O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o país “assumirá o controle de toda Gaza” estabelecendo zonas tampão, mas que a tarefa de governar o território palestino ficará nas mãos de países aliados. As declarações foram feitas à TV Fox News nesta quinta-feira (7), mesmo dia em que chega a 96 o número de crianças mortas pela fome induzida por Israel na terra palestina.
“Temos a intenção”, respondeu Netanyahu quando o canal lhe perguntou em uma entrevista se Israel tomará o controle de “toda Gaza”. “Não queremos mantê-la. Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governá-la.”
Tal tarefa, diz ele, fica a cargo de uma outra força de ocupação militar a ser formada por países árabes aliados de Israel. “Queremos entregá-la a forças árabes que a governarão adequadamente sem nos ameaçar e oferecendo aos habitantes de Gaza uma boa vida. Isso não é possível com o Hamas.”
Segundo a emissora estadunidense, a entrevista aconteceu pouco antes de Netanyahu participar de uma reunião do gabinete de segurança sobre os planos de guerra em Gaza na qual pediria a ampliação das operações militares, incluindo áreas densamente povoadas onde se acredita que há prisioneiros.
Até 2005 Israel ocupava e governava a Faixa de Gaza, local onde havia assentamentos judaicos ilegais. A saída dos militares israelenses do enclave levou a eleições, vencidas pelo Hamas. Embora a candidatura do grupo tivesse sido permitida, sua vitória nas urnas não foi aceita por Israel, EUA e União Europeia, que instituíram um bloqueio ao território.
O Hamas condenou as declarações afirmando que “o que o criminoso de guerra Netanyahu está planejando é continuar sua abordagem de genocídio e deslocamento” contra os palestinos em Gaza.
“As declarações de Netanyahu representam uma clara reversão do curso das negociações e revelam claramente os verdadeiros motivos por trás de sua retirada da rodada final, apesar da nossa proximidade de um acordo final. Elas confirmam, sem sombra de dúvida, sacrificar os prisioneiros israelenses ainda mantidos no enclave para servir aos seus interesses pessoais e agenda extremista.”
“Afirmamos que Gaza permanecerá desafiadora à ocupação e às tentativas de impor sua tutela. Expandir a agressão contra o nosso povo palestino não será simples, e o preço será alto e custoso para a ocupação e seu exército nazista”, afirmou o Hamas.
Mortos de fome
Autoridades globais de saúde afirmam que em julho o número de crianças sofrendo de desnutrição aguda em Gaza atingiu os níveis mais altos até então, enquanto o cerco israelense continua a estimular o aumento de mortes por fome na Faixa de Gaza.
“Em julho, quase 12 mil crianças menores de cinco anos foram identificadas com desnutrição aguda em Gaza, o maior número mensal já registrado”, disse o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, na sede da OMS em Genebra.
Ele acrescentou que pelo menos 2,5 mil dessas crianças atingiram um nível de desnutrição grave e que 29 crianças menores de cinco anos morreram de fome até 29 de julho. Cerca de 197 palestinos, incluindo 96 crianças, morreram de fome desde o início da guerra, de acordo com autoridades de Gaza.
O exército israelense emitiu novos avisos de evacuação forçada para palestinos em partes dos bairros de Daraj e Tuffah, na Cidade de Gaza.
“Quem ainda não evacuou a área, evacue imediatamente em direção ao sul, para Al-Mawasi, por sua segurança”, escreveu o porta-voz do exército israelense, Avichay Adraee em redes sociais. Israel intensificou o deslocamento forçado do norte de Gaza desde fins de junho, empurrando os palestinos para áreas cada vez menores do enclave. A ONU disse no início do mês passado que Israel havia colocado cerca de 85% da Faixa de Gaza sob ordens de evacuação forçada.