Em seu primeiro álbum solo, Metamorfoses, Riddims e Afins, BNegão traz em a energia de uma verdadeira discotecagem anticolonial. Lançado no fim do ano passado, o artista segue em turnê pelo Brasil produzindo uma mistura de ritmos brasileiros, africanos, árabes e de toda a América do Sul.
Em meio à produção dançante, BNegão não deixa de demarcar politicamente sua trajetória musical. Nesta edição do Conversa Bem Viver, programa do Brasil de Fato, o cantor pioneiro na fusão do hip hop com ritmos brasileiros fala sobre a construção do novo trabalho e a relação com o momento político atual.
“Eu acredito que o disco é informação dançante, sabe? Informação sonora, acho fundamental e está na parada. É um disco contemporâneo com o que está acontecendo exatamente neste momento no Brasil”, comenta o cantor.
O novo álbum aborda temas fortes como a violência policial, guerras pelo mundo, política monetária, entre outros. Entre esse leque de assuntos, têm destaque as críticas ácidas à política neoliberal brasileira.
“A gente precisa ter noção que o governo e todas as coisas têm que funcionar para o povo, para a população. A população não pode ficar sendo sempre esmagada e deixada na pista, sempre sem nada, porque a onda neoliberal é essa. Essa coisa da frente ampla é uma faca de dois gumes absurda, que tem um monte de bandido ali dentro que joga com o governo. Tanto que os caras estão a favor do Trump”, ressalta BNegão.
Confira entrevista na íntegra:
Bora falar do seu novo trabalho, “Metamorfoses, Riddims e Afins”, foi lançado no final do ano passado, mas segue em turnê, rodando o Brasil inteiro com esse novo conceito de música. É o primeiro trabalho autoral solo seu, realmente um marco na carreira de uma pessoa que já transcorreu por tantas bandas, tantos atores. Fala um pouquinho mais desse álbum, na última vez que a gente conversou, tu definiu como música do Sul Global. Fala um pouquinho mais sobre esse conceito para quem perdeu esse papo da última vez.
O disco é o meu primeiro solo, porque, enfim, o Seletores de Frequência foi uma tentativa de solo que acabou virando uma banda. Eu comecei o disco como solo e quando acabou eu entendi que era uma banda, então virou uma banda mesmo. E esse agora eu consegui manter como solo para poder botar as ideias que estavam na minha cabeça.
E essa história da música do Sul Global, eu sou um cara que eu tô ligado à política desde que eu me entendo por gente, por conta de pais ativistas. Desde os cinco anos de idade, eu já entendi o que estava rolando no país, começando a ler jornal, enfim. E com cinco, seis de idade, conversando com meu pai, me explicando as coisas, tenho essa criação de guerrilha. A gente tinha que saber as coisas para não ser engabelado. Eu nasci em 1973, no meio da ditadura.
Então quando eu quis fazer esse disco, eu queria que fosse um disco dançante, um disco que movesse o corpo das pessoas. Nem que seja só a pessoa que bate o pé e e balança a cabeça. Mas o ideal é o corpo todo. Faz mais de 15 anos que minha discotecagem é uma coisa que eu faço no Brasil e no mundo.
A minha discotecagem é anti-colonial, sabe? Ela basicamente é de música brasileira moderna, de agora, misturada com música da América do Sul, música africana e música árabe.
Então esse conceito do Sul Global é uma parada que eu acompanho desde praticamente que ele nasceu, aliás, que por acompanhar a geopolítica, os analistas de geopolítica e todas as coisas que estão acontecendo, eu achei esse conceito sensacional desde sempre, porque a gente precisa ter isso, precisa ter essa noção e essa ideia até como questão de resistência, de combate.
Tem um monte de gente que agora está se ligando que é brasileiro pela questão das sanções do Trump. Ele, com essa merda toda, acaba fazendo um favor, porque dá um choque de mostrar aqui o que é o imperialismo real. “Ah, imperialismo não existe, tá exagerando, que palavra exagerada, não sei o que”. Agora fica na cara, sabe? Mostra na cara quem está pelo povo do Brasil e quem está contra o povo do Brasil.
Acho muito importante tudo o que está acontecendo agora e modéstia à parte, esse disco é uma das trilhas sonoras principais para esse momento. Tem tudo ali no disco, tanto ritmicamente, tem o som daqui do Brasil, som colombiano, som de outros lugares, tem letra falando sobre polícia, sobre violência policial, sobre guerra atômica, falando que estamos aí com a cara querendo entrar na terceira guerra mundial, provavelmente puxado pelos ‘sionazistas’, enfim. E todas essas confusões.
