos nomes no espaço público, que decidiram agir. Eles procuraram nosso mandato com uma proposta concreta: mudar o nome do parque que homenageava um dos bandeirantes mais assassino do período colonial brasileiro.

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Fernão Dias Paes Leme, conhecido como “caçador de esmeraldas”, foi também responsável pela escravização e o massacre de milhares de indígenas. No rastro de suas expedições pelo interior do Brasil, ficaram dor e destruição. Ainda assim, seu nome seguia estampado em um espaço de preservação ambiental no coração da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ao acolhermos a proposta dos estudantes e de uma escuta pública que realizamos na Câmara Municipal de Contagem, orientamos os caminhos para que a ideia ganhasse força e respaldo institucional nas instâncias de Minas Gerais. Com o apoio das deputadas estaduais Beatriz Cerqueira e Bella Gonçalves, realizamos uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), onde a proposta foi debatida com seriedade, escuta e compromisso, tendo como resultado a Lei nº 25.366, sancionada no dia 21 de julho de 2025, que realiza a mudança do nome do parque.

Mas afinal, por que Parque Cataguás?

A escolha não foi por acaso. O nome homenageia um dos povos originários que habitaram o território mineiro antes da chegada dos colonizadores. Segundo a antropóloga Berta Ribeiro, no livro O Índio na História do Brasil, os Cataguás foram a etnia indígena que mais sofreu com a ação colonizadora na região de Minas Gerais.

Quando os bandeirantes avançaram sobre esse território em busca de ouro, diamantes e outras riquezas, passaram com violência pelos Cataguás, deixando um rastro de destruição. Em 1718, o próprio governador de São Paulo admitiu que “todos os habitantes índios da região das Minas haviam sido exterminados pelos paulistas, sem que a história ao menos registrasse seus nomes!”.

Ao dar ao parque esse novo nome, fazemos exatamente o oposto: registramos, homenageamos, lembramos. É um gesto de reparação e de resistência, um resgate de uma história dos povos indígenas que foi silenciada por séculos.

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Essa mudança não é só simbólica. Ela representa uma inflexão no modo como lidamos com nosso passado e com a presença dos povos indígenas em nossa história. É também um lembrete poderoso de que a juventude está atenta, crítica e disposta a transformar o mundo ao seu redor.

Meus parabéns aos estudantes, professores e toda comunidade escolar do Colégio Santo Agostinho de Contagem. Essa conquista é de vocês. Que ela inspire outros jovens a ocuparem a política com coragem, criatividade e desejo de justiça.

Agora é Cataguás. Agora é memória viva, resistência e reparação!

Moara Saboia é vereadora pelo PT em Contagem e dirigente nacional do Partido.

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

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