O tarifaço adotado pelos Estados Unidos contra o Brasil tem causado incertezas no comércio mundial e tende a isolar o país norte-americano, enquanto fortalece o bloco do Brics, avalia o professor José Luis Oreiro, do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“O impacto que essa política meio ‘amalucada’ […] tem sobre o comércio mundial é gerar uma enorme incerteza. O empresário […] não sabe qual vai ser a tarifa que vai ter que pagar para exportar para os Estados Unidos no ano que vem porque o [presidente dos EUA, Donald] Trump pode mudar as regras do jogo do dia para a noite. Então, o efeito é recessivo sobre a economia mundial”, explica.
Oreiro destaca que essa postura dos EUA faz com que “os demais países do mundo procurem outros parceiros comerciais para substituir, na medida do possível, o mercado norte-americano”. Ele cita negociações recentes da União Europeia com o Japão e a Índia e o interesse da Coreia do Sul em entrar no acordo União Europeia-Mercosul como exemplos desse rearranjo.
Brics fortalecido
Para o economista, o bloco do Brics – formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que teve adesão de Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Irã e Indonésia nos últimos anos – ganha mais protagonismo diante desse cenário. “Eu acho que os [países do] Brics já estão saindo fortalecidos desse cenário”, avalia.
Oreiro também aponta o potencial do mercado chinês para absorver produtos brasileiros afetados pelas tarifas estadunidenses, ressaltando que o país asiático conta com “um mercado de 1,4 bilhão de pessoas que têm uma renda per capita maior do que a renda per capita brasileira”.
Tarifaço não ameaça economia brasileira
O professor afirma ainda que “o tarifaço do Trump não representa absolutamente nada” para a economia brasileira em termos gerais, uma vez que os EUA são apenas o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China e da União Europeia. Apesar disso, ele ressalta que o governo brasileiro deve agir para proteger as pequenas e médias empresas, que são mais vulneráveis ao impacto das tarifas.
Uma das medidas sugeridas pelo economista é a reativação dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para garantir a renda dos pequenos produtores, especialmente no caso de frutas. “É o momento de se reativar os estoques reguladores da Conab para, então, minimizarmos o impacto sobre esses produtores de frutas”, defende.
Sobre a ajuda do governo condicionada à manutenção dos empregos, Oreiro avalia que “é correta a decisão do governo de condicionar a eventual ajuda à manutenção do nível de emprego”, mas lembra que “a decisão do empresário é que decide o nível de emprego”.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.