Mesmo após o governo federal encerrar o Programa de Estímulo à Educação Cívico-Militar (PCIM), o modelo segue em expansão no país, e avança até em estados governados pela esquerda. Para Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), essa política “é fadada ao fracasso” e “vai formar uma sociedade cada vez mais autoritária, cada vez menos preocupada com a igualdade social e a justiça social”.
“Qualquer pessoa, qualquer cidadão, e especialmente qualquer governante que acredita que um policial militar é melhor educador do que uma professora e um professor prova duas coisas: primeiro, que não entende nada de educação e, segundo, que não entende nada de segurança pública”, afirma ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Cara, Paraná, São Paulo e Santa Catarina estão entre os estados com maior intenção de ampliar a presença das escolas cívico-militares. No Paraná, já são mais de 300 unidades desse modelo. Em São Paulo, havia a intenção de implementar cerca de 100 escolas cívico-militares a partir do segundo semestre de 2025. Para isso, a Secretaria da Educação publicou um edital para contratar policiais militares da reserva como monitores e monitores-chefes nessas escolas, mas a Justiça do estado suspendeu a contratação. Já Santa Catarina pretende criar mais 15 escolas cívico-militares ainda neste ano.
No entanto, Bahia e Piauí, ambos governados pelo PT, também mantiveram escolas cívico-militares mesmo após o encerramento do programa criado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e estudam expandir o modelo. Para o especialista, isso “demonstra que esse é um problema generalizado” e defende que “não pode acontecer, especialmente em estados em que os governantes têm um compromisso democrático popular”.
“As escolas cívico-militares não demonstram ter mais qualidade. […] A disciplina autoritária não supera a pedagogia”, diz. Ele destaca ainda que, apesar de receberem mais recursos e infraestrutura, as unidades acumulam denúncias de abuso de poder por parte de policiais.
“Os estudantes, cada vez mais, apresentam denúncias de abuso de poder por parte dos educadores, que não são educadores, inclusive, que são policiais, pelos agentes de segurança, que tentam atuar de maneira pedagógica, seja de forma disciplinar, seja interferindo, inclusive, no que ocorre em sala de aula”, indica.
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