O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas (MLLC) lançou, durante a 6ª Semana das Ligas Camponesas, a segunda edição da cartilha ‘Povo Marcado para Viver’. O material pedagógico é voltado à educação contextualizada e ao fortalecimento da identidade camponesa. Produzida pelo MLLC com financiamento de emenda parlamentar do Deputado Federal Frei Anastácio, a cartilha foi executada pela Prefeitura Municipal de Sapé (PB) e está disponível gratuitamente em versões impressa e digital.
Educação como ferramenta de luta
A cartilha oferece conteúdos que dialogam com o cotidiano do campesinato brasileiro e propõem atividades pedagógicas alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, valoriza o acervo histórico do Memorial como fonte viva da resistência rural no Brasil.
“É uma correlação direta com o campesinato que resiste, mesmo diante de tantos desafios, de tantas tentativas de silenciar, de arrancar nossas raízes. A gente é, sim, um povo marcado para viver. Inspirada em Elizabeth, que é uma mulher marcada para viver, e nessa nossa contínua rebeldia de insistir em existir e resistir, colocamos esse como o tema da 6ª Semana das Ligas Camponesas e, automaticamente, como tema da nossa cartilha deste ano”, destaca Alane Lima, presidenta do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, para o jornal Brasil de Fato Paraíba.
“Esta cartilha agora compõe o acervo do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, e foi pensada como uma ferramenta para fortalecer a identidade camponesa. Ela traz elementos que dialogam com a educação formal, com a BNCC, voltados para diferentes turmas, séries e disciplinas, mas, principalmente, mostra o quanto o Memorial tem um acervo riquíssimo com ferramentas que fortalecem essa identidade”, acrescenta Lima.
A segunda edição da cartilha é organizada em quatro capítulos principais. O primeiro, intitulado ‘O que é ser camponês e camponesa’, provoca reflexões sobre o modo de vida, os saberes e a cultura do campo. Já o segundo capítulo, ‘Camponeses e camponesas de Sapé: que povo é esse?’, apresenta a história da resistência no município, marcada por lideranças inspiradoras como João Pedro e Elizabeth Teixeira. No terceiro capítulo, ‘O acervo do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas: guardião da memória e da identidade camponesa’, o leitor é apresentado à estrutura e importância do acervo físico e digital do MLLC, como instrumento de preservação histórica. Por fim, o quarto capítulo traz propostas pedagógicas com sugestões de atividades alinhadas à BNCC, voltadas para o Ensino Fundamental (anos iniciais e finais), integrando memória, território e educação.
“O material foi construído de forma bem didática, articulando conteúdos com a BNCC, com propostas de atividades que afirmam a identidade camponesa, ao mesmo tempo em que se conecta com a educação contextualizada. Também traz arquivos, itens e materiais que reafirmam nossa história e que podem ser utilizados por educadores e educadoras. A cartilha está disponível no site do Memorial para download gratuito e teremos mil exemplares impressos que serão distribuídos nas escolas públicas de Sapé”, destaca Lima.
Documentário de 1984
O título ‘Povo Marcado para Viver’ é uma referência ao filme ‘Cabra Marcado para Morrer’, do cineasta Eduardo Coutinho.
O documentário, de 1984, começou a ser filmado em 1964 e tinha como proposta contar a história de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962 na Paraíba. A produção foi interrompida pelo golpe militar de 1964, e as filmagens foram retomadas apenas nos anos 1980, já no processo de redemocratização.
Eduardo Coutinho reconstruiu o filme a partir do ponto de vista da esposa de João Pedro, Elizabeth Teixeira, transformando a obra em um marco do cinema político brasileiro, ao misturar ficção e documentário para refletir sobre a repressão, a luta pela terra e a resistência do povo camponês.
A luta por reforma agrária
As Ligas Camponesas surgiram na década de 1950 como movimentos de trabalhadores rurais organizados na luta por reforma agrária e melhores condições de vida. Atuaram principalmente no Nordeste, com destaque para o município de Sapé (PB), onde João Pedro Teixeira – líder camponês assassinado em 1962 – organizava os trabalhadores. Sua companheira, Elizabeth Teixeira, assumiu a liderança após sua morte, tornando-se um símbolo da resistência camponesa até hoje.
Semana das Ligas – evento repleto de memória e ação
A 6ª edição da Semana das Ligas Camponesas, realizada no município de Sapé, promoveu, entre 21 e 26 de julho, debates, atividades formativas, apresentações culturais e visitas ao Memorial. O evento reuniu camponeses, educadores, pesquisadores, lideranças políticas e sociais.
Um dos momentos mais marcantes da semana foi a outorga do título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) a Elizabeth Teixeira, em reconhecimento à sua trajetória de luta em defesa da terra e da justiça no campo. A homenagem foi celebrada por movimentos sociais, universidades e representantes do poder público.

Acesse a cartilha gratuitamente
A 2ª edição da cartilha ‘Povo Marcado para Viver’ pode ser acessada nos seguintes links:
– Flipbook (visualização horizontal no celular):
– Site do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas:
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