Para quem pedala na maior cidade da América do Sul, todos os dias tinham que ser domingo, pois durante a folga do trabalhador e trabalhadora CLT, o fluxo de trânsito é baixo e ainda tem ciclofaixas que ocupam parte das pistas dos carros e você pode andar de bicicleta em pares, conversando com alguém que se desloca com você.
Se você vem a São Paulo como turista e sabe andar de bicicleta, eu recomendo que o faça quando estiver por aqui. Em geral, a infraestrutura nas zonas que mais atraem turistas são boas e conectam os bairros de Pinheiros, Itaim, avenida Paulista, Bela Vista, Ibirapuera, Vila Mariana, Paraíso, Liberdade, República, Santa Cecília, Perdizes e Barra Funda, fechando um circuito que está ligado às ciclovias da Pedroso de Moraes, Faria Lima, Rebouças, Paulista, Consolação, Hélio Pelegrino, República do Líbano, Vergueiro e São João, de modo que a vida para quem está por ali e prefere se deslocar sem queimar gasolina é mais fácil do que aqueles que estão do outro lado das pontes que cruzam os rios Pinheiros e Tietê. Como já abordei neste espaço, fazer a travessia em conforto e segurança é o principal gargalo cicloviário da cidade pois limita o deslocamento de quem está nas periferias.
Mas sendo turista, você nem precisa ter uma bicicleta própria. Pode-se alugar uma do Bike Sampa, aquelas do banco laranjinha, pois nessa região conhecida como Centro Expandido, o sistema de compartilhamento, ainda que seja caro, funciona. Você também pode participar de uns passeios legais promovidos pelo Bike Tour, uma iniciativa do colega Daniel Moral, do Eureka Coworking, que empresta bicicletas a visitantes e os leva a conhecerem pontos de interesse na região da avenida Paulista, Ibirapuera, Centro e Vila Madalena.
Há também aluguel de bicicletas próximo de dois parques importantes: o Ibirapuera e o Villa Lobos. E se você estiver na Zona Leste, pode alugar uma bike aos domingos com o pessoal da Bikes_Tel na ciclofaixa do Parque Tiquatira. E não se pode deixar de mencionar que, durante os sábados e domingos ciclista, também pode colocar a bicicleta nos trens e metrôs o dia inteiro, o que permite fazer um cicloturismo de qualidade, indo para diferentes regiões fora do centro. Há farto material na internet e se você consultar o site do Bike Zona Sul, terá bons roteiros para seguir.
Como tudo que é bom dura pouco, chega a segunda-feira e a realidade se faz presente. Sobra para a minoria bicicleteira que é responsável por 430 mil deslocamentos diários na Região Metropolitana de São Paulo, segundo a pesquisa Origem Destino, do Metrô, uma verdadeira pista de obstáculos. Segundo uma auditoria produzida pela equipe da vereadora Renata Falzoni (PSB), em média um de cada quatro quilômetros dos 730 quilômetros da rede cicloviária da cidade oferece risco grave para quem pedala, seja ele no piso, na sinalização ou na largura.
A sinalização de solo, por exemplo, está em estado precário ou muito precário em 18% dos locais auditados, o que corresponde a 131 quilômetros e 20,5% das vias apresenta pavimento razoável, precário ou muito precário, o que são 150 quilômetros. Não é pouca coisa. Os voluntários que percorreram 1.500 quilômetros também identificaram que 49% dos cruzamentos e interseções com semáforos não são seguras e temos 124 quilômetros de faixas para ciclistas com larguras menores do que o padrão em vigor no país, o que os cicloativistas apelidaram carinhosamente de ciclolinhas.
Para quem vê de fora, o dado oficial de 730 quilômetros pode parecer muita coisa, mas não é. A capital paulista possui 20 mil quilômetros de ruas e avenidas e ainda querem construir mais. Tudo sob a alegação de que mais uma faixa de carros ou uma ponte vai solucionar o trânsito caótico que dizem ter na cidade, um caos que poderia ser evitado com estabelecimento de uma política pública ousada de desincentivo ao uso do transporte individual, mas isso aqui está ficando cada vez mais difícil de acontecer, pois está mais fácil comprar uma motocicleta do que uma bicicleta. É embaçado.
Com este texto, completo um ano de publicações aqui no Brasil de Fato e sinto falta de interagir com o público. Você gosta de minhas colunas? Tem alguma sugestão ou contribuição para fazer? Mande um e-mail para [email protected] e acesse o site jornalbicicleta.com.br, onde mantenho um acervo próprio de notícias desde 2018.