Política, política monetária está tudo no disco, então o disco é uma boa coisa, eu acredito que é informação dançante, sabe? Informação sonora, acho fundamental e isso está, graças a Deus, está na parada. É um disco contemporâneo com o que está acontecendo exatamente neste momento no planeta Terra, do Brasil.
Pensando sobre isso, tu estavas falando do tarifaço do Trump, que vem mudando bastante o panorama geral de algumas pessoas, que a princípio tinham muito mais afinidade com os Estados Unidos e a partir de agora começam a ter um certo tom crítico. E tem uma palavra que agora voltou com bastante força que é soberania nacional, que antes era muito vinculada apenas a movimentos de esquerda e vem se nacionalizando cada vez mais. Eu queria te ouvir um pouquinho sobre isso, pensando principalmente sobre os símbolos nacionais. Te parece que estamos diante de um movimento, de um momento do país que talvez essa retomada de símbolos nacionais possa fazer parte, de fato, das pessoas que estão pensando e querendo proteger o Brasil e fazer com que a gente cresça, não só economicamente, mas socialmente falando?
Acho importante, na verdade é fundamental. Eu já falei isso algumas vezes, mas o meu coração é metade anarquista e metade extrema esquerda. A parte lúdica do que eu acredito como o mais profundo do ser humano, se o ser humano fosse realmente ultra evoluído, o anarquismo seria a parada.
Agora dentro do mundo em que a gente vive, a extrema esquerda é a parada para podermos resolver coisas em larga escala, dentro da minha opinião. E dentro disso, eu via que muita gente abria mão das coisas do Brasil.
Eu sempre penso isso, tanto consciente quanto subconscientemente quem está viajando dessa forma, você tá entregando de mão beijada o Brasil para os vampiros. A gente tem que tá ligado. É por isso que eu faço discotecagem no meu próprio som, no meu solo.
Eu sentia falta disso no próprio Seletores. Achava um som muito mais gringo do que brasileiro e aí eu queria fazer uma parada brasileira, que mexa com a vanguarda popular, que é uma coisa que eu acho importante. E que ao mesmo tempo que aponta o caminho do futuro, ele é presente e também conectado com o som popular para poder fazer o que eu acredito, que é mudança.
Eu só faço música de mudança. E dentro disso eu acho importantíssimo até mais do que os símbolos. Os símbolos são muito importantes. Mas o que eu levo mais fé de tudo é que o Brasil tem que ser feito para o povo, só que essa é a onda. Nunca foi. Nunca foi feito, em nenhum momento. E aí sempre migalhas, no máximo uma coisa aqui e outra ali.
E a gente precisa de ter essa parada, de ter noção que o governo e todas as coisas têm que funcionar para o povo, para a população. A população não pode ficar sendo sempre esmagada e deixada na pista, sempre sem nada, porque a onda neoliberal é essa.
Essa coisa da frente ampla é uma faca de dois gumes absurda, que tem um monte de bandido ali dentro que joga com o governo. Tanto que os caras estão a favor do Trump.
Eu, por mim, nessa história do Trump, não tem que negociar nada com esses caras. Zero, tem que fazer que nem a China, nem ligou pros caras. os caras falaram: “Ah, vamos fazer tarifa”. Então, faz aí. A gente faz aqui também para vocês. Essa coisa da soberania nacional é fundamental.
Eu sou cria de Brizola, Darcy Ribeiro, Milton Santos. Os caras que pensavam o Brasil e o mundo. Quando eu falo sobre a parte musical, a parte do que está sendo dito nas letras e quando eu me manifesto também em entrevistas como agora, é muito fundamental você ter elementos, sacou? E você defender o seu lugar. Você defender o povo do seu lugar.
Eu chego nos lugares e está tocando só som em inglês nas festas. Eu chego lá tocando som em português e a galera, tem um termo que eu acho horroroso, chama Brasilidades. Acho horroroso, porque eu falo: cara, parece que eu sou um gringo que tá estudando música brasileira. Eu sou do Brasil, meu irmão. Não tem Brasilidade, é Brasil. A música brasileira vem em primeiro lugar.
E as pessoas entenderem o que é o Brasil e lutarem por isso aqui e não entregar fácil porque o que eu vejo é isso. Uma grande parte da esquerda também, a chamada esquerda liberal que entrega de bandeja, os caras ficam torcendo para Kamala Harris, torcendo para o Partido Democrata.
