Desde os tempos pré-históricos, os seres humanos utilizam a música e a dança como forma de comunicação e expressão. Na verdade, essas duas artes estão presentes em rituais mágicos, religiosos, de relação com a terra e seus fenômenos naturais, bem como de gratidão pela colheita, por exemplo.
Atualmente, essas duas artes produzem inúmeros benefícios para nós, proporcionando saúde física, mental, emocional e espiritual e, com isso, bem-estar e qualidade de vida, além de sensações de prazer, alegria e felicidade.
No verão europeu os festivais se multiplicam e levam multidões para assistir os artistas oriundos das mais diversas partes do mundo e aproveitar a infraestrutura que um evento desta ordem oportuniza.
Dentre estes festivais, o Paléo, que ocorre na pequena cidade de Nyon na Suíça, se destaca e representa um dos maiores eventos culturais do país e um dos maiores do continente europeu, e que promove impactos significativos tanto na economia local quanto na sustentabilidade e diversidade artística.

O Festival Paléo começou no dia 22 e segue até domingo (27). A primeira edição foi há 48 anos na sala comunal da cidade de Nyon com a participação de 1800 pessoas. Na edição de 2025 são esperados 250 mil “festivaleres” como são chamados quem participa do evento que conta com 250 concertos e espetáculos artísticos, sendo que a maioria do público, 62%, são oriundos da Suíça e 38% são de outros países. A maior faixa etária, 20 a 39 anos, dos espectadores do Paléo corresponde a 61% do público.
A infraestrutura montada ao longo dos 80 hectares de terreno para abrigar o festival é impressionante e conta com 136 estandes de comida, 47 bares, 8,5 mil pessoas acampadas diariamente e um orçamento de 33 milhões de francos suíços.
Brasileiras atuam como voluntárias

A cada ano, 5,4 mil voluntários atuam nas mais diferentes áreas do Paléo. Entre eles está a amazonense Maria Eduarda Feitosa que chegou na Suíça em 2004, com 5 anos. É a terceira vez que ela atua como voluntária no Paléo e sempre no setor denominado “La Plage” onde os voluntários colaboram no entretenimento para jovens e adolescentes, buscando que eles possam desfrutar do ambiente festivo e alegre do festival com atividades criativas e interessantes e evitando excessos ou exageros de todas as ordens.
“O que eu mais gosto no Paléo é o ambiente de trabalho entre os voluntários, onde todo mundo é muito próximo um do outro e até parece uma família. Para mim é como se fosse uma pausa no tempo e a criação de um mundo que é só nosso. Todo dia é uma festa, onde realizamos um trabalho importante com alegria e ambiente fraterno”, afirma Feitosa.
A brasileira Barbara Almeida participa pela primeira vez como voluntária do festival. A sua função é percorrer os espaços do Paléo observando os espectadores e as condições que se encontram. Na bagagem de mão ela tem água, camisinha, etiquetas para que pais possam colocar os nomes e telefone nas crianças e com isto elas possam estar mais seguras.
Almeida atuou em diferentes festivais de música no Brasil. “Em festivais como o Rock in Rio, por exemplo, eu nunca vi este trabalho de cuidado com os espectadores como é realizado no Paléo. Para mim é uma experiência incrível atuar neste festival e estar em contato com as pessoas.”
Preocupação com a sustentabilidade
A sustentabilidade é um dos pilares do Paléo e entre suas iniciativas está a triagem de resíduos, utilização 100% de energia verde e totalmente renovável, mercado ético e eco responsável, preservação do solo e da biodiversidade dos 80 hectares. Estas ações concretas e práticas ecológicas foram reconhecidas com o selo internacional Greener Festival.
A organização do festival estabeleceu como meta reduzir em 25% suas emissões de carbono até 2027, quando ocorrerá a 50ª edição do evento. O Paléo deste ano tem a parceria do Greenpeace/Suíça que instalou o estande Protect what you love, um espaço inspirado na floresta que promove descobertas importantes e interativas em prol da proteção do planeta.

Programação eclética e intergeracional
A programação deste ano do Paléo, considerada pelos organizadores eclética e intergeracional, apresenta gêneros como rock, música eletrônica, pop, funk, rap e reggae. Entre os artistas estão Texas, Simple Minds, Will Smith, Julian Doré, Emel, Six Pistols, Frank Carter, Nemo entre outras centenas de diferentes países.
O paulista Lucas Silva Lopez, 20 anos, trabalha nos bastidores da “Grande Scene”, o palco principal do festival, com capacidade para 35 mil espectadores. Segundo ele, trabalhar no Paléo é uma ótima experiência. “Estou tendo uma imersão de como é trabalhar nos bastidores de um show e estou amando. É a realização de um sonho de infância.”
Vilage du Monde apresenta Magrebe
Um dos espaços mais interessantes do Paléo é o “Vilage du Monde” que a cada ano festeja uma região diferente do planeta, onde a música é o fio condutor que leva ao descobrimento de culturas, costumes, trazendo a decoração, barracas de artesanato e comidas que promovem um envolvimento profundo dos “festivaleres”.
Em 2025, o foco é o Magrebe, uma região do mundo de uma rica mistura de influências amazigh, subsaarianas, árabes, otomanas e muitas outras. Uma fascinante mistura cultural enraizada em milhares de anos de história, e de herança milenar com música, gastronomia e ambientação temática inspirada no deserto do Saara. Todos os anos, o Paléo colabora com uma organização local ligada à região de destaque do “Village du Monde”. Este ano será a associação marroquina Zaila que trabalha para preservar a diversidade natural e humana do Saara.
O Brasil iniciou sua participação no Paléo em 2008 com os artistas Silverio Pessoa, Vanessa da Mata e Translucido. Outros artistas brasileiros também subiram aos palcos do festival como João Bosco, Jorge Benjor, Gilberto Gil, Tania Maria, Alceu Valença, Lia de Itamaracá, João Selva, Chico Cesar, Céu e Emicida. Em 2023 o Brasil foi o país homenageado no “Village du Monde” com a apresentação de 15 artistas e bandas brasileiras e a transformação do espaço num pedacinho do país na Suíça com sua cultura, música e gastronomia.
* Jornalista
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
