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‘Minhas rugas valem ouro’: atriz Denise Weinberg celebra protagonismo e resistência da velhice em O Último Azul

Filme premiado internacionalmente estreia em Gramado nesta sexta (15) e chega aos cinemas do Brasil neste mês

Já premiado internacionalmente, O Último Azul, de Gabriel Mascaro, estreia nas salas de cinema de todo o país no dia 28 de agosto. A produção se passa em um cenário amazônico distópico e será exibida pela primeira vez no Brasil durante o Festival de Gramado, que começa nesta sexta-feira (15). 

Com atuação de Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, entre outros artistas renomados, a trama acompanha a trajetória de Teresa, que desafia a ideia de que idosos podem ser descartados da sociedade e, com mais de 70 anos vividos, se aventura pelos rios da Amazônia.

Sem romantizar a região, o filme mostra as beleza amazônicas sem esconder as contradições presentes no território, como pobreza e falta de suporte para populações em situação de maior vulnerabilidade social.  O longa já passou pelo México e a Alemanha, onde recebeu prêmios como o Urso de Prata, e, em breve, também chegará ao Canadá. 

Denise Weinberg, que interpretou Teresa, conta sobre as inúmeras camadas de reflexão que atravessam a obra. 

O filme é a história de um Brasil meio distópico, mas que é completamente possível. Na trama, o governo assina um decreto em que todos os idosos com mais de 75 anos têm que ser retirados de suas casas e mandados para uma colônia de onde nunca mais voltam, para não atrapalhar a produção dos jovens no trabalho. Isso retrata o pensamento capitalista no seu máximo”, destaca, ao Conversa Bem Viver.

A atriz também relata sobre o processo de produção e gravação do filme, além de comentar sobre como foi impactada pessoalmente e artisticamente por essa vivência. 

Eu vi durante dois meses o nascer e o pôr do sol na Amazônia. Isso é um privilégio. Você volta modificado. Aquele lugar é fantasticamente lindo e fantasticamente assombroso, é misterioso. Quando eu voltei, fiquei um tempo na minha casa em São Paulo olhando para o teto, sem vontade de fazer nada”, compartilha. 

Weinberg tem a expectativa de que a produção toque a população brasileira e ajude a consolidar o processo de valorização do cinema nacional, além de provocar reflexões do público sobre formas diferentes de lidar com a vida em sociedade. “Palmas e prêmios são bons para o ego, mas minha principal expectativa é de que as pessoas saiam de casa para ir ao cinema assistir o filme”.

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato: O Festival de Gramado é o mais antigo ininterruptamente do Brasil. Como estão as expectativas para a estreia?

Denise Weinberg: É um prazer poder entrar no Brasil no tapete vermelho de Gramado. Isso é lindo. O filme está sendo muito comemorado por nós e por quem o assiste. Recebemos um prêmio no Festival do México, em Guadalajara, e a produção vem em uma esteira afortunada. Então, eu acho que também vai bombar aqui, nessa onda em que os filmes nacionais estão agora, ocupando o espaço digno que sempre deveriam ter ocupado. 

Não podemos perder essa maré. Precisamos ir remando para não perder a onda, como dizem os surfistas. Palmas e prêmios são bons para o ego, mas minha principal expectativa é de que as pessoas saiam de casa para ir ao cinema assistir o filme. Não adianta ficar esperando o filme entrar no streaming, porque ele é para ver no telão, tem cenários  e paisagens fantásticos que, no cinema, é outra história.

Eu quero que as pessoas gostem e que tenham um boca a boca muito forte para conseguirmos nos manter em cartaz. Chegar em um festival é abrir uma porta social maravilhosa para o filme, mas logo depois eu sigo para São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Manaus (AM), Capuru e Curitiba (PR), para fazer os lançamentos. 

Iremos fazer uma geral no Brasil falando sobre o filme e dando entrevistas. É importante falar sobre o cinema, que estava tão esquecido, e temos que aproveitar isso. Eu, Gabriel [Mascaro] e Rodrigo Santoro estamos fazendo uma jornada intensa. Queremos que o povo assista e reflita sobre a temática abordada. 

Como foi o processo de gravação do filme? Quais são as diferenças entre atuar no cinema e no teatro?

A jornada mais forte foi no Amazonas, onde eu fiquei dois meses, filmando as cenas todos os dias.  Teatro e cinema são jornadas diferentes. O cinema é mais industrial, mais fábrica, e você tem que ficar ali. Já no teatro, você faz um espetáculo de uma hora e meia ou  duas horas e depois acaba, vai para casa, energiza e dorme. 

O cinema vai sugando, a câmera chupa. Eu dormia cedíssimo. Chegava na pousadinha, dormia e, de manhã cedo, começava novamente. Eu vi durante dois meses o nascer e o pôr do sol na Amazônia. Isso é um privilégio. Você volta modificado. Aquele lugar é fantasticamente lindo e fantasticamente assombroso, é misterioso. 

Quando eu voltei, fiquei um tempo na minha casa em São Paulo olhando para o teto, sem vontade de fazer nada. Voltei com uma alma muito plena. Parecia que eu já tinha feito minha missão. Era como se eu fosse embora aquela hora, eu iria embora feliz da vida.

Esse é o barato de ser artista, de ser atriz. Você volta com uma modificação na cabeça.

