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Vereadora, Presidenta da Comissão dos Direitos Humanos e 1° Adjunta da Procuradoria da Mulher na Câmara de Curitiba

Trabalho ou espetáculo?

Da minha parte, sigo sem prometer nada além de cumprir o que posso: eu estarei lá. Atenta. Comprometida. Para que nada volte a ser como antes.

No dia 4 de agosto, as sessões plenárias da Câmara Municipal de Curitiba serão retomadas, e eu me pergunto: como serão os próximos seis meses no Legislativo?

O que vamos fazer com esse tempo? Como serão conduzidos os debates que realmente importam para a cidade? Que papel nós, vereadores, desempenharemos na construção do novo contrato do transporte coletivo ou na revisão do Plano Diretor? Como atuaremos no acompanhamento das obras do Inter 02 e na fiscalização dos recursos federais que têm sustentado Curitiba? Como vão se portar os vereadores que criticam o presidente Lula em público, mas não perdem a chance de posar para fotos ao lado de programas financiados justamente pelo governo federal?

E os projetos que chegam à Casa? Como será o embate entre um que propõe reconhecer o cuidado doméstico como atividade essencial e outro que quer impedir a formação sobre igualdade de gênero nas escolas?

A atenção do Legislativo vai se voltar para quem? Para os que perseguem artistas e atacam a comunidade LGBT ou para quem se dedica a diminuir a fila da moradia popular? Vamos gastar tempo com polêmicas sobre banheiro unissex em berçário ou com ações de saúde pública que podem salvar vidas nas regiões mais vulneráveis?

A volta do plenário me traz aflição. Porque, andando pelos mesmos lugares por onde sempre andei, continuo vendo a mesma realidade dura. A mesma ausência do básico. A mesma urgência.

Há tanto a ser feito – e, mesmo assim, seguimos desperdiçando tempo, energia e o trabalho técnico de servidores públicos com discursos vazios que servem apenas para construir palanques. Palanques de vereadores que, na prática, pouco se importam com a cidade. Falam de Brasília, bradam contra a corrupção, mas cruzam os braços quando o problema está aqui, ao lado, pedindo solução.

Serão mais seis meses de luta. E eu espero, sinceramente, que esse tempo possa ser de trabalho real – e não de resistência a discursos e posturas que já não cabem mais em 2025. Posturas que não podemos normalizar. E, justamente por isso, não podemos ignorar.

É essencial que a população acompanhe de perto. Que observe quem é quem, como se portam, como votam. Quem trabalha de verdade e quem só faz promessas.

Da minha parte, sigo sem prometer nada além de cumprir o que posso: eu estarei lá. Atenta. Comprometida. Para que nada volte a ser como antes.


*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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