Mais uma vez, durante o 1º de agosto, as doces oferendas à Pachamama, Madre Terra, serão realizadas com alegria ao redor dos corações carinhosos do continente, que anelam não perder o contato com o antigo gesto da devoção.
As cerimônias campesinas do Alto Ande, preenchidas com beleza e simplicidade, nos lembram que o ofício do carinho pela vida continua, incluso no meio da brutalidade da guerra, da fome, do esquecimento e da superficialidade, na qual nosso planeta parece naufragar.
A devoção à Consciência Maternal da Vida, a que chamamos Pachamama, não é uma crença em uma prática religiosa ou espiritual, ou um tipo de ritual ou liturgia mística.
É realmente um gesto de amadurecimento do coração humano, onde um ser, perante a sua fragilidade e contradição, continua anelando o amor como horizonte de sentido, cuidando da beleza, acreditando na possibilidade do afeto com todos os seres. E, especialmente, deixando que seu gesto transborde em alegria, em agradecimento, em regozijo, porque a Vida, com todos seus presentes, continua apesar do nosso cinismo e nossa distração, se dando (acontecendo) em abundância.

Perante a frieza com que a humanidade ainda se relaciona com as coisas mais delicadas e surpreendentes que existem, nós, os povos andinos continuamos mantendo o gesto da amabilidade, do encontro comunitário e do festejo.
Para quê? Para lembrar que nossa humanidade está feita dessas pequenas epifanias e atos de confiança e gentileza, e que perdê-los é ignorar a possibilidade poética de encarar a existência, e preenchê-la com um sentido mais digno e sensível do que a confiança nas máquinas ou no capital.
“Voltar ao colo da Mãe” não é só uma metáfora, ou um ato apressado que vem de mentalidades apocalípticas ou medrosas. É voltar a nos apaixonar pelos nossos irmãos: humanos, bosques, bichos, rios, paisagens, aceitar sua diferença e singularidade. É sentir que Pachamama somos nós, você, eu, esse documento, este aparelho eletrônico, esse ar que nos circunda, e tudo quanto podemos sentir e perceber nesse instante.
Para os sábios andinos, Pachamama significa “aqui e agora”, o ponto zero onde espaço e tempo se fundem no pulsar dos nossos corações, para emanar a vida que nos respira e sente. Não existe um “Ela”, a Mãe Terra, e um “nós”, os humanos. Há um alento único manifestado de formas diversas e esplêndidas que se entretecem. Juntas, podem criar a realidade da beleza para todos, ou, estar ausentes acreditando na ilusão da separatividade, onde cada um de nós naufraga em sua solidão.
A Pachamama nos respira,
nos envolve,
respira-se, envolve-se.
Tudo é respirado,
envolvido, em Si Mesmo,
por Si Mesmo.
Somos Presença…
na qual Tudo e Nada…
acontece.
Neste 1º de agosto, te convidamos a sair da superstição de que estás separado, de que a Vida não é uma Mãe generosa e amorosa que te cuida e proporciona uma experiência alucinante de vitalidade, e possibilidades infinitas de brincar em tua profundidade a cada alento que recebes.

Vamos, amigo, amiga, celebrar essa inteligência sensível chamada Pachamama, que gosta de carinho, assim como tu gostas de carinho, de abraços, de presentes, de cartas e declarações de ternura.
Talvez seja a humildade e a devoção, como gesto sagrado, o que faça com que a humanidade tenha uma nova oportunidade de florescer após o colapso.
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Participe da rádio especial do Dia de Pachamama e saiba mais sobre nossas raízes latino-americanas! Vamos recuperar as origens ancestrais dessa celebração, conversar sobre a importância de fazer oferendas nessa data e como você pode participar!
* Trinidad Aguilar, ativista da Nación Pachamama
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.