Como se desenrolam a trama e o argumento do filme?

O filme é a história de um Brasil meio distópico, mas que é completamente possível. Na trama, o governo assina um decreto em que todos os idosos com mais de 75 anos têm que ser retirados de suas casas e mandados para uma colônia de onde nunca mais voltam, para não atrapalhar a produção dos jovens no trabalho. Isso retrata o pensamento capitalista no seu máximo.

Eu represento uma idosa, a Teresa, que trabalha em uma fábrica de carne de jacaré e que leva uma vida completamente simples. A personagem tem desejos e não quer ir. Ela tem uma insistência, uma coragem. Ela ainda é intensa e  deseja fazer coisas.

Existe na sociedade um preconceito.  Não é porque você ficou idosa que você vai parar de fazer as coisas e ficar em casa vendo televisão no sofá ou fazendo tricô, por exemplo. Existem muitos idosos mais produtivos que os jovens.

Precisamos olhar essa questão, por exemplo, como os indígenas fazem com os velhos, que são tratados como grandes pajés, como os sábios. Ninguém os tira da tribo e joga para escanteio. No Oriente também é diferente.

A cultura que temos é ocidental e capitalista, na qual temos que produzir o tempo todo para alguém vender. Esse é um toque fundamental do filme e precisamos compreendê-lo. Precisamos respeitar os idosos. Eles não são móveis que você pode descartar. 

Então, a Teresa faz uma aventura pela Amazônia, pelos rios, e vai encontrando os outros personagens. E, a cada encontro, ela percebe que existem maneiras de viver de uma forma diferente. 

A resistência, resiliência e energia que ela tem mostram que não é porque você envelheceu que você morreu. As rugas não significam que acabou. Eu, inclusive, já tenho as minhas rugas, que valem ouro. Não tenho nenhum procedimento estético facial. Precisamos valorizar e não querer eternizar a juventude. 

Aos 69 anos, eu não trocaria minha idade jamais para ter 20 anos de novo.  É tão bom envelhecer bacana, fazendo o que gosta, trabalhando e ativa. Isso é um presente. Os neurocientistas falam que quando você perde a curiosidade é que você começa a envelhecer.

A Teresa é curiosa, pulsante. Ela briga e se indigna. É o que falta muito na gente como povo brasileiro. A indignação aqui está longe. 

A linha entre continuar querendo viver e não ser submetido à lógica produtivista é muito tênue. Como construir uma perspectiva diferente de encarar a vida?

O envelhecer te dá a sabedoria de que você não precisa mais ficar correndo atrás. O que você já fez, você já fez. Existem outras opções de ser feliz também. Não é porque você trabalhou a vida inteira com algo que precisa continuar fazendo a mesma coisa. 

Se eu deixar de ser atriz, eu tenho outras coisas que me interessam, que eu estudo.  Eu não vou parar de atuar porque sempre vai ter papel para velho, ainda mais hoje em dia, quando a população do mundo está envelhecendo.

Estão escrevendo muito para os mais velhos e eu acho que tem que escrever mais, porque é uma questão muito forte. Ninguém fica parado olhando para o teto. Estamos pensando, raciocinando, refletindo, lendo. Acho que outra questão é essa aceleração da internet, do celular, na qual você tem que estar sempre conectado. Eu pergunto: conectado com o quê? 

Isso eu vi os indígenas fazendo. Fazíamos tudo de barco, e eles contemplavam. Ficava no barco olhando o rio passar por horas. Imagina se tivéssemos essa paciência. Aqui, as pessoas já não conseguem nem ler uma página. Aquela experiência de ficar olhando a natureza nos alimenta, nos dá paz e serenidade, algo que perdemos com essa compulsão por trabalhar, ser útil, ser aceita, ser promovida, ter carro, etc. O mundo está muito doente.

Nós adoecemos e olha onde chegamos. São guerras para todos os lados, pessoas infelizes, tomando remédio feito água. E ter um outro ponto de vista é como virar o quadro.

Gabriel filmou na Amazônia, mas não uma Amazônia romântica. Tem paisagens lindas no meio para darmos uma respirada. Isso faz parte da direção, para você aguentar o tranco. Depois, volta para a população ribeirinha, mostra a miséria. Se uma criança adoece em uma população ribeirinha, o pai ou a mãe tem que pegar o barco, remar durante uma hora para comprar o remédio na farmácia, e depois voltar por mais uma hora no rio. Não tem delivery.

Eu voltei questionando muita coisa. Já tinha parado de correr atrás, mas continuo trabalhando, e, quando eu fico muito agitada, lembro logo deles, porque é uma pegada extremamente mais saudável. Eles nos olham e não entendem porque somos tão agitados.

No século 20 não deu certo, e estamos agora com as consequências no século 21. O poder e a gana são iguais a uma droga. O dinheiro é que nem droga. Enquanto você não chega lá, sei lá onde é lá, você não fica satisfeito, você quer mais. Isso não tem fim e você não tem serenidade nenhuma. 

O filme provoca esse olhar e é muito interessante tentarmos nos modificar um pouco. Se modificarmos um em uma sessão do filme no cinema, eu já estou satisfeita. Que uma pessoa pense e não apenas saia dali para comer uma pizza apenas. Tem muitas camadas de reflexão no filme

Conversa Bem Viver

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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