Tu falaste muito sobre soberania nacional, sobre defender o nosso povo, colocar o Brasil em primeiro lugar, mas é muito contraditório como o Estado brasileiro é o primeiro a colocar o povo em segundo, em último lugar, quando a gente fala de violência policial, principalmente contra a população marginalizada, contra a população negra. E aí eu queria trazer para o nosso assunto as tais “leis anti-oruam”, que é uma medida que foi concebida aqui no Estado de São Paulo, não foi aprovada, ainda está em discussão na Assembleia Legislativa, mas esse texto já está sendo replicado em várias cidades do Estado e também Brasil afora, que no final das contas, busca proibir que manifestações de apologia a crimes e facções possam ser bancadas pelo poder público em apresentações, sejam em shows, em festivais, mas a gente sabe que no final das contas é uma censura contra o funk e o rap, principalmente. BNegão, como precisamos olhar para essa lei anti-oruam que vem crescendo em várias cidades com mais teor bolsonarista, onde tem o mandatário bolsonarista, uma Câmara Municipal que apoia essa figura do Bolsonaro, que ótica a gente precisa olhar para esse tipo de manifestação política?
A gente tá vivendo um momento que é o seguinte, o Brasil está tomado e hipnotizado por uma bizarrice importada dos Estados Unidos, que é a igreja pentecostal. Esse tipo de parada é muito louco porque está começando a aparecer as coisas que já estavam muito claras lá trás, mas agora aparecendo em forma de documento.
De como na época da ditadura militar, para combater a teologia da libertação, Leonardo Boff, Frei Betto, todo mundo e tal, que estava muito forte na América do Sul inteira essa parada de falar: eu vi Jesus Cristo como um revolucionário, como um cara que dividiu as coisas e querer ser o que o cara era. Algo que a galera finge que faz na igreja católica, mas só fica no discurso.
E os caras pegaram isso para fazer de verdade, dividindo o pão, indo para os lugares para fazer a galera estudar, aprender a ler, aprender a plantar, aprender a se cuidar, dividir as coisas, isso ficou muito grande nos anos 70 aqui na América do Sul e no Brasil.
Vendo isso aí acontecer, que era uma coisa difícil de ser combatida só pelo exército, os caras trouxeram essa igreja pentecostal, que é um empreendimento, não é uma igreja. É um empreendimento ‘sionazi’, sionista, sacou?
Então os caras ficam muito felizes de roubar dinheiro da galera que está querendo ir atrás de Jesus Cristo e coisa do tipo. Os caras são muito felizes em roubar essa galera, de estorquir, de fazer tantos absurdos, tem questão de estupro, questão de milhões de coisas. São caras que são reais demônios, sabe?
Os caras vieram para tomar e assaltar a América do Sul. Não é à toa que eles sempre tiveram bandeira de Israel junto, que é uma coisa que se o cara tinha o mínimo de senso, o cara sabe que não se junta.
E aí os caras conseguiram dominar de norte a sul com uma parada muito sinistra. Eles usam uma coisa chamada programação neurolinguística. Não é só a ideia.
É uma coisa muito sinistra, os caras estão num domínio na cabeça das pessoas, e esse domínio faz com a gente esteja num momento que tem a bancada da Bíblia e da bala, que são a mesma coisa praticamente. E os caras estão no domínio de 30% ali no mínimo, do congresso. Eles têm um peso fodido. O que os cara falarem para fazer, eles vão fazer. Se for falar para se jogar, eles vão se jogar.
É uma coisa assim muito além. Essa lei anti-oruam é um detalhe dentro dessa merda toda, sabe? E toda essa parada que a gente está passando agora, tanto na questão bolsonarista, quanto essa questão pseudo evangélica, as pessoas estão apontando o revólver para sua própria cabeça.
Se a gente não for nessa raiz, a gente vai ficar enxugando gelo. Não tem o que fazer contra a lei Oruam, se não for em cima disso. E essa parada aí tá dentro de um monte de coisa, inclusive dentro da esquerda e dentro da direita. Porque a gente tá falando sobre a questão de violência policial. A polícia mais violenta é a da Bahia, que é do governo do PT há vários anos, não é isso? São várias contradições.
Os caras estão importando drones israelenses, que os caras usam para matar lá para fazer coisas de polícia tanto em São Paulo quanto na Bahia. Como os caras estão fazendo as leis pelo Brasil todo de botar arma na mão dos guardas municipais, que já não estão satisfeitos com a merda toda que acontece de matança, eles estão formando um exército assassino organizado. Então, a gente vai ter que se ligar muito nisso porque o buraco é muito mais embaixo.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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