Carta enviada pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF), ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça-feira (12), gerou indignação de parlamentares e moradores da cidade. A reação ocorre um dia após Trump classificar Brasília como uma das capitais mais violentas do mundo, usando dados falsos e desatualizados sobre homicídios para justificar a intervenção federal na segurança na cidade de Washington D.C.
Em discurso feito na segunda-feira (11), Donald Trump anunciou o envio de 800 integrantes da Guarda Nacional à capital norte-americana e utilizou um gráfico para justificar a ação, comparando Washington a cidades como Bogotá, Bagdá, Cidade do Panamá e Brasília. No material apresentado, a taxa de homicídios no Distrito Federal foi apontada como 13 por 100 mil habitantes, número que não corresponde aos dados recentes.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF, a taxa de homicídios registrada em Brasília em 2024 foi de 6,9 por 100 mil habitantes. Em 2023, o índice foi de 12,3. Já Washington D.C., que tem população significativamente menor, registrou 39,8 homicídios por 100 mil habitantes em 2023 e 27 em 2024. Apesar disso, Trump afirmou que a capital dos EUA “triplica” a criminalidade de outras cidades, como Brasília.
Na carta enviada a Trump, Ibaneis Rocha afirma que os dados citados pelo ex-presidente são incorretos e não refletem a realidade da capital brasileira. No entanto, o governador também aproveitou o documento para criticar o governo federal, afirmando que a política externa conduzida por Lula prejudica a imagem do país e contribui para a percepção negativa no exterior. A resposta provocou indignação entre parlamentares da oposição na Câmara Legislativa.
Para o deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF), a postura de Ibaneis foi “absurda” e caracterizada como um gesto de submissão ao ex-presidente americano. Em nota, Magno afirmou que, ao invés de defender Brasília, o governador “fez uma opção política” e se aliou a um discurso que considera ofensivo à soberania nacional. O parlamentar ainda criticou o fato de Ibaneis manter em seu governo Anderson Torres, ex-secretário de segurança que é réu por tentativa de golpe de Estado.
Para ele, o gesto representou uma “manifestação de submissão aos EUA” e uma escolha política “abandona o DF e a população para se curvar aos interesses de um tirano”. Magno criticou o governador por não defender a capital diante de uma acusação externa infundada e acusou Ibaneis de agir com motivações ideológicas.
Vergonhosa e subserviente
O deputado Fábio Félix (Psol-DF), líder do Bloco Psol-PSB, também se manifestou. Ele classificou a carta como “vergonhosa” e disse que Ibaneis tenta transferir a responsabilidade para o governo federal, em vez de reagir de forma contundente à fala de Trump. “Ao contrário do tom oficial adotado pela Secretaria de Segurança, a declaração do presidente dos EUA não tem nada de positiva e precisa ser rechaçada com firmeza”, afirmou.
Felix acrescentou que o governador falhou em cumprir seu papel institucional de proteger a imagem da capital que administra. “É inadmissível que o próprio governador da capital do país não defenda nossa cidade de forma contundente e soberana. A carta beira a bajulação”, concluiu.
Em sessão na câmara legislativa, que ocorreu nesta tarde, o deputado Chico Vigilante (PT-DF) também se posicionou diante das declarações de Trump. Para ele, o presidente norte-americano demonstrou desconhecimento sobre a realidade brasileira ao atacar a capital. “Não sabe o que é Brasília e veio falar de violência. Ele tem que respeitar nossa cidade, respeitar nosso país, nosso povo”, afirmou o parlamentar. Chico ainda reforçou a necessidade de que as lideranças locais tenham postura firme e nacionalista diante de interferências externas.
A resposta de Ibaneis também repercutiu negativamente dentro do governo federal. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, lembrou que o DF é amplamente financiado por recursos da União, especialmente na área de segurança pública, com cerca de R$ 25 bilhões anuais destinados ao Fundo Constitucional e titulou a a carta como “subserviente”.
“Mas se o governador quer mesmo diferenciar de Lula a sua política de segurança de “centro-direita”, é importante lembrar que seu ex-secretário Anderson Torres e sete ex-comandantes da PM do Distrito Federal são réus na Ação Penal do golpe por omissão e cumplicidade com os atentados de 8 de janeiro”, destacou a ministra.
Até o momento, não houve nova manifestação por parte do governo norte-americano ou de representantes do governo Lula sobre o conteúdo da carta enviada por Ibaneis Rocha.