O cientista político Rafael Cortez avalia que as alegações finais da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro não devem alterar o rumo do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
“A expectativa mais razoável, à luz do que sabemos hoje, é de um julgamento que acabe levando à condenação do ex-presidente Bolsonaro pelo seu papel no 8 de janeiro e todo esse imbróglio político-eleitoral que o Brasil viveu na transição entre os governos Bolsonaro e o atual mandato do presidente Lula”, diz, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo Cortez, a defesa levanta pontos já analisados e rejeitados pelo STF, como o pedido de anulação da delação do ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, e alegações de cerceamento de defesa.
“Agora é muito mais uma questão do mundo do direito, dos ministros do STF olharem do ponto de vista da legislação penal qual é a punição válida para cada um dos envolvidos. Mas o fato político e o problema concreto do ponto de vista democrático existiu”, afirma.
Acirramento das tensões com EUA
Ele também destaca que a decisão sobre o caso terá repercussões não apenas internas, mas nas relações bilaterais, especialmente com os Estados Unidos. Cortez lembra que autoridades estadunidenses vêm acompanhando de perto o processo, inclusive usando o episódio para justificar medidas econômicas e diplomáticas contra o Brasil.
“O impacto dessa eventual condenação vai ser bastante relevante para a política nacional. Algumas coisas já vamos sentir logo de saída. Outros desdobramentos precisam um pouco de tempo até entendermos de fato o tamanho do impacto dessa agenda”, avalia, acrescentando que a forma como a elite política e os setores econômicos reagirem pode influenciar a intensidade das tensões externas.
Para Cortez, medidas recentes do governo estadunidense, como restrições a vistos de médicos cubanos, aumento de tarifas sobre produtos brasileiros e possíveis pressões ligadas à regulação das big techs, compõem um cenário de atrito que tende a se intensificar. Ele aponta que parte dessa postura tem motivações político-institucionais e que os impactos podem atingir tanto a economia quanto a diplomacia.
“Não parece ter grandes sinais de aproximação ou de melhoria das relações bilaterais Brasil e Estados Unidos”, diz, destacando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem buscado contrabalançar as pressões com articulação multilateral, sobretudo no âmbito do Brics, em vez de priorizar o estreitamento das relações com Washington.
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